30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CARTAS PEDAGÓGICAS

Adriano Vieira

Manifestar-se por escrito, através de cartas era um hábito constante de

Paulo Freire: “uma das formas de comunicação que Paulo tanto gostava”

(FREIRE, 2000, p. 8). Como era próprio desse pensador da prática educativa,

seu pensamento consistia no exercício da coerência com a prática. Daí pensar

sobre o diálogo como exercício rigoroso do pensamento refletido e

compartilhado precisava se apoiar em instrumento coerente. A carta, como

um instrumento que exige pensar sobre o que alguém diz e pede resposta,

constitui o exercício do diálogo por meio escrito. Por isso, referir-se às cartas

pedagógicas implica referir-se ao diálogo, um diálogo que assume o caráter

do rigor, na medida em que registra de modo ordenado a reflexão e o

pensamento; um diálogo que exercita a amorosidade, pois só escrevemos

cartas para quem, de alguma forma, nos afeta, nos toca emotivamente, cria

vínculos de compromisso. Não é por mero acaso que Paulo Freire tem cinco

obras em cujos títulos aparecem a palavra “carta”, a saber: Cartas a Guiné-

Bissau: registros de uma experiência em processo. 1. ed. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 1977; Quatro cartas aos animadores e às animadoras culturais.

República de São Tomé e Príncipe: Ministério da Educação e Desportos, São

Tomé. 1980; Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo:

Olho D’água, 1993; Cartas a Cristina. 1. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

1994 e Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São

Paulo: UNESP, 2000. Além disso, é possível verificar as belas cartas que

Paulo Freire escreveu para distintas pessoas e estão publicadas por Nita

Freire em sua obra Paulo Freire: uma história de vida (São Paulo: Vila das

Letras, 2006).

A forte presença de Paulo Freire na história do século XX demarcou seu

afeto amoroso e comprometido politicamente com a sociedade e o mundo. O

ato de escrever cartas, seus conteúdos profundamente pedagógicos e seu tom

particularmente humano, evidenciam que, para Paulo Freire, ensinar e

aprender no ato de sistematizar, escrever uma carta já é diálogo rigoroso e

exercício da autonomia por antecipar o leitor na própria autoria da escrita.

Baseando-se nessa concepção das cartas freirianas, alguns pesquisadores

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!