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C

CAMPONÊS

Luci Mary Duso Pacheco

A noção de camponês nas obras de Freire (1963, 1970, 1971) está

associada à concepção política que surgiu no Brasil, na década de 1950, com

as ligas camponesas, as quais procuraram dar unidade de classe a uma

população agrária diversa, que não era proprietária de terra nem proletária.

Nesse contexto, o camponês é percebido, além da dimensão econômica,

como sujeito histórico e político, que não possui terra nem é assalariado, mas

compõe um mundo de relações sociais.

A ideia de camponês, que perpassa a obra de Freire, Pedagogia do

oprimido (1970), está associada ao trabalhador rural, humilde, que se

encontra em situação de opressão. O seu opressor, dono da terra, explora a

sua força de trabalho em troca de condições precárias de subsistência. O

camponês, para Freire, necessita descobrir-se enquanto classe oprimida para,

a partir daí, compreender a sua situação de vida e de trabalho, e lutar para

transformar sua realidade.

Na obra Extensão ou comunicação? (1971), Freire destaca a ingenuidade

do camponês e sua relação com o mundo natural, relação tão próxima que

dificulta “ver o admirado em perspectiva” (p. 32). Para Freire, é preciso

pensar em uma forma de educação que contribua para a substituição do

pensamento mágico e condicionado de caráter sincrético-religioso do

camponês em relação às situações cotidianas do seu trabalho, sem substituir a

sua cultura.

Por essa razão, Freire (1971) destaca que os elementos culturais de caráter

sincrético-religiosos presentes nas ações e no pensamento do camponês não

podem ser substituídos pela extensão mecânica do técnico agrônomo, mas

sim por um processo de aprendizagem, pois “só aprende verdadeiramente

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