Palhacos: multiplicidade, perfomance e hibridismo
O livro examina o palhaço entendendo-o como uma manifestação performática destinada a gerar o riso e que esteve presente em diferentes épocas e civilizações, destacando suas características de multiplicidade e hibridismo. Primeiro apresentando palhaços de diferentes sociedades e contextos culturais para, em seguida, analisar a performance de sete grandes palhaços contemporâneos, de origens diversas: brasileiros e estrangeiros, circenses e teatrais, populares e ritualísticos. São eles o senhor Álvaro Marinho, o palhaço Alegria, um autêntico representante do circo tradicional; Karla Concá, palhaça Indiana da Silva, grande referência brasileira no campo da palhaçaria feminina; José Justino da Silva, o Velho Dengoso, legítimo brincante do Pastoril Profano; Fernando Cavarozzi, El Payaso Chacovachi, artista argentino especializado em atuações de rua; Sebastião de Lima, o Mateus Martelo, palhaço da brincadeira popular conhecida como Cavalo-Marinho; Lily Curcio, palhaça Jasmim, que possui uma atuação diversificada e polivalente e; Teófanes da Silveira, o palhaço Biribinha, com sua longa carreira que transcende estilos e gerações. Os dados sobre estes artistas foram reunidos a partir de pesquisa bibliográfica, entrevistas direcionadas, análise de espetáculos, frequência em oficinas ministradas e levantamento documental, realizados durante três anos de trabalho. Como diz a professora Rosyane Trotta, “a linguagem da escrita comprova que Lili Castro preza pela comunicação com o público e traz as análises entremeadas de paisagens, cenas, histórias saborosas de vida”. Zeca Ligiéro, que assina o prefácio, lembra que “um único livro não vai mudar o rumo da história, mas este aqui pode nos ajudar a ampliar a nossa visão ao compreender melhor sobre o “corpo mutante”, a figura multidimensional do palhaço, revelada de forma inteira, fruto de uma pesquisa intensa sobre a sua arte poderosa e ainda tão pouco compreendida pelos que não lhe dão a devida importância”.
O livro examina o palhaço entendendo-o como uma manifestação performática destinada a gerar o riso e que esteve presente em diferentes épocas e civilizações, destacando suas características de multiplicidade e hibridismo. Primeiro apresentando palhaços de diferentes sociedades e contextos culturais para, em seguida, analisar a performance de sete grandes palhaços contemporâneos, de origens diversas: brasileiros e estrangeiros, circenses e teatrais, populares e ritualísticos. São eles o senhor Álvaro Marinho, o palhaço Alegria, um autêntico representante do circo tradicional; Karla Concá, palhaça Indiana da Silva, grande referência brasileira no campo da palhaçaria feminina; José Justino da Silva, o Velho Dengoso, legítimo brincante do Pastoril Profano; Fernando Cavarozzi, El Payaso Chacovachi, artista argentino especializado em atuações de rua; Sebastião de Lima, o Mateus Martelo, palhaço da brincadeira popular conhecida como Cavalo-Marinho; Lily Curcio, palhaça Jasmim, que possui uma atuação diversificada e polivalente e; Teófanes da Silveira, o palhaço Biribinha, com sua longa carreira que transcende estilos e gerações.
Os dados sobre estes artistas foram reunidos a partir de pesquisa bibliográfica, entrevistas direcionadas, análise de espetáculos, frequência em oficinas ministradas e levantamento documental, realizados durante três anos de trabalho. Como diz a professora Rosyane Trotta, “a linguagem da escrita comprova que Lili Castro preza pela comunicação com o público e traz as análises entremeadas de paisagens, cenas, histórias saborosas de vida”.
Zeca Ligiéro, que assina o prefácio, lembra que “um único livro não vai mudar o rumo da história, mas este aqui pode nos ajudar a ampliar a nossa visão ao compreender melhor sobre o “corpo mutante”, a figura multidimensional do palhaço, revelada de forma inteira, fruto de uma pesquisa intensa sobre a sua arte poderosa e ainda tão pouco compreendida pelos que não lhe dão a devida importância”.
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PALHAÇOS
Multiplicidade, performance
e hibridismo
Lili Castro
“Cês podem ir se sentando que a menina tá
um pouco atrasada mas já vem”. Assim
começou a defesa em que a pesquisadora
Lili Castro foi substituída por Dona
Marilene, que subverteu o ritual acadêmico.
Com sotaque mineiro, a palhaça
apresentou aos presentes seu próprio
entendimento sobre a pesquisa que daria
origem a esse livro que você tem nas mãos.
A autora percorreu bibliotecas e estradas,
espetáculos, festas populares e conversas
ao pé do fogão, para nos revelar a multiplicidade
do palhaço — da figura de nariz
vermelho que cai no balde do circo até o
xamã com poder de cura. Seria um
compêndio sobre a palhaçaria, não fosse a
profundidade e a delicadeza do estudo. A
linguagem da escrita comprova que a
criadora de Dona Marilene preza pela
comunicação com o público e traz as
análises entremeadas de paisagens, cenas,
histórias saborosas de vida. O riso do
palhaço liberta, porque subverte hierarquias
e cultiva a autocrítica. E se, como
nos mostra Lili Castro, há um palhaço em
cada cultura, precisamos dele hoje, mais
do que nunca.
ROSYANE TROTTA
Professora do Programa de Pós-Graduação
em Artes Cênicas (UNIRIO)
Lili Castro
PALHAÇOS
Multiplicidade, performance
e hibridismo
Copyright © Lili Castro.
Todos os direitos desta edição reservados
à MV Serviços e Editora Ltda.
revisão
Luciana Goiana
projeto gráfico e diagramação
Patrícia Oliveira
cip-brasil. catalogação na publicação
sindicato nacional dos editores de livros, rj
C351p Castro, Lili, 1978
Palhaços : multiplicidade, performance e hibridismo /
Lili Castro. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Mórula, 2019.
308p. il ; 21 cm
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-65679-95-4
1. Palhaços – História. 2. Representação teatral.
I. Título.
19-58963 CDD: 792.028
CDU: 792.028
R. Teotônio Regadas, 26/904 – Lapa – Rio de Janeiro
www.morula.com.br | contato@morula.com.br
Aos palhaços
SUMÁRIO
7 PREFÁCIO
12 INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1 18 A multiplicidade do palhaço
19 Agenciamentos múltiplos e anéis abertos
27 Branco
29 Augusto
31 As duplas cômicas
35 Os palhaços equestres
37 Contra-augusto
37 Tony
38 Dos mimos e mímicos ao palhaço-mímico
40 O clown teatral
41 O excêntrico musical
44 Bufão
46 Bobo da corte
49 Vagabundo ou Tramp
50 O palhaço tribuno
51 Palhaços-cantores
53 Os palhaços no circo-teatro
57 O circo tradicional brasileiro
59 Palhaços Brincantes
60 O VELHO DO PASTORIL PROFANO
61 OS PALHAÇOS DO CAVALO-MARINHO
64 CAZUMBÁ
65 PAPANGU
65 RAÇÃO E VASSOURA
67 PALHAÇOS DA CARVALHADA
67 AS FOLIAS DE REIS
71 Palhaços Sagrados
73 HEYOKAH
74 KOREDUGAW
74 BONDRÉS
75 KOYÓN
76 HOTXUÁ
78 WIKÉNYI
79 O palhaço de rua
80 Mulheres palhaças e palhaçaria feminina
85 Palhaço humanitário
88 Multiplicidade, performance e hibridismo
CAPÍTULO 2 90 Performances contemporâneas:
mestres e histórias
91 Uma arte performática
92 A PERFORMANCE ART
93 PERFORMATIVIDADE
95 OS ESTUDOS DA PERFORMANCE
99 A performance do palhaço
100 SER, FAZER, MOSTRAR FAZENDO, EXPLICAR COMO SE FAZ
104 COMPORTAMENTO RESTAURADO
106 RITUAL
108 JOGO
110 Performances Contemporâneas
112 BIRIBINHA: UMA TRAJETÓRIA MIGRANTE
139 LILY CURCIO: UMA PALHAÇA POLIVALENTE
157 EL PAYASO CHACOVACHI: UM BUFÃO NO MEIO DA RUA
185 ÁLVARO MARINHO E A ALEGRIA DO CIRCO TRADICIONAL
207 VELHO DENGOSO: UM CÔMICO MAIS QUE PROFANO
224 KARLA CONCÁ E A PALHAÇARIA FEMININA
250 MATEUS MARTELO: UM PALHAÇO DA CARA PRETA
284 A arte do encontro
295 AGRADECIMENTOS
297 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[ PREFÁCIO ]
Um antigo professor do colégio em que cursei o segundo grau vivia citando
frases memoráveis. Uma delas, de fato, não esqueci. De autoria do Nobel de
literatura Bernard Shaw (1856-1950), ela dizia o seguinte: “O único homem
que se comporta de forma sensata é meu alfaiate. Ele tira minhas medidas
novas todas as vezes que me vê, enquanto todos os outros continuam com
suas medidas velhas e esperam que eu caiba nelas”. A primeira vez que falou
isso no meio da aula, eu não entendi bem, mas depois o professor trocou
em miúdos a sua crítica, explicando que a primeira impressão é a que fica,
e sempre ficamos na superficialidade, de que nunca revemos esse primeiro
olhar! Ele destacava que o autor irlandês, de forma bem humorada, percebia
que o alfaiate, ao ser obrigado a tirar as medidas cada vez que iria confeccionar
um novo terno para o freguês, percebia como estava o corpo do seu
modelo de ocasião, se havia engordado ou emagrecido. Anos depois, ao citar
a frase, percebi que poderia haver outras nuances, não notadas pelo meu
professor, nem por mim. Já que ao tirar medidas sucessivas do corpo, poderia
o autor (através da metáfora do alfaiate) perceber um corpo em transformação?
Mesmo que a sua percepção literalmente fizesse referência apenas
ao sistema de medição decimal? Ou ainda, não poderia estar afirmando que
o simples olhar externo não capta o real objeto “corpo mutante” ao dar para
ele uma única e imutável fôrma ou forma? De qualquer jeito, ressalto que a
crítica feita aos homens de seu tempo poderia ser aplicada ainda aos seres
humanos de hoje, cuja percepção final permanece a mesma filtrada e fixada
pelo primeiro olhar.
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Quando pensamos na figura do palhaço, a mesma constatação da visão
primeira, unilateral e estereotipada está presente em nossa imaginação.
Numa primeira instância, pensamos que todos os palhaços saíram da mesma
fornalha, sua imagem padrão é concebida como a de um homem careca,
mesmo sendo cabeludo algumas vezes, com um nariz vermelho, uma cara
pintada, e as roupas exageradamente largas e os sapatos gigantes. E na sua
foto sempre existe uma lona de circo ao fundo, sua eterna moradia. Engano
total. Lili Castro com seu livro Palhaços: multiplicidade, performance e hibridismo,
como o antigo alfaiate do sábio irlandês, vai delicadamente palmilhar
cada elemento do palhaço e sorrir de nossa ignorância de homo sapiens que
não sabe nada. O palhaço não é um, são muitos em um, um de muitos. Pode
ser um tampinha, mas é sempre tamanho família. Não foi gerado por um
único casal, mas parido por milhares de pais e mães espalhados pelo mundo
todo, na maioria dos casos a uma distância de muitas léguas do circo.
Nós, que nos orgulhamos de descender de um povo da banda do Ocidente,
viemos de uma tradição que explora o território do outro pelas beiradas e
sem querer se misturar, enquanto nos misturamos irreversivelmente com
o outro. Em nossa busca de conhecimento sempre partimos da aparência
que nos edifica e nos encanta para procurar uma essência, em que acreditamos
estar a verdade e, assim, para não ver nossos erros, vamos torcendo as
verdades para se encaixarem nos nossos modelos de conhecimentos prévios,
herdados também dos nossos antepassados da “Zoropa”.
Quando os primeiros navegantes europeus retornaram das Américas,
da África e da Ásia, descreveram os mamíferos do sul do planeta como
verdadeiros monstros pré-históricos, assim como os nativos das regiões
subequatoriais foram tratados como bárbaros, primitivos, e chegaram a ser
exibidos em feiras e zoológicos humanos em cidades ditas civilizadas como
Paris, Londres, Berlim, etc., em boa parte da primeira parte do século XX. E
depois disso passaram a figurar em enciclopédias, mapas, gráficos, álbuns
de cromos para nos explicar porque o mundo da escrita era superior ao das
tradições orais (mas isso deve ser um prefácio e não uma tese, então vamos
voltar para o picadeiro para não perder o fio da meada). Em suma, nascemos
nas Américas, mas vivemos como se estivéssemos chegando aqui agora,
com os temores e os preconceitos e a moral do velho continente europeu.
Aquilo de que não sabemos quase nada é justamente o que mais ressalta
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no discurso hegemônico do primeiro olhar, e que tomamos como verdadeiramente
nosso. É precisamente aquilo que os doutos mais se dedicam
a escrever e analisar com suas bagagens bibliográficas e suas enciclopédias
e bulas amarradas no lombo de uma mula ou jumento, como os primeiros
pintores viajantes adentravam nas selvas tropicais. Ou seja, muitos têm sido
os tratados e estudos sobre o cômico, sobre o palhaço, deste ou daquele país
realizado por gente sábia e erudita. Assim o nosso “brincante brazuca” é lido
como “palhaço”, derivado do italiano pagliaccio — o que se veste de palha
ou de roupa de colchão de palha — ou ainda descrito como clown — que
deriva da palavra clov, campesino em inglês. Mas o livro de Lili Castro dá
uma cambalhota maneira em tudo isso e joga fora os rótulos e estereótipos.
Inverte e diverte com a arte, magia e espiritualidade, tudo que só é possível
enxergar quando o mundo está de cabeça para baixo e as pernas para o alto.
Ela vira do avesso no seu ofício de palhaça escritora. E na contramão dos
prévios estudos acadêmicos, a autora não se coloca nunca como uma outsider,
aquela que fica sentadinha na plateia ouvindo o eco de suas risadas e batendo
palma consigo mesma enquanto se diverte com o outro. Não, a mulher é
do picadeiro, ela conta a sua própria história narrando a história de irmãs,
irmãos, e uma parentada toda que não sei como coube no livro. É parente que
não acaba mais. Dona Zefa, a famosa contadora de causo, de palavra afiada,
diria: “é parente para dar com o pau!”. 1
A minuciosa pesquisa de Lili Castro vem revelar as diversas atividades
e atributos do palhaço e suas imensas teias de trocas, desde muito antes
da Internet criar as redes virtuais. Vem de longe na trilha das tradições
orais de nômades, migrantes, desterrados numa profusão de rotas e incessantes
trocas, onde a origem primeira dos palhaços se perdeu nos tempos
imemoriais; se é que não nasceu na alma de cada comunidade, como geração
espontânea, contrariando a biologia humana, e instaurando o humor como
1
Zefa Alves dos Reis (1925-2018), conhecida como Dona Zefa, foi uma artesã e contadora de
histórias da tradição oral brasileira. Nasceu na região fronteiriça entre os estados de Alagoas,
Sergipe e Bahia, e já na idade adulta migrou para Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas
Gerais. Zeca Ligiéro realizou várias entrevistas com Dona Zefa e dirigiu o espetáculo teatral
O evangelho segundo Dona Zefa, protagonizado por Marise Nogueira, com trilha sonora de Edu
Krieger e músicas executadas ao vivo por Raquel Araújo e Chiquinho Rota. Para saber mais
sobre a vida e obra de Dona Zefa veja: (LIGIÉRO, 2011: 89-104) Nota da autora.
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um vulcão que brota da terra para quebrar, interromper a seriedade da guerra
e da opressão que incomoda tanto a mãe natureza.
Sensata como escritora, ela não perde o leitor por causa de uma piada, e
ousada dialoga com filósofos de peso e não dá nó em pingo d’água, mostrando
que o humor é muito mais do que passatempo de desocupado, é coisa realmente
séria, coisa que mexe com as estruturas. Percebendo as diversas
ramificações culturais não como tradições exclusivas, mas processos simultâneos,
entrecruzados ou não, do ser “brincante”, xamã, performer, palhaço,
clown como figura híbrida, polifacetada, presente no largo arco de manifestações
que se estendem do mais remoto ritual ao mais atual entretimento, ela se
torna uma autoridade no assunto. É um luxo só acompanhá-la nesta jornada.
Percebemos em seu trabalho que a arte do riso é muito mais que a fantasia
do riso — a vestimenta que o alfaiate ou a costureira coloca sobre a pele do
performer para esconder a vergonha, o cheiro, as partes pudorentas do corpo;
pois as vestes são usadas também para provocar, com o exagero das suas
formas escatológicas: o deboche, a ironia, o escárnio. Mas ninguém ri verdadeiramente
de uma roupa, mesmo que ela fique em pé sem o corpo humano.
Para falar do palhaço, é do corpo humano, universal e imerso em linguagens
comunitárias, que ela se ocupa com destreza. Levanta grandes encontros
entre ritual, dança, música, entretenimento em várias civilizações, onde
esses personagens que nos atormentam pela sua comicidade aparecem em
diversos papéis sociais.
O encontro com o palhaço nos fascina e provoca nossos sentidos abrandando
nossa lógica cartesiana. E o riso brota de onde menos esperamos. E
nos contagia até mesmo quando o palhaço começa a rir de nossos próprios
defeitos que não admitimos, mas que mesmo sem querer, “caímos na gargalhada”
ou “nos mijamos de tanto rir” ou até em casos extremos, “morremos
de rir”. Experimentamos momentaneamente a perda do ar e a morte do que
consideramos ser o indivíduo, o ego, porque o riso assume o comando do
corpo, e temos convulsões, espasmos, tremuras e podemos até “rolar no
chão de tanto rir”.
Mesmo numa prisão se pode explodir de riso, ele brota do inesperado
com a força que o corpo não consegue esconder de si, o escárnio inerente
do que é risível, de que é feito à própria alma do ser humano, em que o ser se
revela inteiro, desprovido de pose e de posse, o riso deixa a espinha dorsal
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desconsertada, sem eixo próprio, como uma minhoca desgovernada. E, por
segundos, as regras e as opressões do mundo são suprimidas por um contagioso
e fraternal abraço sonoro em forma de gargalhada. O fluxo sanguíneo
da percepção corporal interrompe o pensamento moralista, desnudando-o
e colocando abaixo o que não se sustenta mais. Conceitos caem no chão e
se quebram. O mundo que concebemos é momentaneamente destroçado,
despedaçado, inútil. O dique do riso explode simultaneamente sobre nós e
dentro de nós. Por segundos, experimentamos uma liberdade de rir de tudo
e de todos, como se não nos importássemos mais se o mundo vai acabar ou
não. Gargalhamos, por minutos, às vezes por apenas alguns segundos, apenas
com a duração de uma existência.
Rimos do palhaço porque ele faz tudo que gostaríamos de fazer, mas não
temos coragem. Por isso o palhaço é temido, não por sua aparência estapafúrdia
da qual nos defendemos colocando-o dentro do traste, do roto,
do exagerado, estupidez feita sob medida por nossos alfaiates. Tememos
o palhaço pelo seu contágio subversivo, sobretudo pelo que ele provoca na
pessoa, o que nos lembra em nós, no nosso corpo relaxado, aberto, sensível,
muitas vezes quase em êxtase, somos pegos no flagrante, nos surpreendendo
com o nosso corpo fora do nosso controle, aceitando finalmente a fraternidade,
a sinceridade, a honestidade, a liberdade, a humildade, a predisposição
para amar com os verdadeiros motivos da existência humana.
Sabemos que um único livro não vai mudar o rumo da história, mas este
aqui pode nos ajudar a ampliar a nossa visão ao compreender melhor sobre
o “corpo mutante”, a figura multidimensional do palhaço, revelada de forma
inteira, fruto de uma pesquisa intensa sobre a sua arte poderosa e ainda tão
pouco compreendida pelos que não lhe dão a devida importância.
Senhoras e senhores, tenham a bondade de ocupar seus lugares, com
vocês o fabuloso livro Palhaços: multiplicidade, performance e hibridismo de
Lili Castro. Podem começar a folhear e bom espetáculo!
z eca lig i é ro
Professor do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC — UNIRIO)
Coordenador do Núcleo de Estudos das Performances Afro-Ameríndias da
UNIRIO (NEPAA)
11
1ª edição
impressão
papel miolo
papel capa
tipografia
agosto 2019
rotaplan
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cervo e freight
LILI CASTRO é palhaça, atriz, pesquisadora e
escritora. Mestra em Artes Cênicas pela
UNIRIO, especialista em História da Cultura
e da Arte pela UFMG. Mineira radicada no Rio
de Janeiro, dedica-se às artes desde 1997.
Sabemos que um único livro não vai mudar
o rumo da história, mas este aqui pode nos
ajudar a ampliar a nossa visão ao compreender
melhor sobre o “corpo mutante”, a figura
multidimensional do palhaço, revelada de
forma inteira, fruto de uma pesquisa intensa
sobre a sua arte poderosa e ainda tão pouco
compreendida pelos que não lhe dão a devida
importância. Senhoras e senhores, tenham
a bondade de ocupar seus lugares, com vocês
o fabuloso livro Palhaços: multiplicidade,
performance e hibridismo de Lili Castro. Podem
começar a folhear e bom espetáculo!
DO PREFÁCIO DE ZECA LIGIÉRO
ISBN 978856567995-4
9 78 8 5 6 5 6 7 9 9 5 4