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Apóstolo do pulchrum<br />
Fascínio do desconhecido, do<br />
misterioso e do sublime<br />
Noutra pintura, Claude Lorrain representa um<br />
porto de mar sob um céu cujo colorido é parecido<br />
com o que já analisamos: um azul muito tênue com<br />
um mundo de pequenas nuvens que, nos seus pontos<br />
mais densos, tendem a ficar um pouco escuras.<br />
De maneira que se tem a bonança, mas também algo<br />
que de longe prenuncia uma tempestade, insinua<br />
uma preocupação.<br />
Ao lado vê-se um bosque exuberante, com árvores<br />
muito altas que insinuam ao espírito a ideia do frescor e<br />
da harmonia da natureza ao pé dessas árvores.<br />
Encontramos também dois prédios faustosos, ao gosto<br />
renascentista. O edifício bem junto ao cais pode ser<br />
perfeitamente uma igreja, como também um tribunal ou<br />
qualquer outra repartição pública. Ele está sobre uma<br />
pedra que o defende contra o mar.<br />
O outro edifício está sobre uma espécie de patamar<br />
de onde se erguem as colunas encimadas por um terracinho,<br />
de maneira que alguém pode sair do prédio e contemplar<br />
dois tipos de paisagens: a próxima e a remota<br />
que, por sua vez, apresentam os dois aspectos da vida de<br />
navegação os quais Claude Lorrain quis tornar presentes<br />
nesta obra.<br />
Em primeiro lugar, a caravela muito bonita. Notem<br />
a elegância das bandeirolas tremulando no topo dos<br />
mastros, no alto dos quais há uma espécie de terracinho<br />
para ficarem os vigias, e a beleza das velas enroladas<br />
num oblíquo elegante e distinto. Percebe-se a<br />
madeira faustosamente trabalhada da proa desse navio.<br />
Faz-nos reportar às viagens distantes das caravelas<br />
que iam buscar princesas no Báltico para se casarem<br />
em Nápoles, ou pegar ouro nas Américas para levar<br />
aos portos do Mar Mediterrâneo ou da Península<br />
Ibérica; enfim, caravelas que passavam por todas<br />
as aventuras, singrando todos os mares e cuja saga é<br />
lembrada pelo Sol que se perde no horizonte e cujo<br />
reflexo é mais nítido na água do que no próprio céu.<br />
Tem-se a impressão de um infinito que vai se prolongando<br />
e do qual a caravela vem trazendo todos os mistérios,<br />
todas as mercadorias, todos os estrangeiros,<br />
todas as narrações de aventura dos vários países onde<br />
ela esteve. É o fascínio do desconhecido, do misterioso<br />
e do sublime.<br />
Ao fundo há alguns navios de travessia menor, mas<br />
que também lembram as grandes navegações, de certo<br />
modo.<br />
Mais perto do porto vemos um formigar de barquinhos.<br />
É a vida comercial e social aqui representada: gente<br />
que vai pegar as riquezas das caravelas e levar para a<br />
terra, ou recolher viajantes, muitas vezes ilustres, e conduzi-los<br />
até o cais.<br />
Acaba de chegar um personagem de prol? Há um grupo<br />
de pessoas que o acompanha; alguém anda solícito,<br />
procurando ajudar. É uma cena de certa distinção. Inclusive<br />
está posto do lado de fora um tapete diante do<br />
edifício que bem pode ser um palácio.<br />
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