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Revista Dr Plinio 279

Junho de 2021

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Apóstolo do pulchrum<br />

Fascínio do desconhecido, do<br />

misterioso e do sublime<br />

Noutra pintura, Claude Lorrain representa um<br />

porto de mar sob um céu cujo colorido é parecido<br />

com o que já analisamos: um azul muito tênue com<br />

um mundo de pequenas nuvens que, nos seus pontos<br />

mais densos, tendem a ficar um pouco escuras.<br />

De maneira que se tem a bonança, mas também algo<br />

que de longe prenuncia uma tempestade, insinua<br />

uma preocupação.<br />

Ao lado vê-se um bosque exuberante, com árvores<br />

muito altas que insinuam ao espírito a ideia do frescor e<br />

da harmonia da natureza ao pé dessas árvores.<br />

Encontramos também dois prédios faustosos, ao gosto<br />

renascentista. O edifício bem junto ao cais pode ser<br />

perfeitamente uma igreja, como também um tribunal ou<br />

qualquer outra repartição pública. Ele está sobre uma<br />

pedra que o defende contra o mar.<br />

O outro edifício está sobre uma espécie de patamar<br />

de onde se erguem as colunas encimadas por um terracinho,<br />

de maneira que alguém pode sair do prédio e contemplar<br />

dois tipos de paisagens: a próxima e a remota<br />

que, por sua vez, apresentam os dois aspectos da vida de<br />

navegação os quais Claude Lorrain quis tornar presentes<br />

nesta obra.<br />

Em primeiro lugar, a caravela muito bonita. Notem<br />

a elegância das bandeirolas tremulando no topo dos<br />

mastros, no alto dos quais há uma espécie de terracinho<br />

para ficarem os vigias, e a beleza das velas enroladas<br />

num oblíquo elegante e distinto. Percebe-se a<br />

madeira faustosamente trabalhada da proa desse navio.<br />

Faz-nos reportar às viagens distantes das caravelas<br />

que iam buscar princesas no Báltico para se casarem<br />

em Nápoles, ou pegar ouro nas Américas para levar<br />

aos portos do Mar Mediterrâneo ou da Península<br />

Ibérica; enfim, caravelas que passavam por todas<br />

as aventuras, singrando todos os mares e cuja saga é<br />

lembrada pelo Sol que se perde no horizonte e cujo<br />

reflexo é mais nítido na água do que no próprio céu.<br />

Tem-se a impressão de um infinito que vai se prolongando<br />

e do qual a caravela vem trazendo todos os mistérios,<br />

todas as mercadorias, todos os estrangeiros,<br />

todas as narrações de aventura dos vários países onde<br />

ela esteve. É o fascínio do desconhecido, do misterioso<br />

e do sublime.<br />

Ao fundo há alguns navios de travessia menor, mas<br />

que também lembram as grandes navegações, de certo<br />

modo.<br />

Mais perto do porto vemos um formigar de barquinhos.<br />

É a vida comercial e social aqui representada: gente<br />

que vai pegar as riquezas das caravelas e levar para a<br />

terra, ou recolher viajantes, muitas vezes ilustres, e conduzi-los<br />

até o cais.<br />

Acaba de chegar um personagem de prol? Há um grupo<br />

de pessoas que o acompanha; alguém anda solícito,<br />

procurando ajudar. É uma cena de certa distinção. Inclusive<br />

está posto do lado de fora um tapete diante do<br />

edifício que bem pode ser um palácio.<br />

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