Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Para melhor compreender a beleza desta obra de arte,<br />
é preciso ter tomado o gosto pelas ruínas e se pôr na perspectiva<br />
do belo tipicamente italiano. Alguns dos monumentos<br />
estão de tal maneira em ruínas que as pedras da<br />
parte de cima caíram, e no lugar nasceu uma vegetaçãozinha<br />
que não o enfeita nem um pouco. Em meio a tudo isso<br />
estão os camponeses se divertindo, conversando.<br />
Notem, entretanto, uma árvore de um formato até<br />
um pouco extravagante, mas com uma vegetação bonita,<br />
felpuda; ela tem um lance muito nobre e seus galhos<br />
pendem com muita dignidade e distinção. É uma árvore<br />
muito cortesã, por assim dizer.<br />
As colunas, apesar de constituírem ruínas, estão bem<br />
conservadas, e sobre elas incide uma luz muito bonita<br />
iluminando-as com distinção, de maneira a se ter quase<br />
a impressão de que são de pedra preciosa ou revestidas<br />
de alguma seda.<br />
A ruína de um monumento, com três colunas e um<br />
frontão em cima, é muito bonita também. Essas colunas<br />
são esguias, distintas, nobres. Os arcos sólidos, vigorosos,<br />
fazem pensar nos desfiles das legiões romanas vitoriosas,<br />
que vinham trazendo milhares de vencidos de<br />
guerra, acorrentados e que iam ser levados ao Capitólio<br />
para a cerimônia faustosa e terrível do triunfo romano,<br />
na qual o rei adversário seria morto. Ele vinha a pé<br />
e acorrentado como um escravo, para ser executado no<br />
Capitólio.<br />
Beleza especial em apreciar o passado<br />
Vê-se também um prédio romano abandonado, mas<br />
que conserva todas as colunas de sua fachada ainda em<br />
pé. Ao lado, um casario modesto, popular. Mais adiante,<br />
uma igreja católica em estilo românico que deve datar<br />
de antes da Idade Média, talvez um pouco depois, quiçá<br />
seja da Renascença, com uma torre, tendo em torno um<br />
convento ou um casario.<br />
Os homens daquele tempo julgavam haver uma beleza<br />
especial em apreciar o passado, tendo o curso dos séculos<br />
transcorrido em cima. De maneira que, sobre toda<br />
a grandeza e a desgraça do Império Romano, tinham decorrido<br />
séculos e séculos de abandono, de desmantelamento,<br />
deixando ver, ao mesmo tempo, a magnitude e o<br />
efêmero das coisas desta Terra.<br />
Então, as pessoas se punham a pensar, rememorando<br />
fatos, fazendo filosofia da História, sob um<br />
céu de um azul muito delicado e com umas nuvens<br />
que já podem ser chamadas de pré-românticas. Elas<br />
não obscurecem o firmamento, mas são um pouco<br />
obscuras e introduzem na paisagem qualquer coisa<br />
de melancólico.<br />
Em um dos quadros parece estar representado um<br />
personagem característico das paisagens italianas: um<br />
mendigo. Mas que mendigo saudável, inteligente! Que<br />
sabe tirar partido da despreocupação, do incerto e do<br />
aventureiro de sua vida. Dois homens do povo conversam<br />
com o mendigo, sobre chuva e bom tempo, sobre<br />
tudo e nada; é a vidoca de todos dos dias que continua<br />
aos pés das faustosas ruínas que os homens cultos admiram.<br />
33