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Revista Dr Plinio 279

Junho de 2021

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Para melhor compreender a beleza desta obra de arte,<br />

é preciso ter tomado o gosto pelas ruínas e se pôr na perspectiva<br />

do belo tipicamente italiano. Alguns dos monumentos<br />

estão de tal maneira em ruínas que as pedras da<br />

parte de cima caíram, e no lugar nasceu uma vegetaçãozinha<br />

que não o enfeita nem um pouco. Em meio a tudo isso<br />

estão os camponeses se divertindo, conversando.<br />

Notem, entretanto, uma árvore de um formato até<br />

um pouco extravagante, mas com uma vegetação bonita,<br />

felpuda; ela tem um lance muito nobre e seus galhos<br />

pendem com muita dignidade e distinção. É uma árvore<br />

muito cortesã, por assim dizer.<br />

As colunas, apesar de constituírem ruínas, estão bem<br />

conservadas, e sobre elas incide uma luz muito bonita<br />

iluminando-as com distinção, de maneira a se ter quase<br />

a impressão de que são de pedra preciosa ou revestidas<br />

de alguma seda.<br />

A ruína de um monumento, com três colunas e um<br />

frontão em cima, é muito bonita também. Essas colunas<br />

são esguias, distintas, nobres. Os arcos sólidos, vigorosos,<br />

fazem pensar nos desfiles das legiões romanas vitoriosas,<br />

que vinham trazendo milhares de vencidos de<br />

guerra, acorrentados e que iam ser levados ao Capitólio<br />

para a cerimônia faustosa e terrível do triunfo romano,<br />

na qual o rei adversário seria morto. Ele vinha a pé<br />

e acorrentado como um escravo, para ser executado no<br />

Capitólio.<br />

Beleza especial em apreciar o passado<br />

Vê-se também um prédio romano abandonado, mas<br />

que conserva todas as colunas de sua fachada ainda em<br />

pé. Ao lado, um casario modesto, popular. Mais adiante,<br />

uma igreja católica em estilo românico que deve datar<br />

de antes da Idade Média, talvez um pouco depois, quiçá<br />

seja da Renascença, com uma torre, tendo em torno um<br />

convento ou um casario.<br />

Os homens daquele tempo julgavam haver uma beleza<br />

especial em apreciar o passado, tendo o curso dos séculos<br />

transcorrido em cima. De maneira que, sobre toda<br />

a grandeza e a desgraça do Império Romano, tinham decorrido<br />

séculos e séculos de abandono, de desmantelamento,<br />

deixando ver, ao mesmo tempo, a magnitude e o<br />

efêmero das coisas desta Terra.<br />

Então, as pessoas se punham a pensar, rememorando<br />

fatos, fazendo filosofia da História, sob um<br />

céu de um azul muito delicado e com umas nuvens<br />

que já podem ser chamadas de pré-românticas. Elas<br />

não obscurecem o firmamento, mas são um pouco<br />

obscuras e introduzem na paisagem qualquer coisa<br />

de melancólico.<br />

Em um dos quadros parece estar representado um<br />

personagem característico das paisagens italianas: um<br />

mendigo. Mas que mendigo saudável, inteligente! Que<br />

sabe tirar partido da despreocupação, do incerto e do<br />

aventureiro de sua vida. Dois homens do povo conversam<br />

com o mendigo, sobre chuva e bom tempo, sobre<br />

tudo e nada; é a vidoca de todos dos dias que continua<br />

aos pés das faustosas ruínas que os homens cultos admiram.<br />

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