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goza de esplêndida saúde, sempre<br />
bem penteado, bem vestido, rico e<br />
não querendo saber de tristezas. A<br />
alegria é que lhe embeleza a vida, a<br />
qual se obtém com o dinheiro. Logo,<br />
o importante são o dinheiro e os<br />
negócios. Assim, boa saúde, vida cômoda,<br />
gargalhadas, dança e ouro caracterizam<br />
a nova época; é o homem<br />
utilitário.<br />
O bilontra, o “almofadinha”,<br />
o “tubarão”,<br />
o homem mecânico<br />
Ao lado do dandy surge o tipo<br />
burguês, que mais uma vez encontrou<br />
num membro da Casa Real da<br />
França a sua expressão: o Rei Luís<br />
Felipe, que passou para a História<br />
com o título de “rei guarda-chuva”.<br />
É tipicamente o burguês, e não<br />
o dandy. Este tem muito de estouvado<br />
e de aristocrático, enquanto que<br />
o burguês é gorducho, bem instalado<br />
na vida, sólido, com roupas resistentes,<br />
realista, não se ocupa com<br />
Literatura nem com Política, e muito<br />
menos com ideias, só se interessa<br />
por dinheiro, economiza e acumula.<br />
Sua casa é grande e confortável, tudo<br />
é sólido e estável, possui grandes<br />
propriedades no interior, explora estradas<br />
de ferro. Começa a fazer negócios<br />
na Ásia e na África, que lhe<br />
dão muito dinheiro.<br />
Há, por outro lado, uma espécie<br />
de genealogia pela qual o dandy do<br />
tempo em que Chateaubriand era<br />
velho deu num outro tipo: o bilontra.<br />
Este era sucessor do dandy ao estilo<br />
francês: cabelo cheio de pomada, bigode,<br />
monóculo preso com uma fita<br />
de veludo, polainas com feltro, bengala<br />
e cintura bem apertada. Conhecia<br />
todas as artes de salão, bem mais<br />
negocista que seu antecessor, porém<br />
muito mais pobre, mesmo porque a<br />
vida de sociedade tornara-se cada<br />
vez mais ruinosa. Sabia, entretanto,<br />
viver de expedientes. O bilontra daquele<br />
tempo deu no “almofadinha”<br />
Rei Luís Felipe - Palácio de Versailles<br />
de 1920, o qual por sua vez produziu<br />
o grã-fino bem aprumado.<br />
O homem de negócios também<br />
teve sua genealogia. O homo economicus<br />
do século XIX deu no “tubarão”<br />
de hoje. Por sua vez, os que naquele<br />
tempo não eram nem uma coisa<br />
nem outra, o político, o funcionário<br />
público ou o pequeno burguês<br />
deram no robot de nossos dias, o homem<br />
mecânico, a quem se ordena e<br />
ele faz.<br />
Esta é a evolução que, no plano<br />
A, nos levou do cavaleiro andante,<br />
ainda com a cabeça cheia de quimeras<br />
de uma cavalaria laicizada e a caminho<br />
da imoralidade, até o playboy<br />
do século XX.<br />
É muito importante notar que a<br />
história dessa decadência poderia<br />
ser a história de um homem. Muitos<br />
decaíram assim, começando como<br />
bastante bons católicos, para depois<br />
passar a um sentimentalismo<br />
que os levou a amarem damas nas<br />
nuvens do mais puro amor. Deste estágio<br />
passaram a gozadores da vida,<br />
conservando, no entanto, certa linha<br />
e certo estilo, que também vieram a<br />
perder até chegarem à mais complewww.photo.rmn.fr<br />
(CC3.0)<br />
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