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os exércitos se deslocassem. Apenas<br />
a sua presença criava um ambiente.<br />
Teve artistas para que construíssem<br />
em torno de si toda uma civilização.<br />
Jardins, tapeçarias, espelhos,<br />
palácios, músicas, danças, tecidos,<br />
homens, tudo foi moldura para a sua<br />
pessoa. Em uma palavra, um verdadeiro<br />
super-homem dominando a todos<br />
e a tudo, mas tendo já longe de<br />
si o Céu, para o qual os homens não<br />
mais voltavam os olhos, a não ser para<br />
o céu – o firmamento – a fim de<br />
fazer estudos de astronomia...<br />
wartburg.edu (CC3.0)<br />
O homem segundo o espírito<br />
e o estilo de Luís XIV<br />
Esta espécie de epicurismo bem<br />
se exprime num episódio da história<br />
de Luís XIV, em que a França atravessava<br />
um longo período de paz. Os<br />
húngaros foram atacados pelos turcos.<br />
E como os franceses do tempo<br />
gostavam de combater – e a França<br />
vivia a sua grande época de glória<br />
militar –, um destacamento de<br />
nobres franceses, chefiados por um<br />
príncipe da Casa Real, pediu licença<br />
ao rei para ir combater na Hungria.<br />
Ao chegar o dia da batalha contra<br />
os turcos, os franceses se apresentam<br />
em ordem de combate: cabeleiras<br />
frisadas e empoadas, e elegantes<br />
em seus cavalos. Os turcos,<br />
que os olham de longe, veem aquela<br />
carga avançar e pensam que se trata<br />
de um exército de moças; não lhe<br />
dão importância. E aquelas “moças”<br />
se abatem sobre os turcos como um<br />
turbilhão e os derrotam no primeiro<br />
ataque.<br />
Era bem o homem do tempo.<br />
Quase tão gracioso como uma dama,<br />
quase tão heroico como uma figura<br />
mitológica, guerreiro e bailarino<br />
ao mesmo tempo, e capaz, além<br />
do mais, de conversar como um letrado.<br />
Era o homem segundo o espírito<br />
e o estilo de Luís XIV.<br />
Neste homem, entretanto, o sentimentalismo<br />
havia evoluído. Achava-<br />
Luís XIV - Museu do Louvre, Paris<br />
-se já que a impureza era uma glória<br />
para o homem, e que conquistar<br />
senhoras era tão glorioso como<br />
conquistar cidades. E isto a tal ponto<br />
que não mais se compreendia o<br />
verdadeiro conquistador de cidades<br />
sem que também fosse um conquistador<br />
de honras femininas.<br />
O Luís XIV das dignidades e das<br />
solenidades foi também o das concubinas.<br />
E todos os fidalgos lhe seguiram<br />
o exemplo, numa época em que<br />
a vida já tinha um caráter nitidamente<br />
sensual, e em que o amor, atrás de<br />
um modo de ser aristocrático e polido,<br />
na verdade encobria uma grande<br />
impureza.<br />
Bailarinos adamados e frágeis<br />
Nas vésperas da Revolução Francesa<br />
isto chegou a tal ponto que marido<br />
e mulher, na maior parte da alta<br />
aristocracia, casavam-se sem amor,<br />
por dinheiro, e levavam vida separada.<br />
Quando um dos esposos dava<br />
uma recepção, convidava o outro<br />
cônjuge. Os convivas ao entrar eram<br />
anunciados por alabardeiros que, à<br />
chegada do cônjuge convidado, diziam<br />
apenas Madame ou Monsieur,<br />
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