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A sociedade analisada por <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong><br />
Gabriel K.<br />
ção, em que os espíritos, abandonando<br />
um pouco a ideia do Céu, começam<br />
a conceber de um modo mais ou<br />
menos laico certas ideias em voga na<br />
Idade Média.<br />
Assim, por exemplo, a ideia de<br />
honra. É a época em que o cavaleiro,<br />
pela honra de sua dama, faz um duelo,<br />
em oposição ao cavaleiro medieval<br />
antigo, bastante sagaz para não<br />
duelar pela honra de uma dama.<br />
Começam também os torneios;<br />
os menestréis e os trovadores dão<br />
um ar de amor e de honra à sociedade,<br />
cheia ainda de misticismo, mas<br />
de um misticismo laico. A dama medieval<br />
desta época ainda estava muito<br />
longe da dama frívola dos séculos<br />
que se seguiram; era quase régia. À<br />
noite, quando a Lua iluminava a torre<br />
do castelo, ela se dirigia a uma pequena<br />
sacada para ouvir, vinda de<br />
longe, uma canção interpretada ao<br />
som de um alaúde; terminado o canto,<br />
ela, com suas tranças louras, sorri<br />
e joga uma flor.<br />
Tudo isto termina numa explosão<br />
de sentimentalismo psíquico. Não<br />
aparece ainda o sentimentalismo físico:<br />
a sensualidade está em gestação,<br />
já contida neste estado de espírito,<br />
mas não aflorou à superfície.<br />
Ódio à lógica<br />
Neste período fala-se ainda no<br />
amor inspirado nas virtudes. A minha<br />
dama, dizem, é a mais pura, a<br />
mais bondosa, a mais caritativa, a<br />
mais piedosa. Aparece,<br />
por outro lado,<br />
a ideia da beleza,<br />
mas de uma beleza<br />
que é mais harmonia<br />
dos traços físicos,<br />
espelho apenas, e<br />
em certos casos, da beleza<br />
moral.<br />
Entretanto, como não poderia<br />
deixar de ocorrer, a sensualidade<br />
começa a se fazer notar.<br />
As canções trovadorescas do<br />
tempo, sob o pretexto de detalhar<br />
a beleza, fazem o elogio<br />
dos olhos, da tez, dos cabelos,<br />
e, finalmente, do aspecto<br />
físico. Compreende-<br />
-se facilmente a que abismos<br />
isto conduz. É a sensualidade<br />
que principia<br />
a nascer dentro dos invólucros<br />
do sentimentalismo.<br />
Com isto a Revolução A começa<br />
a afastar-se do plano lógico. O<br />
homem sentimental, e muito mais<br />
do que ele o homem sensual, não<br />
gosta da lógica. Esta lhe parece fria,<br />
dura, inclemente. Cada palavra sentimental<br />
é para ele como um acorde<br />
musical; cada argumento lógico uma<br />
pancada de martelo dada num prego<br />
que penetra em sua cabeça. Ele<br />
detesta a lógica e, consequentemente,<br />
começa a engendrar sistemas filosóficos<br />
que a deturpam e corrompem.<br />
É o início da decadência da Escolástica<br />
e do aparecimento de uma<br />
filosofia pseudoescolástica. Inicia-se<br />
a revolta e com ela a preparação do<br />
terreno para outra era da revolução<br />
tendenciosa.<br />
O fidalgo da Renascença<br />
Passamos, então, da era mística<br />
para a era heroica da Revolução, onde<br />
vamos encontrar o fidalgo da Renascença,<br />
tão diferente do fidalgo<br />
medieval.<br />
O fidalgo da Idade Média é uma<br />
espécie quase sublime de cavaleiro:<br />
vive envolto num misticismo católico,<br />
muito distinto daquele que encontramos<br />
no fim dessa época histórica;<br />
está embebido por toda uma<br />
visão sobrenatural da Cavalaria e de<br />
sua missão divina.<br />
Na Renascença, pelo contrário,<br />
o fidalgo nada mais tem de místico:<br />
é um homem – mais do que isto –,<br />
um super-homem heroico, olímpico,<br />
clássico, tem todas as paixões dominadas.<br />
Belo, inteligente, culto, dança<br />
admiravelmente, raciocina maravilhosamente,<br />
manda, governa e guerreia<br />
como ninguém. Bailarino, estadista,<br />
guerreiro e, sobretudo, artista,<br />
gosta da beleza em todas as suas formas,<br />
do esplendor da vida e de gozá-la<br />
inteiramente. Tem riso largo e<br />
distinto, e olhar dominador que se<br />
estende sobre os outros como uma<br />
montanha que domina toda a paisagem<br />
que se lhe estende aos pés.<br />
O fidalgo da era heroica tem a sua<br />
mais alta personificação naquele que<br />
foi o símbolo de toda uma época histórica:<br />
Luís XIV. Brilhante, nobre<br />
por excelência, dominador, distinto,<br />
com um só olhar ele fulminava, com<br />
um só sorriso encantava e premiava,<br />
com uma só palavra fazia com que<br />
12<br />
Rei Wladyslaw<br />
Jagiello - Cracóvia