*Maio/2021 Referência Florestal 229
FISCALIZAÇÃO Operação HANDROANTHUS Foto: divulgação 52 www.referenciaflorestal.com.br
Indústria madeireira denuncia abusos de operação da Polícia Federal na apreensão de madeira no Pará D esde o início do ano tem circulado nas redes sociais um vídeo de um empresário do setor madeireiro que alega que a Operação Handroanthus, da Polícia Federal, teria cometido abusos contra a extração legal e sustentável de madeira na região de divisa entre os Estados do Pará e de Amazonas. Vinicius Belusso, da Rondobel Indústria e Comércio de Madeira, afirma que suas operações foram interrompidas durante várias semanas, sem nenhum motivo aparente. Segundo ele, máquinas de movimentação de toras foram apreendidas e sua mercadoria teria apodrecido, sem o transporte ao consumidor. “Em um ato de desespero, [gravo esse vídeo] e denuncio a ação abusiva da Operação Handoranthus em nosso porto, em dezembro de 2020. Policiais e membros do Exército, fortemente armados, bateram à nossa porta e nos ordenaram parar as operações. Em fevereiro, levaram, sem qualquer ordem judicial, muitas das nossas máquinas. Já tivemos de demitir 300 funcionários e não sabemos o que será do futuro”, suplica Belusso na gravação. Deflagrada em dezembro do ano passado, a Operação Handroanthus (batizada pelo nome científico do Ipê, árvore tradicional da região), apreendeu mais de 130 mil m 3 (metros cúbicos) de madeiras em toras, na divisa dos Estados do Pará e do Amazonas. Segundo a Polícia Federal, a quantidade de madeira seria capaz de lotar cerca de 6.243 caminhões. “Todos do setor madeireiro são a favor da proteção da Amazônia e acreditamos que a nação tem de proteger suas florestas. O madeireiro defende tudo isso. Sabemos também que bandidos vêm extrair madeira ilegal e queremos a mão forte do Estado contra eles, pois são nossos maiores concorrentes, e que ainda atuam de forma ilegal”, lamenta o empresário. “Já nós somos uma empresa séria, em sua terceira geração, que trabalha com manejo florestal sustentá- vel e que tem o respeito, inclusive, das comunidades locais. Atuamos em áreas privadas, pagamos impostos e geramos empregos.” De acordo com o diretor da Rondobel, esse não é o caso da sua empresa, fundada em 1999 na cidade de Belém (PA), com foco em madeiras tropicais, “cujos produtos obtidos são destinados ao mercado interno e externo”, afirma a empresa. Relatório da Auditoria Florestal Independente da SysFlor, inclusive, atesta a sustentabilidade e legalidade da atuação da Rondobel no Estado do Pará. “Os planos de manejo executados pela Rondobel tem como principal objetivo a produção de madeira em toras para abastecimento de suas unidades industriais”, afirma o levantamento. Em nota divulgada à imprensa, o Sindicato dos Policiais Federais no Amazonas afirma que a Operação Handroanthus não realizou excessos, mas também não apresentou nenhuma prova consistente contra a empresa. A investigação segue sendo acompanhada pelo Ministério Público Federal do Amazonas e pelo juízo da 7ª Vara Federal da Seção Judiciária do Amazonas. Em janeiro deste ano, a Justiça Federal do Pará determinou a prisão e multa de R$ 200 mil a cada policial envolvido em uma das etapas da Operação Handroanthus, por entender que não houve irregularidade na atuação de uma das empresas envolvidas no caso. A juíza Mara Elisa Andrade, da 7ª Vara Federal, responsável pelo caso, determinou recentemente, que a Polícia Federal devolva as máquinas e equipamentos apreendidos durante a operação. A julgar pelo entendimento da justiça, a Polícia Federal teve mais uma vez uma atuação no mínimo infeliz e comprovadamente abrupta. A ação da Polícia Federal foi tão exarcebada, o que causa estranheza, exatamente pelo fato de chegar a retirar e apreender as máquinas e equipamentos de uma empresa que trabalha há muitos anos na área. Na decisão, a Justiça entendeu que os indícios de ilegalidades são muito frágeis. Por isso, determinou a devolução do material. A Polícia Federal e o Ministério Público apresentaram imagens de satélite mostrando a exploração sem autorização. A juíza alega que a Polícia Federal não teria conseguido provar que a madeira de fato foi extraída fora de áreas de manejo. Ela afirma, ainda, que não está claro que a autoridade tivesse conhecimento prévio de crime que justificasse a apreensão, uma vez que o único documento que poderia justificar a ação só foi apresentado dois meses depois. Ainda assim, sem nenhuma prova consistente e inúmeras perguntas sem respostas, não se justifica reter o material, que é perecível, então tudo deverá ser devolvido. Pelas redes sociais, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles defende a celeridade do devido processo legal e o amplo direito de defesa. “Se estiverem errados, que sejam punidos”, alertou o ministro. Ao que tudo indica, e de acordo com o entendimento da justiça, a ação teve mais viés político, que de defesa da ordem e da lei, que é efetivamente o que os responsáveis da Polícia Federal deveriam executar. Maio 2021 53
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Indústria madeireira denuncia<br />
abusos de operação da Polícia<br />
Federal na apreensão de<br />
madeira no Pará<br />
D<br />
esde o início do ano tem circulado nas redes<br />
sociais um vídeo de um empresário do setor<br />
madeireiro que alega que a Operação Handroanthus,<br />
da Polícia Federal, teria cometido<br />
abusos contra a extração legal e sustentável<br />
de madeira na região de divisa entre os Estados do Pará e de<br />
Amazonas.<br />
Vinicius Belusso, da Rondobel Indústria e Comércio de<br />
Madeira, afirma que suas operações foram interrompidas<br />
durante várias semanas, sem nenhum motivo aparente.<br />
Segundo ele, máquinas de movimentação de toras foram<br />
apreendidas e sua mercadoria teria apodrecido, sem o<br />
transporte ao consumidor.<br />
“Em um ato de desespero, [gravo esse vídeo] e denuncio<br />
a ação abusiva da Operação Handoranthus em nosso porto,<br />
em dezembro de 2020. Policiais e membros do Exército, fortemente<br />
armados, bateram à nossa porta e nos ordenaram<br />
parar as operações. Em fevereiro, levaram, sem qualquer<br />
ordem judicial, muitas das nossas máquinas. Já tivemos de<br />
demitir 300 funcionários e não sabemos o que será do futuro”,<br />
suplica Belusso na gravação.<br />
Deflagrada em dezembro do ano passado, a Operação<br />
Handroanthus (batizada pelo nome científico do Ipê,<br />
árvore tradicional da região), apreendeu mais de 130 mil<br />
m 3 (metros cúbicos) de madeiras em toras, na divisa dos<br />
Estados do Pará e do Amazonas. Segundo a Polícia Federal,<br />
a quantidade de madeira seria capaz de lotar cerca de 6.243<br />
caminhões.<br />
“Todos do setor madeireiro são a favor da proteção da<br />
Amazônia e acreditamos que a nação tem de proteger suas<br />
florestas. O madeireiro defende tudo isso. Sabemos também<br />
que bandidos vêm extrair madeira ilegal e queremos<br />
a mão forte do Estado contra eles, pois são nossos maiores<br />
concorrentes, e que ainda atuam de forma ilegal”, lamenta o<br />
empresário. “Já nós somos uma empresa séria, em sua terceira<br />
geração, que trabalha com manejo florestal sustentá-<br />
vel e que tem o respeito, inclusive, das comunidades locais.<br />
Atuamos em áreas privadas, pagamos impostos e geramos<br />
empregos.”<br />
De acordo com o diretor da Rondobel, esse não é o caso<br />
da sua empresa, fundada em 1999 na cidade de Belém (PA),<br />
com foco em madeiras tropicais, “cujos produtos obtidos<br />
são destinados ao mercado interno e externo”, afirma a<br />
empresa.<br />
Relatório da Auditoria <strong>Florestal</strong> Independente da SysFlor,<br />
inclusive, atesta a sustentabilidade e legalidade da atuação<br />
da Rondobel no Estado do Pará. “Os planos de manejo<br />
executados pela Rondobel tem como principal objetivo a<br />
produção de madeira em toras para abastecimento de suas<br />
unidades industriais”, afirma o levantamento.<br />
Em nota divulgada à imprensa, o Sindicato dos Policiais<br />
Federais no Amazonas afirma que a Operação Handroanthus<br />
não realizou excessos, mas também não apresentou nenhuma<br />
prova consistente contra a empresa.<br />
A investigação segue sendo acompanhada pelo Ministério<br />
Público Federal do Amazonas e pelo juízo da 7ª Vara<br />
Federal da Seção Judiciária do Amazonas.<br />
Em janeiro deste ano, a Justiça Federal do Pará determinou<br />
a prisão e multa de R$ 200 mil a cada policial envolvido<br />
em uma das etapas da Operação Handroanthus, por entender<br />
que não houve irregularidade na atuação de uma das<br />
empresas envolvidas no caso.<br />
A juíza Mara Elisa Andrade, da 7ª Vara Federal, responsável<br />
pelo caso, determinou recentemente, que a Polícia<br />
Federal devolva as máquinas e equipamentos apreendidos<br />
durante a operação. A julgar pelo entendimento da justiça,<br />
a Polícia Federal teve mais uma vez uma atuação no mínimo<br />
infeliz e comprovadamente abrupta. A ação da Polícia Federal<br />
foi tão exarcebada, o que causa estranheza, exatamente<br />
pelo fato de chegar a retirar e apreender as máquinas e<br />
equipamentos de uma empresa que trabalha há muitos<br />
anos na área.<br />
Na decisão, a Justiça entendeu que os indícios de ilegalidades<br />
são muito frágeis. Por isso, determinou a devolução<br />
do material. A Polícia Federal e o Ministério Público apresentaram<br />
imagens de satélite mostrando a exploração sem<br />
autorização. A juíza alega que a Polícia Federal não teria<br />
conseguido provar que a madeira de fato foi extraída fora de<br />
áreas de manejo. Ela afirma, ainda, que não está claro que<br />
a autoridade tivesse conhecimento prévio de crime que justificasse<br />
a apreensão, uma vez que o único documento que<br />
poderia justificar a ação só foi apresentado dois meses depois.<br />
Ainda assim, sem nenhuma prova consistente e inúmeras<br />
perguntas sem respostas, não se justifica reter o material,<br />
que é perecível, então tudo deverá ser devolvido. Pelas<br />
redes sociais, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles<br />
defende a celeridade do devido processo legal e o amplo direito<br />
de defesa. “Se estiverem errados, que sejam punidos”,<br />
alertou o ministro. Ao que tudo indica, e de acordo com o<br />
entendimento da justiça, a ação teve mais viés político, que<br />
de defesa da ordem e da lei, que é efetivamente o que os<br />
responsáveis da Polícia Federal deveriam executar.<br />
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