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José Nivaldo Junior<br />
O INIMIGO<br />
AINDA<br />
DESCONHECIDO<br />
No início da pandemia eu escrevi<br />
que aqueles donos da verdade,<br />
que ocupavam horas e mais<br />
horas por dia na televisão ditando<br />
regras, simplesmente não sabiam<br />
do que estavam falando. Hoje, depois<br />
de mais de um ano de sofrimento<br />
e pessoas mortas contadas<br />
aos milhões, a humanidade avançou<br />
bastante. No entanto, o inimigo<br />
invisível continua correndo na<br />
dianteira.<br />
O ser humano é um poço de contradições.<br />
O que move o mundo, desde<br />
sempre, são engrenagens econômicas<br />
poderosas, que moldam a organização<br />
social, a política e as próprias<br />
formas de pensar e entender<br />
a sociedade. Somos, também desde<br />
muito tempo, animais que se apaixonam.<br />
E as paixões nos dominam.<br />
Na vida pessoal, na política, no futebol,<br />
nas causas que abraçamos.<br />
Com relação à pandemia não é diferente.<br />
Os interesses econômicos<br />
estão por trás de tudo. Esses interesses,<br />
muitas vezes, são invisíveis<br />
como o vírus. Mas estão aí. A própria<br />
vacina é um encaminhamento<br />
indispensável que movimenta bilhões<br />
de dólares ao redor do planeta.<br />
Em última instância, um negócio<br />
como outro qualquer.<br />
Só a paixão, criada por essas engrenagens<br />
imperceptíveis, é capaz de<br />
justificar o furor com que se combateu<br />
e combate o chamado tratamento<br />
precoce da Covid-19. Verdade<br />
que alguns políticos, a exemplo<br />
de Trump e Bolsonaro, politizaram<br />
o debate. Mas remédio até tem cor,<br />
mas certamente não tem partido.<br />
Não entendo nada de remédio. Mas<br />
conheço a cláusula da Declaração<br />
de Helsinque que regulamenta as<br />
atividades médicas no mundo. Ali<br />
está estabelecido que o medicamento<br />
utilizado no tratamento de<br />
qualquer doença é uma decisão exclusiva<br />
da relação médico/paciente.<br />
Ponto. Qualquer especialista na<br />
área de saúde tem direito de externar<br />
livremente suas opiniões sobre<br />
as receitas da sua preferência. Mas<br />
ninguém, absolutamente ninguém,<br />
tem a prerrogativa de se meter na<br />
liberdade do médico indicar e do<br />
paciente aceitar qualquer prescrição<br />
razoável. O debate, nesse nível,<br />
nem deveria existir. É incrível que<br />
aconteça.<br />
Também fico perplexo com o comportamento<br />
dos políticos no mundo<br />
inteiro. Em certos momentos,<br />
parecem no mundo da lua. Apenas<br />
como exemplo, recentemente no<br />
Brasil a preocupação maior era com<br />
o orçamento. Dizem que um certo<br />
teto de gastos não pode ser ultrapassado<br />
no combate à pandemia e<br />
no socorro aos mais necessitados.<br />
Dá vontade de chamar um palavrão<br />
bem vulgar. Nem parece que<br />
estamos enfrentando uma guerra<br />
planetária. Não adianta preservar<br />
índices econômicos e sacrificar as<br />
pessoas. Quando vier a paz, trataremos<br />
de resolver outros problemas.<br />
Antes disso, temos que vencer o<br />
inimigo invisível, usar máscara, higienizar,<br />
manter o distanciamento.<br />
Festa e folia até dá rima, mas não<br />
combina com pandemia.<br />
José Nivaldo Junior<br />
Historiador. Consultor em<br />
comunicação. Da Academia<br />
Pernambucana de Letras.<br />
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