#ALERTADEGATILHO: Memórias Poéticas de Chorando Rios
Uma narrativa onírica, visual e poética, de uma realidade cruel e deveras íntima da personalidade Chorando Rios. Uma narrativa onírica, visual e poética, de uma realidade cruel e deveras íntima da personalidade Chorando Rios.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
#ALERTA DE GATILHO:
Os conteúdos a seguir versam
sobre situações vivenciadas por
quem passa/passou por intensos
sofrimentos psiquícos e
podem ativar gatilhos psicológicos
em pessoas sensíveis aos
temas relacionados à saúde
mental, tais como depressão,
outros transtornos de humor e de
personalidade, relacionamentos
abusivos/tóxicos, abuso de substâncias
e outros comportamentos que geram
ou são/foram gerados por traumas.
Se você se identificar com os “sintomas”
abordados nesta publicação, busque auxílio
de profissionais especializados em saúde
mental e de sua rede de apoio mais
confiável!
O objetivo dessa publicação é chamar
atenção para os processos mentais que
ocorreram antes, durante e depois de crises
de desequilíbrio psicológicos/emocionais,
sem a menor pretensão de servir de
manual para qualquer coisa. Aqui você
poderá fazer suas próprias análises sobre
esses pensamentos, por vezes desconexos,
mergulhar numa cabeça que não é a sua,
navegar num oceano de ideias feito da
mesma matéria que você.
Agora... que tal ficarmos
um pouco à sós?
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Christalina
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
"Como justificar que somos uma humanidade
se mais de 70% estão totalmente alienados do mínimo
exercício de ser? A modernização jogou essa gente
do campo e da floresta para viver em favelas e em
periferias, para virar mão de obra em centros urbanos.
Essas pessoas foram arrancadas de seus coletivos, de
seus lugares de origem, e jogadas nesse liquidificador
chamado humanidade. Se as pessoas não tiverem
vínculos profundos com sua memória ancestral, com as
referências que dão sustentação a uma identidade, vão
ficar loucas neste mundo maluco que compartilhamos."
Ailton Krenak em Ideias Para Adiar o Fim do Mundo (2019)
“(...) A compreensão de um texto não é
algo que se recebe de presente. Existe trabalho
paciente de quem por ele se sente problematizado.
Não se mede o estudo pelo número
de páginas lidas numa noite ou pela
quantidade de livros lidos num semestre.
Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de
criá-las e recriá-las.”
Paulo Freire em Considerações em Torno do Ato de Estudar
I
(1986)
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“Chegou o carro para conduzir o corpo sem vida de
Dona Maria José que vai para sua verdadeira casa própria
que é a sepultura.” - pág 29
"Antigamente era a macarronada o prato mais caro.
Agora é o arroz e feijão que suplanta a macarronada. São
os novos ricos. Passou para o lado dos fidalgos. Até você,
feijão e arroz, nos abadona! Vocês que eram os amigos
marginais, dos favelados, dos indigentes. Vejam só. Até o
feijão nos esqueceu. Não está ao alcance dos infelizes que
estão no quarto de despejo. Quem não nos despresou foi o
fubá. Mas as crianças não gostam de fubá." - pág 38
Carolina Maria de Jesus em Quarto de Despejo (1960)
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Transtorno Afetivo Bipolar Paralelo à
por Micaelly Gomes
O que esta sequência de palavras descreve?
Angústia,
Instabilidade emocional,
Ideação suicida,
Automutilação,
Choro,
Desorganização mental,
Alta demanda de fala,
Abuso de álcool e outras drogas;
Comprometimento de relações afetivas e sociais.
Comportamentos de risco.
Alterações do sono e do apetite,
Dificuldade em se concentrar,
Ansiedade.
Comportamento compulsivo.
Hipomania, Euforia,
Humor deprimido.
Agitação, Agressividade,
Solidão;
Tristeza;
Descontentamento geral?
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- Mas o que essa sequência de palavras descreve?
Inicio esse texto com diagnóstico, sintomas e
perguntas, reproduzindo a ânsia que, não raras vezes,
chega ao consultório: “o que eu tenho?”, “eu sou normal?”,
“qual meu transtorno?”, “estou ficando louca?”, “qual
o meu CID*?”, “você vai me dar um diagnóstico?”. O
tom crítico que intento imprimir aqui não é direcionado
a quem pergunta, pessoalmente, e sim às engrenagens
sociais que não só produzem e reproduzem, mas também
estigmatizam e estereotipam o adoecimento mental.
Com isso pretendo invocar a dicotômica e conhecida
discussão no âmbito da saúde mental acerca do normal x
patológico, para questionar: na balança da saúde mental,
o que pende pra loucura e o que pende para suposta
normalidade? Onde você está? Longe de mim a pretensão
de encerrar essa discussão aqui ou responder essa questão,
mas também não cabe não fazê-la (sempre que tenho a
oportunidade).
Circulando entre Vanessa, a criança ferida, sagaz,
“Querida”; Christalina, adulta, profissional da arte, livre
e cristalina; passando pela Bruxa e Chorando Rios, essas
poéticas verbais nos trazem um mix de originalidade
sentimental para acompanhar uma jornada que ora tem
tom de uma busca-cura, ora é despretensiosa.
Nesse sentido, A Escrita de Si, por vezes, aparece
no processo terapêutico como recurso potente, uma vez
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
que é ferramenta para exercício subjetivo de organização
afetiva, elaboração de sentido, meio de expressão e que,
na leitura Junguiana da dinâmica psíquica, compõe o
caminho da Individuação. No caso em questão, desde o
início do processo terapêutico (até mesmo em processos
pessoais anteriores - e, por quê não dizer: durante toda
sua trajetória) a escrita figurou um dos elementos do
acompanhamento, desencadeando alguns insights,
auxiliando na percepção do tratamento ou mesmo agindo
como espaço de desabafo.
A Busca de Si, por sua vez, constitui condição
arquetípica, isto é, todo ser humano anseia conhecer a si
mesmo e alimenta-se desse conhecimento, mesmo que sem
consciência de fazê-lo. A psicologia Junguiana entende
que tal busca é pela totalidade e que através da função
transcendente os caminhos para individuação são abertos.
Nota-se nas vivências aqui expostas, caminhos que versam
entre as dimensões espirituais, a busca da ancestralidade
e a necessidade de estados alterados da consciência como
recursos para transcender a experiência imediata, à procura
do numinoso, da totalidade, de si mesma.
Até aqui, foram 10 meses (para usar a cronologia
formal, mas entendendo que o tempo terapêutico é outro)
acompanhando esses processos pela janela da escuta e
intervenção terapêuticas. Christalina pincela toda sua
produção de vida com o caos, caos que vem movendo há
muito tempo, há muitos caminhos. Caos que não se obriga
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
organização só porque é caos. Caos que é produto do meio:
o meio entre extremidades que sofrem para co-habitar.
Luz-sombra, animus-anima, vilã-heroína. A psicologia
analítica busca a integração dos aspectos que compõem
o indivíduo, sobretudo os opostos. É uma busca que não
exatamente promete solução, mas consciência e algum
conforto. Em 10 meses, é a busca possível.
O ciclo incessante da vida-morte-vida sangra,
coagula, sara, cicatriza e volta ao recomeço, evolui em
espiral. As oscilações com as quais nos deparamos ao
longo da leitura de Christalina, traduz, ao mesmo tempo
que provoca, idas e voltas entre humores bi-polares,
da euforia à depressão, da toda-poderosa à suicida, da
consciência ao transe. A energia circula e tem potencial de
produzir saúde, abrindo mão da linearidade. Assim, “algo
nasceu, algo morreu!”. Por agora, nasceu essa publicação.
Celebremos e sigamos!
Micaelly Priscila Gomes Lima
Psicóloga - CRP 17/4499
*CID: Classificação Internacional de Doenças. Publicação da
Organização Mundial da Saúde que tem por objetivo padronizar
e codificar os problemas relacionados à saúde, através de sinais,
sintomas, queixas, circunstâncias sociais, etc.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Blocos de Notas I
eu fico lendo Carolina e fico que nem ela,
mas com ela mesma,
“horrorisada” com o quarto de despejo.
Às vezes, durante as crises,
me sinto como um quarto de despejo
eu mesma sendo esse ambiente marginal
À margem de mim mesma
perdida, confusa
incompreendida
suja, a que deve ficar escondida,
calada.
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08/11/2020
não, os meus problemas não são os maiores
estou confusa
é sempre assim: se eu tomar álcool, dá ruim
antes eu estava triste
agora não estou triste, só meio aperreada
acho que vou tomar o remédio de dormir
não que eu queira dormir
Eu gostaria de trabalhar, mas o que estou sentindo...
fisicamente, é ruim, não quero ficar sentindo
eu ficaria fumando se pudesse
vou fumar e volto
fumei e voltei
até que melhorou a sensação.
é uma energia que fica aqui
eu acho que preciso trabalhar ela
hoje foi tão bom, foi tudo muito bom
ontem foi bom, ontem acabou hoje.
visitei uma família amiga querida
fui ver o mar
encontrei alguém que cuidou de mim
sem se aproveitar em nenhum momento
mas eu sou lasciva e mordisquei a isca sem dó
depois de nadar, nada melhor do que gozar
nadei muito hoje, até uma parte mais funda
percebi que fiquei muito cansada
e na hora de voltar para um lugar seguro,
não morri na praia.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
só pensava em Zila Mamede.
Ás vezes, agora, fico lembrando dela
Por causa de sua relação com o mar
Mas na verdade não sei de nada
só fico lembrando de nós na cama
estou ouvindo sua antiga voz
que estranho... que estranho...
que estranho...
vou trocar a música
Tim Maia me ajuda a sair da ansiedade
As vezes fico pensando:
será que o que sinto é mesmo ansiedade?
L. quem me faz chegar a esses questionamentos
Meu coração:
Disparado.
Falei sobre a armadilha e eu mesma caí nela
Não por acaso.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Ontem eu chorei?
Lembrei-me agora que falei para alguém: “estou com
vontade de chorar”
mas acho que não chorei, pois estou com vontade de chorar
e não lembro de ter chorado
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
09/11/2020
Despertei junto do cantar dos passarinhos
o Sol estava ainda madrugando
Olhei as redes sociais, pensei mais uma vez:
delas devo me afastar
Com o abrir de olhos, percebi contínuo
aquele nó na garganta que começou na
semana passada; um choro engasgado.
Minha cabeça já está doendo e nem passaram das 6h16
Minha respiração está muito rápida
e às vezes preciso tomar um ar extra
De repente lembrei do banho de mar de ontem,
também ao raiar de um dia nublado.
A crise foi leve;
Oyá e Ogum me permitiram chegar até Odoyá
Lá eu mesma era a espuma; subi nos corais.
contemplei o outro lado.
Mar bravio, ondas sobre as pedras com tal violência
Citei isto pois nesta manhã do agora, novamente
lembrei-me de Zila e entendo o quanto o Mar é...
Atrativo para poetas. Meu coração dispara,
Mesmo com medo, dá vontade de ir lá
Escrever sobre isso me alivia uns 10%
Lembro da sensação de estar dentro d’água
Sem ar. Penso no que é ficar sem ar.
Talvez por isso suspire tanto. Oyá, me ajuda!
Preciso de Ar para gerar meu Fogo.
E preciso de Terra para me firmar.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
-911/2020
ninguém aqui em casa confia em mim
ninguém confia em mim
ninguém confia
as vezes nem eu
por quê não confio?
por que não confio?!
Porque... Pode ser porque ninguém confia
ou eu fiz ninguém confiar
ou toda esta tese só existe na minha mente
- - - - - - - - - - - - -
Eu preciso entrar no CVV para encontrar alguém para
conversar
As pessoas não vêem o quanto isso é triste?
Você é o 47º na lista de espera
Dá tempo de fazer tanta coisa
Eu me senti mal o dia inteiro hoje
Mas adianta falar sobre isso para alguém que eu conheço?
As pessoas não acreditam mais em mim
Eu tenho que confiar no desconhecido que em mim confia
Porque só assim poderei sair dessa prisão
Me sinto sufocada e eu quero ser pássaro
Pássaro livre que voa em direção ao Potengy
Como as garças que passam por aqui
Eu ando observando tanto as nuvens
Que consegui entender e, finalmente,
verbalizar o que sinto no momento:
Com uma mente enevuada.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Não tenho o que falar,
mas preciso escrever
não sei exatamente sobre o quê
talvez sobre tudo que eu venho sendo ultimamente.
Algo morreu, alguém nasceu!
quem sou eu? tudo aquilo aconteceu
foi real, Vanessa, foi real!
Eu fico pensando na moça
que matou o timbu com as próprias mãos
sobrevivência, sei que já falei disso
mas é o instinto, já ouvi as palavras:
ouça o seu instinto, sua intuição!
porquê ser tão teimosa afinal, se eu posso
simplesmente ficar numa boa
na minha total (quase numa zona de conforto)
e ir aproveitando outros tipos de prazeres
em algum momento, com muita paciência
com muita fé
não é preciso desespero
mesmo que
“com as mãos frias, mas o coração queimando”*
ir chegando na miúda e aprender sobre
tantas coisas. Sobre a vida e sobre a arte;
como eu sempre quis... parece um sonho
mas espero que não seja
prefiro a realidade, porque dói mais
*Jards Macalé em 78 Rotações (1972)
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
reflexão sobre alguma coisa relacionada a dominar o ego
Diga logo o que pensas
já perguntei mil vezes!
Minha paciência esgota,
mas lembro-me da missão
de confortar corações
como o meu era desesperado
e o acalmei
para um dia quando
voltar a me desesperar do peito
encontre um ser recíproco
pois sei que atingir dois pólos
pode ser muito complicado para nós
todes
entendermos
nem eu me entendo, mas busco informação
Não descarte pessoas.
Embora a Lei seja “faz o que tu queres”
há outra Lei que diz “há uma reação para cada ação”
E vamos de Tribunal:
Colocar os réus e as vítimas em posições opostas
Mas, na vida, não seríamos todes vítimas e algozes
do cistema heteronormativo, ultrapassado,
e até de nós mesmes?
(a auto sabotagem, prazer em reconhecer)
Eu quero pensar em coisa nova Agora
que resgata o melhor do Passado
que deixa um legado forte para o Futuro
o principal legado, na minha opinião
é a Educação. Através do conhecimento
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
alcançamos a iluminação dos pensamentos
mas nunca podemos deixar de, em primeiro lugar,
lembrar do exercício do domínio do ego
conhecer um pouco das camadas do Ser (individuação, segundo
Jung?)
e também daquele de nos colocar no lugar da outra.
Todes somos estranhes, pois
“quando conversamos com a outra,
estamos de costas para nós mesmas”*
A não ser que conversemos
olhando-nos através de espelhos
e cada uma olha pro olho da outra...
Mas aí já é outra história.
*#Ref: Livro O Espelho Mágico: um fenômeno social chamado
corpo e alma, de José Ângelo Gaiarsa (11ª edição, 1984)
comentário da autora sobre a escritura acima: (Texto muito estranho,
sei lá, não sei se faz sentido. Muitos dos textos não fazem muito sentido em
algumas partes pois escrevi sob transe de surtos ou crises e, talvez por isso,
pareça/estejam incompletos. Outras vezes não fazem sentido só pq essa sou
eu mesmo.)
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Sobre o
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Sobre o Hospital
quem eu sou
dodecaedro cor laranja
trígono três pontas
multiplicada por três forças
e quatro elementos
corre em ângulos que sobem
deu mais um giro no giral
sentou no muro no qual deu de cara
tinha cheiro de mijo alheio
de desprezo
a Governadora estava lá
de alguma forma eu me identifiquei
com as que choravam
com as que se isolavam
com a senhora que entoava coisas
ininteligíveis naquele quarto escuro
eu sai correndo
“Helena, pode fumar o cigarro!”
Helena agradeceu. Era um Hollywood.
Maria Lúcia me acordou durante a madrugada
me olhando bem séria muito perto do meu rosto
eu me assustei e ela saiu gargalhando
Ela fez de novo e minha mãe a mandou ir embora
Não havia muito mais a ser feito
A moça que arrancou a cabeça do timbu
também tinha entrado no quarto pouco tempo antes.
Abri os olhos ao ouvir o arrastar de seus chinelos,
ainda a vi afastando-se da porta, indo pelo corredor
Tudo era incerto e eu precisava de privacidade
Ô problema esse: sempre aparece um problema quando
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
você encontra uma solução para um problema.
Eu surtei, tudo bem.
“alguém me dá uma pílula!”
Fui ao médico: VOCÊ SOBE E DESCE
“Vou encaminhar para o internamento.”
Será que eu pedi?
Bem capaz.
Tomei uma injeção na bunda, doeu.
Mas a sensação de alívio...
Por saber que aquela ânsia de morrer ia passar
Foi tudo! ficar grogue.
Afinal tudo o que eu vinha fazendo
Era ficar grogue, mas sempre tinha um peso
como a mochila de pedras
ter que carregá-la de novo me fez lembrar
do subir e descer de ladeiras, das paisagens cinzas,
dos choros nos transportes públicos.
Eu fui lá e vi, senti o cheiro,
comi da comida, convivi com cerca de
25 seres ditos femininos
E ainda fui super privilegiada
Com acompanhamento da minha mãe.
Não podia ser deixada lá só
Só depois entendi que meu caso era
“Básico”, perto daqueles casos crônicos
de carência, abandono, confusão mental, abusos.
Uma moça dormia com suas botas de salto
Já passara do quarto dia
e não tirava as botas dos pés
mas depois continuo o relato
is remedios me dão muito sono
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
“- Os remédios me dão muito sono.”
Se sem eles você se sente incapaz
Com eles, essa é a única sensação que não passa
Só muda.
A incapacidade agora não vem da doença,
mas do tratamento.
MARIA LÚCIA
ZILDA
HELENA
RENATA
RUTHLAINE
Nunca as esquecerei!
No dia em que fui embora, a amiga que se autoproclamava
Governadora e que sempre me chamava para
dar um “Giro no Giral”, nadou na areia. Um ápice em sua
Mania? Eu me identifiquei com ela. Mas es tipo 2 nem tudo
materializa, nadam mais no areial dos pensamentos.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
3033
Me sinto incapaz
Mesmo não sendo, eu sei de minhas habilidades
Mesmo assim, meu corpo não responde
Me dá um calor que não é normal
Meu corpo fica totalmente paralisado
Com exceção dos dedos e os órgãos internos
Os pensamentos também não param
A maioria diz que não consigo fazer as coisas
Outros são puramente sonhos
Eu queria desmaiar
E acordar em 3033
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Hipomania
hipomania
mania
ia
cocaína
aína
caf
é
ín
mania
hipomania
depressão
e rebordose
o lado esquerdo do cérebro DOENDO MUITO.
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Transtorno
TransTORNADO
Sai destruindo tudo à sua volta
Não por querer simplesmente
Mas por uma força natural que lhe acomete
Fala-se aqui de algo que aconteceu
Antes mesmo que eu nascesse
Na vida intrauterina
Na vida da minha gestora
Nos meus genes, no meu DNA
Na minha espiritualidade
Meu tormento, as missões
que tomo para mim
As ilusões e psicoses
As perdas de contato com a realidade
As tremedeiras
Tudo tão sútil
Que ninguém percebe se eu não disser
Quando olhei no poço que Platão ilustrou
E escolhi essa Vida para aprender
O que estou aprendendo
Convivendo com a dor latente
da qual não se pode reclamar o tempo todo
Algo crônico, até o fim, você e seu transtorno
E você tenta não se afetar.
Você tem que aprender a lidar e tratar.
Mas se afete!
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Hoje 14112020
Todo mundo saiu ou viajou ou está muito ocupade
E, finalmente, eu fiquei totalmente sozinha
Havia comentado com a analista:
“Parece que estou aprendendo a converter solidão em
solitude”
Eu mesmo me assustei, o tratamento está dando certo! (?)
Ao mesmo tempo tenho sentido outros sintomas
Em outros locais
Um amigo disse que “viver é crônico”
Agora fiquei pensando em como parasitamos o mundo
Me incluindo, sim, na conjuntura do Mundo Globalizado
Fazemos parte da mesma Pirâmide
Com alguns recortes vemos
quem é mais e quem é menos privilegiado.
Com outros vemos quem é e quem não é parasita? Não!
Somos todos parasitas.
Esta é uma questão que ultra e transpassa a Humanidade
É coisa de Ciência,
Ao que parece, acredito na teoria da adaptação.
Por isso, me assustei sim ao perceber que
o tratamento estava surtindo efeito!
Mas tive também muito medo, tentei não demonstrar...
Medo de parar com a medicação, de me tornar dependente
Eu não queria ser dependente de nada
Eu queria voar como nos sonhos...
Sei que sou sonhadora demais
Passo o dia suspirando e, por isso, sou também
Apaixonada demais
Intensa demais
Ansiosa demais
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hoje desfiz mais amizades
Hoje eu desfiz mais amizades
Na verdade elas se desfizeram de mim
Eu falei isso e aquilo
e ninguém gosta das coisas que eu falo
Mas falam das coisas que eu falo
Falam as mesmas coisas que eu falo
Mas se FALO, nossa...
pra Elas, elas me calam!
Violentamente, porque é assim que deve ser feito.
É com violência que conseguimos tudo o que
queremos.
É? Com violência?
Com violência eu então disparo
Para longe de tudo e de todes, mais uma vez
Não vou ficar caindo feito tonta
Nos mesmos mistérios desses seres que não param
para nos enxergar
Eu devo viver completamente sozinhe
Pois sou como lâmina
Parte afiada, parte enferrujada
Com um cabo frágil feito de ossos de passarinho
Plumas sintéticas e paetês biodegradáveis
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juízo alterado pelo café
Estou nervosa
São 20:44, não consigo fazer nada
Tomei café
Já havia constatado que o café duas vezes por dia me
deixa alterada.
Tô bem nervosa
Meus glúteos doem das injeções
Para eu aprender a cuidar da minha área vermelha
Não quero mais nada
Essa escritura não faz sentido
Minha cabeça está doendo
Eu lembro da história que me contaram sobre o Poeta
Edgar Borges
Que ao chegar no bar, com um corte sangrento na cabeça,
Solicitou, ao invés de uma ambulância, papel e caneta.
Minha cabeça está doendo
Mas não faz sentido
Quando me sinto pressionada fico paralisada
Que tipo de bixo eu sou?!
Procurando saber...
Muito barulho sem harmonia me deixa desesperada
Meu sobrinho arrasta uma cadeira
Eternamente, muito barulho
Me lembra a rodoviária de Campo Grande/RJ
Onde o silêncio era mais raro que diamante
Escrever me faz bem
Minha cabeça ainda dói e ainda estou nervosa
Mas bem menos.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Na quarentena
Na quarentena
Todes foram para longe
De suas casas imaginam mundos diversos
Eu me vejo solitária
Perdida
Doente
Inutilizada por faltar um equipamento
Meu coração tem que endurecer
Essa demanda é urgente
Mas se ficar duro também vai doer
Daí vem as ideações suicidas
Por não ver mais sentido na vida
E pensar que tudo será ainda mais difícil
Nos próximos anos
E eu digo: “vamos nos fortalecer”
Enquanto isso todes se afastam
O máximo que podem
Por seus próprios motivos
Que me afetam tanto
Me sinto só mesmo não estando
Nada me apetece
Mesmo em tratamento penso em morte
Mesmo sabendo que não posso morrer
Porque algo maior não quer isso
Chorar e chorar talvez me ajude
Não posso mais me cortar
Não posso mais me drogar
Nem beber
Nem me anestesiar de qualquer forma
A não ser nos horários certos
De cada pílula
Que eu mesma solicitei
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Pra não morrer toda entalhada
De faca
Ver o sangue me fazia bem
Agora, sua lembrança, me entristece também
Saber que a peste está varrendo o mundo
E mesmo quando me engajo em ajudar
Não dá certo
Me sinto inútil
Tinha uma entrega para hoje
Parece que só penso em mim
Eu sou inútil?
Eu só penso em mim?
Se eu só pensasse em mim já teria me matado
Naquele quarto infernal no RJ
Ou nesse quarto ancestral onde me criei
Saber que a única pessoa que te ouve
É a sua psicanalista
Que está sendo paga para isso
Como parar de pensar em morte
Enquanto o Mundo morre:
Google pesquisar.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
www.cvv.org.br
Sofrendo de pensamentos obsessivos e/ou ideias fixas?
Tente abstrair conversando com amigs, ouvindo música,
dançando loucamente, fazendo uma caminhada, outros
exercícios, pinte, borde, grite, goze ou entre em contato
com o CVV através do QRcode ou clicando no link acima.
Mesmo tendo minhas críticas quanto ao serviço, percebi
que sempre me acalmo quando falo com voluntários
do Centro de Valorização à Vida. Geralmente fico mais
revoltada do que já estava antes, seja pela demora, pela
indisponibilidade ou por cair no chat de alguém que fica
repetindo o que eu falo em forma de perguntas. Depois
acabo ficando mais calma. Desviar a energia. Escrever,
chorar à vontade em caixa alta. Não importa, ninguém te
conhece. Uma vez uma pessoa me falou coisas incríveis,
que me ajudaram bastante a refletir sobre aquela angústia.
Não lembro mais a ocasião, mas o contexto é sempre o
mesmo: quando bateu o desespero da Alma se desprender
do Corpo. Não nos abandonamos, aqui estamos.
Obs: Se a dor estiver/continuar insuportável, contate a
profissional que te acompanha e sua familia imediatamente.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Escrita num breve momento de matar a sede alcoólica
para fugir da ansiedade
May 4, 2018
Natal — São Paulo — Rio — Natal
No interior das capitais
vivências tão distintas
Deus, como ainda existo?
Sobrevivência, resistência
Maldade minha, maldade sua
Venci tantos desesperos
Corridas e atravessamentos de ruas
Sobrevivi aos percalços
às durezas, às desistências
às agonias, às depressões severas
levantei da cama como levantasse do meu
próprio túmulo
lembro de tantas chuvas e luas
que lavaram e iluminaram
as dores dos tapas na cara
dos golpes no estômago
estou viva, mas não tenho certeza
do tamanho da minha força nem dos meus avanços
Quero acordar dia após dia
sem a incerteza das minhas
vontades serem realizadas;
de quem está ao lado ou
de quem ficou definitivamente
para trás no meu caminho.
Não sei guardar rancor (até queria),
somente padeço no abandono
das casas, das coisas, dos desenhos e desejos
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Como migalhas de pão perdidas
Rastros perdidos e escondidos
pelas vegetações que cresceram
depois dos chuviscos tempestuosos
Perfumes que me lembram o sítio
Os matos nos quais me embrenhei
tantas vezes quando quis esquecer-me de mim
e da ansiedade ou
do que a causavam
Quero terminar como uma oração: Amém.
E que meus dedos não doam tanto ao escrever os
pensamentos que desejam tanta liberdade quanto eu.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Suícidio
O que é Suícidio?
Matar a Si mesme
Se assassinar
Se revoltar contra o corpo
Libertar sua alma
Encontrar com um Deus
Ou com um Diabo
Amarra ela e põe na ambulância
Não nessa ordem, necessariamente
36% que tiram a vida são transtornades
24% usam entorpecentes
Junta tudo isso
Minha mente é um liquidificador
Aaaaauouououououó
A Evangélica disse
que eu parecia uma Exú-Mirim
em frente a Clínica da Família
Era uma mulher Bipolar
Era uma mulher com traços de Borderline
em sua personalidade
É uma pessoa que quer entender
por quê ela é
quem elu é
Uma mulher?
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
(...)
Vivendo ao meu redor
Sons tão agoniantes
Agonizantes, abafados
Escondidos, iludidos
Em escombros invisíveis
Mas inteligíveis
Me deixam tão atenta
Continuo atrasando as coisas
Por que nunca consigo terminar?
Por que falo sempre as mesmas palavras?
(leia-se sentido)
Estou dormindo
Estou descansando
Quero flutuar
Estou flutuando
Ai meu Deus
Me sinto
Afundando/
Flutuando
Uma com
Outra sem
Sem sons, inclusive
O que me volta ao início
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Eu queria tanto incluir vários textos que escrevi
sobre minhas observações noturnas sobre os Corpos
Celestes que acompanhei, com olhar atento, durante os
meses pandêmicos de 2020… mas justamente hoje, dia 11
de janeiro de 2021, fui assaltada e levaram o celular com
minhas anotações.
DIÁRIOS
Estou ouvindo Maridos e Esposas, da Banda Calypso.
Eu não aguento mais expectativas frustradas,
pedidos de desculpas que me fazem pensar que eu sou
louca e não sabia o que tava falando ou fazendo. Mas sou
Nossa, eu tenho uma coisa de não conseguir me
concentrar quando tem muito barulho externo, de pessoas
vivendo ao meu redo, vivendo ao meu redor, vivendo ao
meu redor.
(...)
Agora está tocando Como Uma Virgem, da mesma
banda citada anteriormente.
“-Alô? Posso falar? Não tem ninguém com você? Se ela estiver
por aí diga, amor, que foi engano.”
Fala sobre a frustração de uma pessoa que ficou
com um homem casado e se apaixonou. Ai que iludida.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Esse estilo brega me faz bem atualmente. Quando
eu tinha uns 11 anos, ouvia o CD da Banda Calypso que
peguei emprestado da minha tia e nunca mais devolvi.
Ouvi incessantemente. Depois passei por uma grande
mudança (vulgo adolescência) e passei a achar que só o
Rock e outras estilos de origens internacionais eram boas
(em pensar que hoje em dia rock pra mim significa outra
coisa). Queria até rir agora. Hoje em dia quando escuto
bregas, me vem aquela sensação que sentia na época em que
era hit... Acho que entendi aquilo como algo doce, porque
era uma época em que eu não tinha tantas preocupações
sérias como agora e colocava toda a minha energia nos
amores, frustrados, diga-se de passagem, o romantismo
era o maior dos meus problemas. Hoje tenho que lidar com
assédio moral e crises de ansiedade no Call Center, correr
atrás de INSS, minha vida de artista precária, relações com
seres humanos, a saudade da minha gatinha Shanti, etc...
Então, de certa forma, me sinto acolhida quando escuto
essas músicas. Tem outras, não é só o Calypso, mas essa
em especial me toca.
"Não dá, não vou, não quero mais
Viver assim, já não dá mais
Não quero mais você em minha vida
Preciso encontrar a saída
Pra te esquecer" - Joelma
*em tempo: a música Super Pop Águia de Fogo, da banda
Fruto Sensual, foi crucial para o parafuso no qual entrei em maio
de 2020. Nunca me perguntei tanto sobre a natureza do meu Eu.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Dia 12/01/2021
Tem um rato no meu quarto!
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Apr 25, 2019
Serpenteia no caminho entre as flores selvagens
Busca descobertas tramadas na individuação
Sorteia suas escolhas, enquanto colhe Presente
Passa pela vida semeando o que aprende
Dia 13/01/2021
Segunda-feira passada fui assaltada. Levaram meu
celular. Ontem eu surtei total porque senti abandono.
Hoje continuei surtada, de manhã gritei com minha mãe.
Eu sempre me sinto culpada por tudo e, de verdade, as
vezes sinto que minha mãe me culpa. Mas ela diz que
não. Eu me sinto louca, preciso ficar sozinha, preciso do
meu espaço, preciso dar espaço pra ela também. Eu não
consigo obedecer regras, acho que me senti acima de
tudo que pudesse ser penoso para mim, mas esse excesso
autoconfiança me levou à cegueira da arrogância.
Hoje fui resolver a questão do celular, gastei o
dinheiro que iria destinar a compra de uma câmera semiprofissional,
para que eu pudesse explorar mais o meu
potencial de produção. Eu sempre quis uma câmera. Na
verdade tenho muitos registros da infância, minha mãe
sempre deu um jeito de arrumar uma câmera analógica
e um filme de 36 poses para registrar nossos momentos.
Eu sei que era ela quem tirava as fotos, porque nunca
aparece nelas, muito díficil. Acho que a arte e a sede de
conhecimento está mesmo enraizada nas minhas famílias.
Vovô Jacinto e seu irmão gêmeo eram apaixonados por
literatura de cordel, inclusive esse meu tio avô, chamado
Pedro, o mesmo nome do meu pai, do meu sobrinho e de
um irmão que nunca conheci, escreveu poemas (os quais
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
nunca li), era repentista. Eu não sei muito sobre essa parte
da família, mas na última viagem que fiz ao interior,
descobri que tenho raízes que passaram pelo Monte das
Gameleiras, Serra da Tapuia. Originários. Vi por foto, nos
olhos do meu avô, sua caboquisse, sua mestiçagem. Eu
tinha uns 7 anos quando ele pediu para me ver no em
seu leito de morte, mas não puderam me levar a tempo.
Nunca soube o que queria comigo.
Pelo lado de mamãe, somos frutos de uma
filha de cabocla com um cigano: Mamãe Bibi e Papai
Ambrósio. Vovó Mariquinha casou com Vovô Cícero,
que era descendente de quilombolas vindos das bandas
da Paraíba. Todos falam de sua altivez e de seu talento
para a matemática, mesmo não tendo sido alfabetizado,
ajudava as filhas e filhos nas atividades escolares. Sua
família, os Jerônimo, se assentou no sítio Boqueirão. Eu
lembro de Tí Zé Novo tocando viola/violão ou ouvindo
a vitrola. Nunca falava, mas sorria bastante. Foi o último
dos irmãos a fazer a passagem. Um outro irmão de Vovô
Ciço, "Tí Sivirino", era considerado astrólogo por uns e
até “profeta”, por outros. Certamente o fato de ser um
ávido leitor de Almanaques Astrológicos corroborou
para isso.
A grande questão é que justamente hoje, tendo
ligado tantos pontos para entender minhas origens, eu
me senti tão mal, mas tão mal. Aconteceu algo, que não
posso dizer aqui, na verdade eu nem senti na hora (estaria
em plena "virada"?*), mas causou mais um trauma. Não
sei ainda exatamente de onde venho, mas sei que estou
enraizada nesta terra, de e para onde quero ir e retornar.
Devo respeito à essa ancestralidade que me fez ser quem
sou e existir.
*em referência a alterações/desequilíbrios de humor.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Para minha atual
Jul 1, 2020
Estou sentindo coisas estranhas, preciso me mudar,
comecei a sentir de novo vontade de morrer, mesmo
estando fazendo o tratamento.
Na verdade, não é vontade de morrer, mas uma
necessidade de extravasar, movimentar até a última
consequência, sofrer um impacto, me cortar, me asfixiar,
fazer um sexo selvagem, me machucar fisicamente, ser
jogada de um lado pro outro, como no texto do Barco,
estou ansiosa. E triste, com vontade de gritar, de chorar,
de abandonar tudo. Não é só a questão daqueles meus
amigos, é entender que há algo em mim que não está certo
e estou muito mal humorada.
Eu preciso de um contato humano, de carinho ou
de uma expressão, de assustar seres humanos, de gritar
com eles, de xingá-los, de matá-los de medo.
Ontem que tive uma imagem fixa: Meu corpo
suspenso e aberto no meio como se faz com os animais
criados para consumo humano, para tirar seus fatos. Mas
sem bagunça, sem sangue pra todo lado, sem instrumentos,
pelo contrário: meu corpo está em suspensão envolto de
uma luz muito dourada e bonita, translúcida, é como se eu
tivesse subindo aos céus (numa estética bem cristã). Com o
corpo aberto ao meio. No meu semblante há sorriso. Há…
como se chama… quando alguém que sofreu muito está
morrendo e encontra Deuses ou as coisas lá do Outro Lado.
Que pode ser só a viagem de DMT que é descarregado na
hora em que morremos, se der tempo.
Eu tenho trabalho pra fazer, não quero fazer; não
por não querer, eu quero fazer o trabalho, mas não consigo
agora porque estou com essas questões. E fico com vontade
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
de chorar e só fico no meu quarto. Nada me apetece, estou
chateada, só penso em fumar, porque é a única coisa que
me alivia, no entanto, já está me fazendo ficar paranoica
também. Me sentindo um rato se escondendo, com medo
de matar sua fome.
Agora neste momento meu coração bate forte e
estou com vontade de sair por aí, mas não tenho pra onde
ir, nem dinheiro. kkkk Eu falei para minha amiga ontem
que às vezes eu acho que vou virar uma dessas pessoas
que vivem na rua.
O Psiquiatra* que visitei segunda me falou que
provavelmente eu tenho o Transtorno Afetivo Bipolar
paralelo à Personalidade Borderline. Bem, eu fiquei de
boas com isso, porque desde boyzinha eu sabia que eu
era border e, inclusive, já tinha sido diagnosticada há
alguns anos atrás, mas eu não sei se quanto mais acesso
a informação, nesse caso, é mais enlouquecedor ou se vai
me ajudar. Tenho um prazo pra hoje, de um trabalho, não
consigo, não sei se consigo. Eu to me mexendo muito, sabe,
pessoa ansiosa que fica se mexendo muito, se balançando.
O médico mudou minha medicação, manhã 500mg de
ácido valpróico e fluoxetina. Noite: mais 500mg do ácido
e o dia. Mas estou com pensamentos errados, de morte,
de automutilação. Já falei com uma amiga pra ficar na
casa dela, acho que se eu ficar realmente completamente
sozinha eu consigo ficar mais de boas. E a casa dela é num
local onde tem outras pessoas com quem posso trocar ideia
de vez em quando, não é como aqui em casa que tem gente
o tempo todo.
A real é que eu tô me sentindo muito perturbada.
*deve ter sido o vigésimo psiquiatra que "visitei" em pouco
menos de 5 anos. Esse aí só consegui ver uma vez, depois pediu
licença e nunca mais voltou. Nem colocaram outro no lugar.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
28 de Jul de 2020
Sentir-se despedaçada?
Você não tem direito
Eu perdi tantas horas
Girando e girando
Na pracinha com você.
Tudo desmoronou.
Como as tragédias que acontecem em
Rio de Janeiro ou São Paulo
Sim, se você me conhece sabe que
sou traumatizada,
mas mesmo assim:
Queria tanto voltar lá sendo quem sou hoje.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
03 de jul de 2020
Eu me identifico com a identidade suicida
e vulnerável de vida
Me identifico com os corpos que
são considerados abjetos pela Colonização
Cada lugar tem suas especificidades
e ser Indivíduo também é ser Lugar
Mundos, Universos, Galáxias celulares
Eu surtei bastante, agora não posso voltar atrás
Devo continuar, não vou me desculpar
Pois também fui muito ferida e não recebi esse tratamento
Eu vou para frente
Eu vou para frente
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Para Minha Ex
17 de Ago de 2018
Caríssima M,
Primeiramente, peço desculpas por ter
simplesmente dado um não ao seu pedido de última
sessão. Odeio despedidas. Eu quase morri figurativamente
quando fui lhe ver pela última vez, na estação Belém.
Gostaria que lesse essa página, se tiver um tempinho,
aqui se tornou o seu divã tão aconchegante que me
confortava nas quintas ou terças de 2017. Você cuidou tão
bem de mim que eu acho que te amo, mas deve ser a tal
da transferência. Então ignore. Você representa o melhor
do ano de 2017 para mim, a única pessoa que realmente
foi inteiramente boa comigo, que não falhou. Eu sei que
você não é perfeita, também sei que só estavas fazendo
seu trabalho, pode ter certeza de que foi muito bem feito.
Eu gostaria que tivéssemos tido mais tempo. Mas entendi
e entendo completamente a sua nova situação.
Gostaria de lhe dizer, como amiga, que estou tão
triste. Gostaria de descer a Teodoro Sampaio para ir lhe
falar o tamanho do meu sofrimento. Mas não interprete
esse contato como um pedido de qualquer coisa. Eu
esperei que tudo se resolvesse para poder te mandar
uma linda carta avisando que está tudo bem e que eu me
“curei”. Mas minha vida tá totalmente desorganizada e
não sei se esse dia irá chegar, por isso decidi fazer isso
agora.
Estou em desespero, nem mesmo ler uma palavra
da bíblia ou as cartas do tarot me trazem qualquer
alento. Estou medicada, mas gostaria de estar internada
e dopada, gostaria de apenas dormir e acordar quando
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
meus processos contra a empresa de call center e contra o
INSS tivessem resolvidos, mas não foi possível. Eu tenho
que ser forte e todos os dias eu tento, mas não tá dando
certo, eu continuo pensando em cortes e em morte. Acabei
de tomar um benzodiazepínico de 2mg, minha amiga, a
senhora que se dispôs a me ajudar e cuidar de mim vai
ficar chateada quando acordar e souber que fiz isso, mas
é porque eu não consigo me acalmar. Fui internada, mas
não serviu de nada. Só me observaram e me mandaram
pra casa. Não sei o que vai acontecer. Meus “amigos”
do RJ me enxotaram aos poucos da casa, porque eu não
tinha mais dinheiro nem pra comer às vezes. Estou muito
triste. Mesmo tendo a ajuda dessa pessoa que citei, mesmo
com o carinho que minha mãe me manda de longe, não
sai de mim a sensação de que talvez eu não chegue aos
30. Não quero me matar. Mas a raiva me consome, de
estar vivendo de favor, eu gosto de ser independente e
desde antes da gente se conhecer, você sabe, eu já estava
dependente de pessoas. Só fui mudando de mãos em
mãos, mas ninguém sabe o que fazer comigo. Nem eu.
Nem o cigarro que fumo me acalma, acabei de fumar três
e ainda estou profundamente chateada e nervosa.
Eu sei que tá errado, mas fico buscando na internet
formas de como se matar de modo pacífico e sem dor,
mas seria muito ruim para minha mãe. E meu irmão vai
ter um novo bebê. Seria muito triste. Eu quero viver, mas
está difícil. Até oração de evangélicos estou aceitando.
Às vezes até me sinto bem, mas o ócio me destrói aos
poucos. Por isso entendo as pessoas que fogem bebendo
ou se drogando. Estou me drogando “licitamente”, mas
não sei se tá adiantando. Tenho uma consulta para ser
encaminhada ao psiquiatra e ao CAPS, mas ficou marcado
para 8 de outubro. Tô com fome, mas não quero comer.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Não aguento minha vida, não aguento mais me sentir
humilhada, maltratada, invisível, triste, sozinha. Me sinto
derrotada. Mas ainda quero vencer. Mas também quero
morrer. Dá pra entender isso? Eu também não entendo.
Não consigo desenhar, não consigo viver, eu queria
cantar, tocar violão, mas não tenho violão porque aquele
desgraçado quebrou. Eu poderia ter comprado um em SP,
mas a solidão me levava a bares ou lanchonetes em busca
de alguma novidade, cuja qual nunca encontrei. O pior
é que a senhora que me acolheu também tem depressão
profunda, então não sei, estou mal. Estou tomando
fluoxetina, ácido valproico, risperidona e clonazepam,
mas este ultimo não foi receitado*. Disseram que o ácido
valproico era pra eu não querer mais me cortar, mas ainda
quero, porque todo dia lembro da miséria. Eu sei que
ainda estou em privilégio, eu poderia estar morando na
rua agora, numa cidade tão violenta como o RJ. Eu já
pensei até em prostituir-me. Mas não vale a pena, melhor
morrer do que me deitar com escrotos nojentos. Eu quero
voar, nos sonhos.
Gostaria de lhe dizer coisas boas, mas só tenho
isso a dizer. Se puder me dizer que sua vida vai bem, isso
vai me alegrar um pouco. Obrigada por tudo o que você
fez por mim. Eu te desejo bem sempre, sempre penso em
você, nunca sairás do meu coração.
Com carinho,
C.
*EM HIPÓTESE ALGUMA utilize qualquer medicação sem
acompanhamento médico especializado. Faz mal, é perigoso e o efeito
pode ser totalmente contrário ao esperado. Evite entrar em contato
com suas antigas analistas, pois pode ser anti-ético e inconveniente.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
me deixando mais à vontade ouvindo um blues
13 de jul de 2020
Não me lembro mais o que ia dizer. Eu estava
deitada na cama. Hoje fumei tanto. O foda é que sempre
sinto que estou entrando numa onda muito criativa, mas
ao invés de desenvolver aquilo, eu continuo fumando e
quando levanto pra fazer o que pensei, já esqueci há muito
tempo… é nisso que me atrapalha. Esse esquecimento.
Hoje fui na psicóloga, falei toda minha verdade e
depois ela me falou que não tinha vaga pra me atender,
pois ela é a ÚNICA psicóloga da Zona Norte e, imagino
eu, existem pessoas muito mais malucas do que eu. Com
problemas bem mais graves e que representam risco às
outras pessoas, sei lá, eu que penso isso, não li em nenhum
lugar, mas acho que essas pessoas têm prioridade e eu
compreendo um sentido nisso. Foi engraçado só eu ter
desabafado tudo de novo, contado quase todas as histórias
de novo e depois ela dizer que não poderia me atender
hahaahah. Eu fiquei realmente grata por ela ter me ouvido
pelo menos, porque eu pude chorar e desabafar e ela
estava lá genuinamente para me ouvir e eu também estava
lá para me ouvir e comecei a entender também outros
aspectos da minha própria história, talvez. Da minha
narrativa. De como eu vou descobrindo ela conforme a
conto e reconto. Entrelinhas escritas por mim no meio das
linhas escritas pelo tempo e pelas consequências dos meus
atos e incontroláveis impulsos.
Talvez eu tivesse muito a dizer quando estava na
cama me entorpecendo, mas por agora, vou me deixando
mais à vontade ouvindo um blues.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Enquanto diagramo este livro
Discuti feio com várias pessoas, parei de falar com
algumas, estive em momentos de puro desespero e agonia,
quis matar e morrer várias vezes, me meti em confusão e
também em situações muito engraçadas; me senti incrível,
amada, quase mijei de rir incontáveis vezes, ri inclusive
com amores com quem briguei também depois.
Amo as pessoas, mas não posso ficar muito perto
delas, elas sentem meu amor, mas sabem que podem se
ferir comigo. Minhas palavras são ferinas, quando uma
parte menos complacente das minhas personas entra no
controle do meu corpo, da minha voz. Do meu cérebro.
Hoje:
5h - acordei com o alarme e achei que estava muito
cedo. Dormiria mais uma hora.
9h - Acordo novamente no maior susto: perdi
algumas horas que poderia ter usado para terminar minhas
obrigações com o
12:28 - Edital que financiou meus delírios e a
coragem para me expor nessa publicação, em favor de que
sei lá. Eu nem sei, minha cabeça já começou a doer aqui.
Ouvindo Nothing Compares to You, você queria o quê?
11h - Pensando em como eu consigo transtornar
amor em guerra. Mentira, eu tava pensando em alguém
por quem sinto amor.
12:29h - Pensando em como eu tenho essa habilidade
dispendiosa, no entanto certeira, de transtornar Amor em
Guerra. Guerra em Amor.
Já fiquei triste e feliz várias vezes. Feliz porque
quero cantar e acho que vou conseguir terminar esse
trabalho com o apoio de minhas famílias e amigs (as que
restaram depois de sofrerem com furacão Chorando Rios).
Triste por, nesse processo, ter nos chacoalhado tanto na
71
#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
vida dessas pessoas, que nos separamos no processo. Mas
também estou sentindo uma certa satisfação em "deixar
ir".
As tristezas e felicidades são pequenas e diárias.
Sempre acabo concordando com a música que diz que a
primeira não tem fim, mas que a segunda sim.
21/01/2021
- Tome as rédeas da sua VIDA!
18 de maio 2018
- Estou me sentindo bem
Na reta final de um segundo ciclo a ser fechado. Medo? Sim!
Mas também bastante confiante!
72
#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
28 de julho de 2020
Sinto tanta vontade de falar, mas os assuntos
só vêm à tona em conversas em chats das interwebs;
estou ficando vazia, mas também me sinto cheia. Cada
hora balançando para um lado diferente, como uma
grande embarcação no meio de um mar tempestuoso,
GRANDES ONDAS, parece que o barco vai virar a
qualquer momento. Uma hora, com tempo e espaço, as
nuvens e ventos e águas vão se acalmando e a grande
embarcação descansa em paz e todo mundo trabalha
de boa dentro dela, sem precisar ficar se segurando em
nada e temendo pela sua vida.
Acabei de entender que só parando e fazendo
é que as coisas vão para frente. Infelizmente eu tenho
ideias fixas. O que chamo de “ideias fixas”, na verdade,
são certas obsessões que desenvolvo, de vez em
quando, com o decorrer do tempo. Geralmente entre
meus relacionamentos afetivos e até no que deveria ser
profissional. Para dizer a verdade mesmo, eu já entendi
isso várias vezes, aprender a prática é que é mais difícil,
mas acho que já estou começando a conseguir. No
entanto, ainda muito questionadora sobre quem são as
peças que me constituem. Essa obsessão diz respeito
a entender o pensamento do outro. Muitas vezes sou
mal interpretada ou muito bem interpretada pelo meu
temperamento deveras crú e até mesmo indecente.
Mesmo que eu seja uma pessoa de muita classe também.
Às vezes sou muito incisiva. Isso assusta. Me assusta
também. Preciso de carinho e cuidado e, principalmente,
compreensão. Mas ninguém é obrigade a nada, muito
menos eu.
73
#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
lembre-se
de criar e
controlar
sua ficção
e sua
realidade
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Não entendo porque estou passando por isso
16 de junho de 2018
Por que minha vida está tão difícil há anos? Na
verdade, acho que sempre foi difícil, só deve ter sido fácil
pra mim quando eu era apenas um bebê, mas já não era
fácil pra minha mãe.
Em 2015 eu me separei de um rapaz que era meu
companheiro, morávamos juntos. Eu estava apaixonada
por outra pessoa também e ele não aceitou. Separamos.
Fiquei sozinha e fui morar numa sala-com-banheiro com
janela pra o corredor, no primeiro andar de uma galeria
no centro da cidade. Muita proximidade com a “boemia”,
muita decepção, muita solidão. Muita pressão para ser
uma funcionária exemplar num call center. Era muito
trabalho pra mim, acordar tão cedo e chegar em casa
tarde, não poder estudar artes, não poder estar na rua.
Mas ia para a rua mesmo sem poder. Muitas festas, muita
bebida. Muitos amigos. Minha gatinha Shanti fugiu logo
no primeiro dia naquela nova moradia. Foi um baque, até
hoje não me recuperei. Eu a amei muito (e ainda amo). A
outra gata, a Diná, fugiu também, mas voltou grávida. Eu
nunca me dei muito bem com a Diná, mas cumpri com
minha obrigação de cuidar dela e de sua prole. Ajudei no
parto. Foi aterrorizantemente lindo. Até que os gatinhos
começaram a espertar e querer correr pela casa nas
madrugadas. Eu já dormia mal, então comecei a dormir
péssimo. Tudo ficou confuso, não lembro bem, fui ficando
cada vez mais sem dinheiro, era caro o aluguel, em relação
ao meu salário.
Tomei a decisão de me mudar para a casa da
minha mãe novamente, após seis meses naquele lugar. Na
ida, a maioria dos filhotes da Diná tinham novos lares e
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
humanos. Ficou só Saudade e a mãe, que foram adotadas
por Adriana, uma amiga muito querida e solidária.
Na casa da minha mãe, tinha que lidar com os velhos
dramas familiares, o principal deles era o fato do meu pai
não falar comigo (...). Muito ruim essa situação, morar em
um lugar onde você não pode ser você mesma, ter que
andar de cabeça baixa. Eu sempre fui muito orgulhosa, o
que não é algo tão bom, mas uma forma de me proteger.
Então não consegui me adaptar àquela nova realidade
naquele velho lugar modificado.
Tomei a decisão de ir morar com uma colega. Sim, não
éramos amigas, mas apenas colegas que mal se conheciam.
Por que eu achei que seria uma boa ideia ir morar com
ela, numa casa que só tinha espaço/privacidade para uma
pessoa? Só pode ter sido uma decisão desesperada. Lembro
que já no dia da mudança eu me estressei.
Não importa o que aconteceu, foi apenas um mês,
não deu certo. Fui embora morar sozinha de novo numa
casinha num fundo de um beco no Alecrim. Era perto
do cemitério, eu gostei disso. Era uma rua tranquila. A
casa era velha, meio caindo aos pedaços, mas tinha uma
portinha dupla muito bonita no cômodo/quarto. Eu achei
que era um ótimo lugar. Tentei retomar, de certa forma,
aquilo que perdi quando me “juntei” com o cara que citei
aqui no início. Mas eu tava naquele emprego ainda, do call
center, sem tempo, longe das pessoas, sem amigs presentes,
comecei a beber ainda mais do que já bebia. Foi péssimo.
Um dia conheci A. Ele foi meu mais violento agressor, o
conheci no dia 12 de março de 2016. Não vou esquecer
nunca, porque foi muito próximo do meu aniversário. Que
só não passei com ele porque ele já tinha demonstrado
ser pegajoso e agressivo. Mas eu não conseguia ver como
vejo hoje. Eu fui afundando naquela relação tão repentina.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Foi como um estupro da minha alma, da minha história,
das minhas vivências. Ele queria controlar tudo e eu fui
abrindo minha vida pra ele. Que louca! Que louco!
Não gosto de lembrar dessa época, eu larguei a
casinha e fui morar com ele, meio contra minha vontade,
mas fui. Não sei explicar, eu tinha medo de magoá-lo,
eu achava que eu podia apanhar o quanto fosse, mas ele
não podia chorar por mim. Eu queria que ele me amasse
e enxergasse meu valor, mas ele só enxergava maldade
em mim, sujeira. Só um tempo depois disso é que eu vim
entender que eu estava com depressão antes mesmo de
me envolver com ele. Eu já nem dormia direito, quando
fui morar na casa da mãe dele, ele me coagia e ameaçava
tanto que larguei o emprego, parei de falar com todas as
pessoas, excluí todas as redes sociais e até e-mails que
datavam mais de 10 anos. Que loucura. Perdi trabalhos
artísticos, deletei por causa dele, medo do que ia pensar e
fazer comigo se visse o que eu fazia. Que doença.
Às vezes, eu confesso, queria que ele me matasse
mesmo. Mas sempre dá muito medo, então eu pedia muito
a Deus pra não morrer. Ele fez coisas horríveis comigo.
Algumas dessas coisas jamais falarei para alguém. Snuff
Porn.
Quando consegui me separar dele… Bem, eu
percebi que poderia ter me separado a qualquer momento,
ele nunca iria me matar, porque não passa de um playboy
narcisista, sociopata ou algo assim, não faz nada que
ameaça, só agride as pessoas porque sabe que não dá em
nada pra homens como ele, ainda mais brancos. Foda. Era
uma sexta-feira, eu fui pra casa da minha mãe, meu irmão
veio com ela me buscar, mas não sem antes sugerir que eu
fosse de ônibus. Eu estava apavorada, 15kg a menos, a pele
pálida e a cara com cicatrizes de queimadura. Eu perguntei,
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
ao telefone, depois de ter corrido alguns quilometros
na Roberto Freire em busca de ajuda: "Você sabe o que é
viver com medo?". Quando chegaram, ele me abraçou, me
transmitiu segurança. Mas no carro disse que era melhor
deixar pra ir na delegacia na segunda, se fosse preciso.
Até hoje me pergunto porque não fomos naquele mesmo
momento? Por quê ele achou que não era necessário?
Dói muito saber que aquele agressor ainda está por
aí fazendo mal à outras mulheres, a começar pela própria
mãe. Dói saber que eu não fiz nada. Dói quando às vezes
penso que eu poderia ter feito tudo diferente e ele poderia
ter me amado. Mas que porcaria de pensamento é esse? Ele
quase me matou e até hoje ainda penso nele com ternura,
algumas vezes. Me sinto doente, ainda não passou, o
veneno desse relacionamento ainda me intoxica. Queria
que ele estivesse morto, só pra que não faça nenhum mal
a nenhuma mulher a mais. Mas também queria que ele
estivesse morto pra que não possa fazer nenhuma mulher
feliz.
Que porcaria de pensamento é esse?
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
26/01/2021 - Duvidando de Mim
Como eu pude imaginar em algum momento que
seria fácil falar sobre a doença mental que me assola,
como eu pude achar que seria eu quem poderia ajudar
alguém que experimenta(ou) o mesmo sofrimento
psíquico que o meu? Por que sou tão arrogante? Por que
me autodeprecio tanto? Por que não me amo o suficiente?
Por que não me amam o suficiente? Por que me sinto só
mesmo “na multidão”? Por que não consigo terminar o
que começo? Por que quero tanto tirar minha vida se ao
mesmo tempo amo tanto viver? Por que ando me sentindo
tão fraca? Por que sou cristalina? Por que permito usarem
minha energia? Por que sou quem eu sou? Por que Sou?
Por quem?
Ontem dormi o dia inteiro, não tive forças, ou me
fiz acreditar que elas estavam ausentes, acordei às 3h e
fiquei chorando e me sentindo um lixo inútil, escrevi isso
em chats, enviei, apaguei em seguida. Nossa!
Que porre! Odeio essa discussão imbecil que
ocorre entre minhas personas (ou chame como quiser),
de que eu presto, de que eu não presto… Isso é o que é
mais estafante!!!!! Você e você o tempo todo dizendo para
si mesma o contrário daquilo que você obviamente sabe
que é verdade.
O limite é como a força G na linha do Equador, eu
viro inércia.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Hoje 08/08/2018
Sinto que estou na maior crise que já tive na
vida. Eu sinto uma certa lucidez, mas ao mesmo tempo
não tenho certeza de nada. Eu acabei de tomar 8mg de
(um ansiolítico fortíssimo), provavelmente dormirei
até amanhã, e ainda são 14h52. Eu já expliquei que não
quero morrer, mas eu tô me cortando muito e tem um
pensamento muito recorrente de enfiar uma faca afiada
e pequena na minha carótida; Me disseram que não
mata. Mas se deixar sangra até morrer. Alguém colhe
meu sangue e faz uma arte com ele? As pessoas comem
sangue de porco e nem ligam. Eu posso enfiar a faca
no pescoço, enfiar, não tentar degolar, o que é idiotice.
Ou, eu também penso, que poderia cortar uma artéria
que passa na perna, não sei o nome, talvez seja o mesmo
outro que falei. Meu quarto está uma bagunça, ontem eu
baguncei tudo, joguei tudo no chão, tinha um cinzeiro
cheio de piúba e caiu e aí tá tudo fedido e cheio de cinza
pelo chão. Misturado meus desenhos, roupas sujas e
limpas. Meus desenhos… Totalmente descuidados. O
maior motivo da minha tristeza. Um dos. Eu vou morrer
e ninguém vai saber minha história. E ela nem é tão
interessante. Mas eu falei pela tinta, pelo lápis de cor e
até pelos bits e bytes da arte digital. Mas ninguém viu.
Alguns viram, mas não muitos. Eu, EU, não quero me
jogar de uma ponte ou na frente de um onibus. Mas a
sensação é de que isso vai acontecer
E quando acabar o (ansiolítico)? Vou fazer o que?
Porque estou vivendo a base dele. Meus amigos gostam
de mim, mas ao mesmo tempo não me aguentam mais
aqui. Uma crise de transtorno mental, seja lá qual for, é
difícil mesmo pros outros lidarem. Porque não dá pra
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
saber até que ponto aquela pessoa está ciente do que
ela realmente quer. Às vezes eu acho que sair e beber
é o certo. Mesmo. Mas aí depois… Eu tô quase virando
prostituta, mas não vou virar. Porque sei lá. Não quero
dar desgosto pra minha mãe. Eu me cortei muito muito
nas coxas e o pior é que achei bonito e vou fazer mais.
Apesar de doer muito e também me deixar muito triste.
Eu não posso me matar, mas eu posso me cortar,
me arranhar, um dia quem sabe alguém me ajude.
Eu quero é ter minhas artes emolduradas para
que eu possa fazer uma expo e vender e que as pessoas
conheçam meu trabalho e quem eu sou. Que eu possa
ser meu próprio sustento.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
27-01-2021
Acordei de novo de madrugada, hoje mais cedo,
ainda era meia-noite. Pensei que fosse conseguir dormir
até de manhã, já que tinha tomado os remédios e logo
adormeci, por volta das 21h. Talvez esteja entrando na tal
virada maníaca de novo. Tentei voltar a dormir depois
de ir ao banheiro, mas ao virar de um lado pro outro na
cama, mal coberta com os lençóis, me sentindo fedida,
suja, cabelo feio, raiva, rancor, ciúmes, pensamentos
obsessivos vêm à mente. As ideias fixas. Uma faca no
bucho, como eu vi na matéria de uma revista qualquer
jogada numa casa qualquer de um gringo qualquer na
Praia da Pipa, dividindo a casa com pessoas que não
me enxergavam (na verdade ninguém me conhecia). A
matéria de capa era sobre um “casal” que “combinou”
de se matar com harakiri. O Harakiri, é preciso ter
muita força para executá-lo com eficiência, depois fiquei
pensando sobre isso em alguma parada de ônibus ou sei
lá aonde. Não sei porque estou escrevendo isso, estou
tentando tirar da minha mente e materializar de alguma
forma todos esses maus sentimentos que me invadem
até mesmo durante a noite, que deveriam ser e vinham
sendo todas tão tranquilas!
Eu não posso gostar de alguém, eu não sei separar
amor de amizade, amor é amizade, sexo é que é outra
coisa, mas amizade também é amor e eu me envolvo
tanto… Pode e deve ser um sintoma. De que eu preciso
superar esses sentimentos todos que direciono para
pessoas específicas e me tornar aquela pessoa rígida
que não se importa em ser solitária. Mas que ajuda
desconhecides, porque as pessoas conhecidas… muitas
vezes me fazem querer não existir.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
29-01-2021
- Não consigo continuar esse trabalho, eu julguei que escrevia
bem, que conseguiria me explanar através da escrita, mas, que
inferno!, se eu tenho que me focar em algo, as densidades dos
mundos me dragam para fora.
23 de abril de 2019
- Eu sei porquê as pessoas gostam de frequentar academia: é
porque dói!
28-01-2021
- Eu tenho que domar o meu Desejo. Entendi agora! Se a Vontade
vem da Necessidade da Vida, da Sobrevivência, então são os
Desejos que nos distraem dos caminhos mais seguros.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Êxtase
9 de abril de 2019
“Eu percebi que eu afasto as pessoas… Eu percebi
que eu tenho graves problemas para me relacionar. Eu
percebi que eu choro pelas pessoas que eu vejo ficando
cada vez mais longe, enquanto sinto pena de mim
mesma. Isso é errado e aqui nasce a necessidade de me
revolucionar. Se você não gosta de mim, você tem sua
razão. Se eu te magoei, espero poder um dia pedir seu
perdão. No meio disso tudo, também percebi… Eu percebi
que não sou fraca como pensei ser. Eu entendi que eu devo
agir por mim, quebrada não terei como ajudar. A partir de
ontem, me tornei um ser resignado. Estou sentindo dores
inexplicáveis pelo corpo, devo encarar como os indícios
do meu novo ciclo de crescimento? Êxtase. Êxtase. Êxtase.
O tempo de adaptação acabou, agora é tempo de criar e
construir o futuro. Obrigado a todos que participaram até
aqui.”
…
Acabei de postar esse texto no Facebook. Futilidade?
Se abrir numa rede social, onde ninguém está se importando
muito com coisas além de trabalho e indiretas? Talvez sim,
talvez não, não interessa. É uma mídia onde expressar. Eu
cheguei num momento de iluminação! Estou feliz! De um
jeito diferente, quieta, meio amarga, mas tenho certeza de
que as coisas vão andar melhor agora.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
30/01/2021
Eu queria colocar muitas coisas nesta publicação,
até perceber, nesse momento, que é impossível explicar
o que eu gostaria de dizer. Eu sinto o apoio de meu guias,
dos meus amigos, até da minha família, mas mesmo
agora com esse sentimento genuíno de sentir-se segura,
sei que estou só. Só de uma maneira muito singular,
com o perdão da redundância, ao meu ver totalmente
necessária. Não que eu seja especial, como já fizeram
questão de me afirmar. Todo mundo é especial dentro
de suas capacidades e habilidades. Ou pelo menos a
maioria. A gente quer acreditar nisso. Num propósito
maior. É necessário terminar a Jornada, naturalmente,
talvez não tão complacente como Justine*, mas com
resignação e sabedoria para enfrentar a dor que é
natural da vida. Nascemos e sentimos dor. Morremos e
sentimos… Dor?
Minha solidão, posso tentar explicar através da
minha vida presente e de algumas vida passadas, sempre
fui essa mesma pessoa e sempre estive só, inclusive
experimentando os elementos naturais no meio do mato.
Impossível ter sido apenas um sonho acordado.
*Justine ou Os Tormentos da Virtude, Marquês de Sade (1787).
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
08/02/2021
Percebi que ao me conectar com algumas partes
desse material me sinto mal.
10/02/2021
Ontem eu dormi o dia inteiro. Não venho tomando
a medicação corretamente, justamente
Esqueci
28 de julho, 2020
Eu ia escrever sobre alguma coisa, mas fiquei
viajando aqui nessa página e vi que não lembro de ter
escrito algumas coisas e agora fiquei alguns minutos, antes
de escrever isso aqui, sem entender e tentando lembrar
quando foi que escrevi um texto que está logo alí abaixo,
tipo um poema… minha cabeça tá doendo tanto, começou
a doer muito do nada
muita gente não é parceira
quanto mais me informo mais louca fico
preciso colocar meus projetos para frente
estou passando mal
meu pescoço dói
é o encosto do medo do abandono e de estar só
MESMO EU AMANDO FICAR SOZINHA
eu desejo e anseio por ficar sola… somente eu numa casa.
Mas o desprezo, mesmo que sem intenção da pessoa, me
deixa passando mal
muito mal, mal mal mal mal mal mal mal mal mal mal mal
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Pois é Carnaval…
Just now·
Estou em casa ouvindo Tim Maia, o nome da
música é Sofre. São 19h43. Neste meu final de ano, estou
tentando seguir o conselho que mais ouvi das minhas vozes
interiores manifestadas nos oráculos das sincronicidades:
“Deixe para trás tudo aquilo que não te serve!”
A questão não é servir no sentido de simplesmente
me ser útil, o que pareceria (não sei se seria ruim) tão frio
e calculista. Para além disso: é o que não Soma. O que não
integra. O que desequilibra. Tudo é Nada e Nada é Tudo,
se a Unidade é consequência da união, não há como existir,
apesar de ser possível, apenas como indivíduo. É preciso
d’A Troca. O A F E T O.
Tim Maia disse: “não vou mais chorar, mas se eu
chorar vai ser baixinho pra ninguém me ver”. Eu não me
importo que me vejam chorando, muito pelo contrário,
prefiro mesmo que vejam, minhas lágrimas, sejam de
angústia ou plenitude, meu sangue, acidental ou não.
Prefiro que vejam como eu faço questão de fazer das minhas
tripas coração, mesmo que isso tenha que ser tratado com
medicação e terapias eternas. Fui, Sou e Serei. Existo e não
quero desistir, por isso performo e ARTiculo.
Se eu sofro, sofri ou sofrerei por ou de Amor, não
me arrependerei, mesmo que doa ainda as cicatrizes, as
quais prefiro cuidar do que apenas tratar, quer saber por
quê? Porque AMEI!!!!!
Obs: Ao reler esse texto me lembrei do Soma, a “bolinha” da
felicidade, do romance distópico de Aldous Huxley, Admirável
Mundo Novo.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
30 de maio de 2018
Comecei a ter abuso desse negócio de ter uma
página só comentar meus transtornos. Eu sou tão
maior do que isso. Mas ao mesmo tempo fico sentindo
a necessidade de deixar registrado isso, não apenas
no sentindo de me lembrar, mas como um diário de
sonhos, sendo que voltado para os surtos (risos).
Penso que alguém pode se deparar com essa
publicação e acabar entendendo que não é só no mundo.
Apesar de ao mesmo tempo entender que podemos
estar sozinhes no mundo, também sei que não somos
sós. Existem outres por aí com as mesmas angústias,
com dores semelhantes, mesmo que ocasionadas por
situações diferentes.
Somos personalidades diferentes, pessoas
diferentes, mas alguma dor, essa dor, nós
compartilhamos. Você pode ver que minha vida
não é apenas derrota e sofrimento, eu venço muito
também, praticamente todos os dias. Aliás, todos os
dias, se contar com minhas funções vitais quase que
incrivelmente perfeitas — hipérbole para quebrar esse
gelo pessimista da minha mente.
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Algum Dia de Maio de 2021
Fui internada por alguns dias num hospital
psiquiátrico. Diagnóstico: Transtorno Afetivo Bipolar.
Medicação: f*, á* v*, d*.
Hoje fazem uns 15 dias que voltei de lá. Ainda sinto
o gosto da comida entranhada na garganta e todos os
cheiros, dessa mesma comida, misturada a mijo e outros
fedores humanos impregnados no meu nariz.
(quase) Ninguém mais fala comigo. Eu perco a
graça.
Meus amigos sumiram.
FIM DOS DIÁRIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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Sentimento Verde
30 de mar de 2021
Lá no alto da Serra
Podemos ver como ela está
Se seu par, O Dia, cedo virá
nos desembalar de nosso sono
E na terra colorida onde dancei
As imagens se tornam mais vívidas
E incrivelmente profundas e brilhantes
Faz emocionar os miseráveis
Sentir o raio solar entrar pela janela
E suavemente me acordar para mais um
dia de horror
Ou de pequenos prazeres
A fuga da consciência em forma de comida
de bebida, de insurgências, de medos
de passados distantes e sombrios
Que teimam em manifestar-se em sonhos
dormindo e acordada
Que se amostram através de dor de
barriga, dor de cabeça, o cansaço do tédio
Da inércia, do desejo amargo na boca
Do suor, da tosse, da garganta seca
Dá ânsia de vômito, a dor
É psico-físico-social, a dor
Se manifesta nos sonhos como algo que
me persegue o tempo todo, em casas mal assombradas,
nos escombros das minhas profundezas, nas ruínas
dos traumas, na cegueira do que eu ainda ignoro.
Lembranças em forma de catarro e um
sentimento verde entranhado
que precisam se emancipar de mim.
#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
16 de julho de 2018
Múltiplas tristezas
acovardaram minhas forças?
posso ir adiante desse fosso?
levantarei-me dessas cinzas?
serei novamente fogo?
perderei o medo das encruzilhadas?
terei meu guia de volta nas cartas?
e meu gosto pelas vestes claras?
hoje me enclausuro no preto
absorvente
uma hora explodo
e então haverá luz de novo?
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
#ALERTA DE GATILHO
por Sânzia Pinheiro
Alerta de Gatilho é um termo que vem sendo usado
atualmente desde o marketing até as mídias sociais. Em
inglês são chamados "trigger warnings" e aparecem nas
postagens para alertar sobre conteúdos sensíveis que
podem despertar no internauta algum tipo de desconforto
ou dar início a uma crise. A publicação #ALERTA DE
GATILHO: Memórias Poéticas de Chorando Rios,
da artista Christalina, propõe o inverso. São vários
autorretratos que narram suas vivências e afetações
relacionadas às crises, autodescobertas e aceitações do
quadro de sofrimentos psíquicos, agravados em razão
das tensões e da insegurança em torno da situação da
pandemia e do consequente isolamento social.
A produção dos trabalhos tem início em 2013, são
registros diários de diferentes processos que encontram
na construção da imagem tomadas de consciência. As
obras foram desenvolvidas em diferentes linguagens
como poesia, fotografia, pintura e desenho digitais.
Algumas imagens são registros de momentos vividos na
pandemia/2020, outras emergem em contextos de quem
tem coragem de descer as suas profundezas.
O autorretrato é um tema bastante presente
na história da arte, definido como uma imagem, uma
representação que a artista faz de si mesma, independente
do suporte escolhido. É um rosto repleto de sugestões,
seja de sentimentos decorrente do sofrimento psíquico
ou a força da energia vital que nos mantém na estrada
que tudo liga!
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
O autorretrato aparece com muita frequência
a partir da renascença italiana. Foi a partir do
desenvolvimento da técnica da produção do vidro em
Veneza, que o gênero autorretrato, vai se fixar no século
XIV. Alguns artistas apresentam alegorias, caricaturas e
também representam condições emocionais específicas,
caso de Frida Kahlo (1907-1954) e Francisco Goya
(1746-1828). O autorretrato passa por transformações
acompanhando as mudanças nos diferentes modos de
operar criados pelos artistas, ao longo da história da
arte.
Christalina lança mão de espelhos, de fotografias,
da memória e de estados emocionais para criar suas
narrativas imagéticas, que por sua vez, são capazes de
produzir outros estados sensíveis de ser e viver. Seu
computador, sua mesa digital, os lápis, as aquarelas etc.
São componentes da magia de uma bruxa, no processo
de transformação da realidade que emergem em seus
desenhos, colagens, pinturas e gif’s.
Preciso me ver, como em um espelho, pois aí vejo a
possibilidade de transformação. Na minha arte posso ser o
que eu quiser, materializar o meu imaginário e criar outros
estados de ser e existir. Nessa fala, a artista aponta para
seus processos criativos, psicológicos e mentais. Seus
processos de criação não estão separados de seus
processos de vida. Os trabalhos exibidos são aparições
de uma pessoa cujo olhar transparece o insondável
abismo de seu mundo interior. Christalina não só exibe
seus trabalhos, como expõe seus processos psíquicos,
desafiando o preconceito com as questões da saúde
mental.
O que sugerem os autorretratos de Christalina?
Sugerem diferentes estados emocionais, como raiva,
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
dor, tristeza, melancolia, vulnerabilidade, sensualidade,
alegria, êxtase, transe e força. Dentre tantos outros que
cada espectador/leitor poderá criar a partir de uma
leitura própria. Em todos o olhar da artista é sempre
muito forte, firme como quem sabe o que não quer.
São produções que a artista vê e deixa se ver
pelo espectador. Os autorretratos de Christalina são
autobiográficos, fragmentos de seus processos de
descobertas, recortes de sua existência. Na poesia Bloco
de Notas I, a artista se sente como o quarto narrado por
Carolina de Jesus, um ambiente marginal de si mesma.
Na obra Possibilidades temos 6 mulheres ou
6 faces de uma mesma mulher? Os mesmos olhos
firmes, a boca parece dizer a mesma coisa. Mas falam
em diferentes direções, os cabelos e adereços as
diferenciam. Parecem estar em uma plataforma de luta
e gritam que a contemporaneidade, resultado do ideal
de emancipação da modernidade, não se efetivou! Pelo
contrário, a violência tomou força e lugar, o patriarcado
e o racismo se fundem com o capitalismo, tornando
a condição social da maioria das mulheres desigual e
opressiva. Criando padrões que não cabem à condição
humana que sempre foi inacabada, multifacetada, não
higienizada e de infinitas possibilidades.
Nos autorretratos de Christalina encontramos
setas do estado emocional em que se encontrava ao
produzir a obra. Viu o que se dava a ver e intui o que
se ocultava, nada é indiferente nesses autorretratos: o
traço, a cor, o gesto, a expressão, a roupa, a solidão. As
imagens aqui publicadas são alertas de gatilhos do nosso
estado mental. Para qual estado psíquico a humanidade
caminha?
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
ÍNDICE DAS POÉTICAS VISUAIS
AlertaDeGatilho (2021)....................................................Capa
Blue............................................................................................3
Autorretrato restaurado 2020.................................................7
Transtorno de Personalidade Borderline I.................................8
Transtorno de Personalidade Borderline III.............................13
Ruemai (autorretrato 2014)..................................................16
Chorei (autorretrato pós-cárcere)........................................20
Página 8 da Zine Fala Comigo (2016).................................22
Desculpa a Falta de Pixels (2013)...........................................25
Autorretrato 2019.2................................................................26
Possibilidades (autorretrato 2014).......................................29
Desejo Realizar Segredos (autorretrato 2020)....................32
Atormentada (detalhe)...........................................................37
Atormentada (autorretrato 2020.2)......................................38
Gatinha (autorretrato 2014)..................................................41
Raivosa (autorretrato 2015)..................................................42
Sufoccation (2020)..................................................................44
Print do vídeo "Selfie ou Autorretrato de Um Aprendiz de
Universos" (2020)....................................................................51
Colagem Despretenciosa (2021)...........................................52
Jaguatirica.3_detalhe.png.....................................................57
FERA (Autorretrato 2019).....................................................58
Experimento II........................................................................61
Autorretrato 2018...................................................................69
Extravaganza (2018)..............................................................74
Cosmológica (2017)...................................................................82
Lilás (2016)..............................................................................91
RoxoRosa (2018).....................................................................97
Chorando Rios Fotocolagem (2021)...........................................98
Querida.png (2014)................................................................101
Transtorno de Personalidade Borderline II...............Contracapa
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
Texto de apresentação:
Transtorno Afetivo Bipolar paralelo à Personalidade
Borderline, pela psicóloga Micaelly Gomes;
Texto Curatorial:
#AlertadeGatilho, por Sânzia Pinheiro, artista e
curadora.
Poesias, pinturas digitais, fotografias/fotocolagens, poesias e proaas: Christalina
Idealização, organização, diagramação, produção geral: Bruxaria Digital
Apoio pré e pós-produção: Rodolfo Holanda
www.bruxariadigital.art
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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#ALERTADEGATILHO: MEMÓRIAS POÉTICAS DE CHORANDO RIOS
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