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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– Escutar e aprender. Tanto Sagaz como eu achamos que esses Salteadores dos Navios

Vermelhos conhecem bem demais as nossas estratégias e forças. Recentemente, Calvar tem se

mostrado relutante em dispensar os fundos necessários para guardar como convém a Torre da

Ilha de Vigia. Por duas vezes foi negligente no seu dever e por duas vezes as vilas da costa do

Ducado de Razos pagaram por sua negligência. Será que esse comportamento dele é apenas

desleixo, ou traição? Será que Calvar anda trocando ideias com o inimigo para proveito

próprio? Queremos que vá farejar por lá, para ver o que consegue descobrir. Se tudo o que

encontrar for inocência ou se tiver apenas fortes suspeitas, traga-nos notícias de volta, mas se

descobrir alguma traição e estiver certo disso, então nunca será cedo demais para nos

livrarmos dele.

– E os meios? – não estava seguro de que aquela fosse a minha voz. Tão casual, tão contida.

– Preparei um pó, sem sabor na comida, sem cor no vinho. Confiamos na sua engenhosidade

e discrição em aplicá-lo.

Ele levantou a tampa de um prato de terracota que estava sobre a mesa. Dentro dele havia

um pacote feito de um papel muito fino, mais fino do que qualquer coisa que Penacarriço

alguma vez tivesse me mostrado. Estranho como o primeiro pensamento que me ocorreu foi o

quanto o meu mestre escriba adoraria trabalhar com um papel daquele. Dentro do pacote

estava o mais fino dos pós brancos, que se agarrava ao papel e flutuava no ar. Breu protegeu a

boca e o nariz com um pano, enquanto retirava uma cuidadosa medida e a colocava num

pedaço dobrado de papel oleado. Estendeu-me, e eu recebi a morte com a palma da mão

aberta.

– E como será o efeito nele?

– Não tão depressa. Ele não cairá morto sobre a mesa, se é isso que você está me

perguntando, mas, se esvaziar o copo, ele vai se sentir indisposto. Conhecendo Calvar,

suspeito que o estômago borbulhante vai levá-lo para a cama e ele nunca mais vai acordar.

Coloquei o papel no bolso.

– Veracidade sabe alguma coisa disso?

Breu refletiu sobre a pergunta.

– Veracidade faz jus ao nome. Ele não conseguiria se sentar à mesa com um homem que

estivesse prestes a ser envenenado e esconder isso. Não, nessa tarefa, o segredo nos serve

melhor do que a verdade – e olhou diretamente nos meus olhos. – Você vai trabalhar sozinho,

sem nenhum aconselhamento que não seja o seu próprio.

– Entendi – eu me remexi na cadeira alta de madeira. – Breu?

– Sim?

– Foi assim com você? A primeira vez?

Ele baixou a cabeça para olhar as mãos e, por um momento, passou os dedos pelas

cicatrizes vermelhas irritadas que percorriam as costas da sua mão esquerda. O silêncio se

prolongou, mas eu esperei.

– Eu era um ano mais velho do que você – disse, por fim. – E foi simplesmente fazer a

coisa, não decidir se ela deveria ser feita. Isso basta para você?

Eu me senti subitamente envergonhado sem saber por quê.

– Suponho que sim – gaguejei.

– Bom. Sei que não fez por mal, garoto, mas um homem não fala do tempo que passa entre

os lençóis com uma dama. E nós, assassinos, não falamos sobre o nosso... trabalho.

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