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fazendo jus às suas palavras, recrutou um grupo de homens e mulheres idosos para guardar a
torre.
Alguns tinham sido soldados, mas a maior parte era de refugiados de Baía Limpa: gente
endividada, batedores de carteira e prostitutas muito velhas, diziam alguns, ao passo que os
simpatizantes de Calvar asseguravam que se tratavam de cidadãos idosos necessitados de um
emprego seguro.
De tudo isso eu sabia mais do que Bronco imaginava, graças às conversas nas tabernas e às
lições de política de Breu, mas mordi a língua e sentei-me quieto e calado durante a sua
detalhada e lenta exposição. Como já havia sucedido anteriormente, percebi que ele me
achava um pouco lento. Interpretava erradamente os meus silêncios como falta de esperteza,
em vez de falta de necessidade de falar.
E assim, laboriosamente, Bronco começou a me instruir sobre as boas maneiras que –
disse-me ele – outros garotos aprendiam simplesmente pelo convívio com os familiares mais
velhos. Devia cumprimentar as pessoas quando as encontrasse pela primeira vez a cada dia ou
quando entrasse num quarto e o achasse ocupado; escapulir silenciosamente não era educado.
Devia tratar as pessoas pelos nomes e, se elas fossem mais velhas do que eu ou de posição
política mais elevada do que eu – como, lembrou-me, seria o caso com quase toda a gente que
eu encontraria durante essa viagem –, deveria dirigir-me a elas fazendo uso dos seus títulos.
Em seguida, encheu a minha cabeça de protocolos: quem precedia quem ao sair de um quarto e
em que circunstâncias (quase todo mundo em quase todas as situações tinha precedência sobre
mim). Seguiram-se as maneiras à mesa. Devia prestar atenção ao lugar onde estava sentado;
devia prestar atenção a quem quer que ocupasse a cabeceira da mesa e ajustar o tempo que eu
demorava para comer de acordo com essa pessoa; explicou-me como fazer um brinde ou uma
série de brindes, sem beber demais, e como falar de forma simpática ou, mais adequadamente,
como escutar atentamente quem quer que estivesse sentado ao meu lado durante um jantar.
Continuou por aí afora, interminavelmente, até que comecei a sonhar acordado com uma
apetecível eternidade limpando arreios.
Bronco chamou a minha atenção com uma cutucada brusca.
– E também não deve fazer isso. Parece um imbecil, sentado aí, fazendo que sim com a
cabeça, e os pensamentos sabe-se lá onde. Não pense que ninguém percebe quando você faz
isso. E não faça essa cara de bravo quando te corrigem. Sente-se direito e ponha uma
expressão agradável na cara. Não esse sorriso vazio, seu idiota. Ah, Fitz, o que vou fazer com
você? Como posso te proteger se constantemente você atrai problemas? E por que eles querem
te levar daqui desse jeito?
As duas últimas perguntas, feitas a si mesmo, traíam a sua verdadeira preocupação. Talvez
eu fosse um pouco estúpido por não tê-lo compreendido antes. Ele não ia comigo. Eu ia. E não
havia nenhuma boa razão que ele pudesse compreender. Bronco tinha vivido tempo suficiente
perto da corte para ser tão cauteloso. Pela primeira vez desde que eu tinha sido confiado a ele,
eu estava sendo afastado da sua proteção. Não tinha passado assim tanto tempo desde o
enterro do meu pai, e, portanto, ele se indagava, embora não ousasse dizer, se eu voltaria ou
se alguém estava criando uma oportunidade para se ver livre de mim discretamente.
Compreendi o golpe que seria no seu orgulho e reputação caso eu “sumisse”; portanto,
respirei fundo e sugeri que talvez quisessem uma mãozinha extra para tratar dos cavalos e dos
cães. Veracidade não ia para lugar nenhum sem Leon, o seu cão caçador de lobos. Apenas