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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Já tinha passado um ano desde a última vez que nos vimos. Como pode uma pessoa mudar

tanto? O seu cabelo negro, que costumava estar preso em tranças firmes atrás das orelhas, caía

agora livremente pelos ombros. Além disso, em vez do gibão e das calças largas, vestia uma

blusa e uma saia. As vestes adultas me deixaram sem palavras. Poderia ter me virado para o

lado e fingido falar com outra pessoa, se os seus olhos negros não tivessem me desafiado

enquanto ela me perguntava com compostura:

– Sangra-Nariz?

Permaneci firme no meu lugar.

– Você não é a Moli Sangra-Nariz?

Levantou a mão para afastar uma madeixa de cabelo da face.

– Sou a Moli Veleira. – vi o reconhecimento nos seus olhos, mas a voz continuava fria. –

Não tenho certeza se eu te conheço. Qual o seu nome, senhor?

Confuso, reagi sem pensar. Sondei a mente dela, encontrei o seu nervosismo e fui

surpreendido pelos seus receios. Em pensamentos e no tom de voz, tentei acalmá-los.

– Sou o Novato – disse sem hesitação.

Os olhos dela se arregalaram de surpresa, e ela começou a rir, achando graça na situação. A

barreira que tinha sido erguida entre nós desapareceu como o estouro de uma bolha de sabão

e, subitamente, eu a conhecia como antes. Havia a mesma calorosa familiaridade entre nós que

me fazia pensar, mais do que qualquer outra coisa, em Narigudo. Toda a timidez desapareceu.

Uma multidão estava se formando em volta das mulheres em luta, mas nós nos afastamos dali,

subindo pela calçada. Eu olhei com admiração para a sua saia, e ela me disse calmamente que

tinha começado a vestir saias já havia vários meses e que as preferia às calças. Essa que

agora vestia tinha sido da sua mãe; tinham dito a ela que hoje em dia era impossível encontrar

uma lã entrelaçada de modo tão fino, ou tingida de um vermelho tão vivo. Admirou-se com as

minhas roupas, e subitamente percebi que eu devia estar tão diferente aos olhos dela como ela

aos meus. Vestia a minha melhor camisa, as calças tinham sido lavadas havia apenas alguns

dias, e calçava botas tão finas como as de qualquer homem de armas, apesar das objeções de

Bronco, que achava um desperdício fazer botas daquelas para um garoto em rápido

crescimento. Perguntou-me o que eu fazia por ali, e respondi que estava a serviço do mestre

escriba da torre. Disse-lhe também que precisava de duas velas de cera de abelha, uma total

invenção da minha parte, mas que me permitiria continuar ao lado dela enquanto subíamos

lentamente a rua sinuosa. Os nossos cotovelos se esbarravam amigavelmente, e ela falava.

Também levava um cesto no braço. Trazia nele vários pacotes e embrulhos de ervas, para

velas perfumadas, disse-me. A cera de abelha absorvia cheiros com muito mais facilidade do

que o sebo, na opinião dela. As melhores velas perfumadas de Torre do Cervo eram feitas por

ela; até mesmo dois outros artesãos de vela da cidade admitiam isso. Isto, cheire isto. É

lavanda. Não é agradável? Era o cheiro favorito da mãe dela, e também o seu. Isto é ervacidreira,

e isto bergamota silvestre. Isto é raiz do ceifeiro, que não era a sua favorita, não, mas

havia quem dissesse que servia para fazer uma boa vela contra enxaquecas e melancolia de

inverno. Mavis Quebra-Fio tinha lhe dito que uma vez a mãe de Moli tinha misturado raiz do

ceifeiro com outras ervas e feito uma vela magnífica, que acalmava até um bebê com cólicas.

E, assim, Moli tinha decidido tentar para ver se conseguia encontrar as ervas certas e recriar a

receita da mãe.

Aquela calma exibição do seu saber e talentos me deixou com uma vontade incrível de

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