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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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daí. Apenas um tempo depois tive a impressão de que as suas palavras sobre Cavalaria tinham

sido quase proféticas.

Dois dias depois, para minha surpresa, fui informado de que Penacarriço havia requisitado

os meus serviços por um dia ou dois. Fiquei ainda mais surpreso quando ele me deu uma lista

de provisões, para que eu as comprasse para ele na cidade, e pratas suficientes para comprálas,

além de duas moedas de cobre para mim. Prendi a minha respiração, esperando que

Bronco ou outro tutor me proibisse, mas, em vez disso, disseram para eu me apressar. Passei

os portões com um cesto no braço e a cabeça inebriada com a súbita liberdade. Contei os

meses desde a última vez em que tinha conseguido escapulir de Torre do Cervo e fiquei

chocado ao perceber que tinha sido há mais de um ano. Imediatamente planejei renovar a

antiga familiaridade com o povo da cidade. Ninguém tinha me dito quando deveria voltar, e

estava confiante de que poderia utilizar uma hora ou duas para mim mesmo sem que ninguém

se desse conta.

A variedade de itens na lista de Penacarriço levou-me a todos os cantos da cidade. Não

fazia ideia do uso que um escriba faz para Cabelos de Sereia desidratados ou nozes silvestres.

Talvez os utilizasse para fazer tintas coloridas, pensei, e quando não consegui encontrá-los

nas lojas normais, fui até o bazar do porto, onde qualquer pessoa com uma manta no chão ou

alguma coisa para vender podia se declarar mercador. Encontrei as algas rapidamente, e

aprendi que eram um ingrediente comum da caldeirada. Demorei mais tempo para achar as

nozes, pois vinham do interior e não do mar, e havia menos mercadores que vendessem esse

tipo de coisa.

Mas, de qualquer maneira, encontrei-as ao lado de cestos de espinhos de ouriço, peças

entalhadas em madeira, pinhas e fibra de casca de carvalho batida. A mulher que tomava conta

dessa manta era velha, e o seu cabelo tinha se tornado prateado em vez de branco ou cinzento.

Tinha um nariz reto e forte, e os olhos se apoiavam em prateleiras ossudas sobre as maçãs do

rosto. Era uma herança racial que me parecia ao mesmo tempo estranha e curiosamente

familiar, e um arrepio desceu pelas minhas costas quando subitamente percebi que ela era

oriunda das montanhas.

– Keppet – disse a mulher na barraca ao lado, quando finalizei a compra.

Olhei para ela, pensando que estava falando com a mulher a quem tinha acabado de pagar,

mas ela estava olhando para mim.

– Keppet – ela disse, insistente, e fiquei pensando no que poderia significar aquilo na língua

dela.

Parecia um pedido, mas a mulher mais idosa apenas encarava friamente a rua, e eu encolhi

os ombros em um gesto de desculpas à sua vizinha mais nova e virei as costas para elas a fim

de ir embora, acomodando as nozes no cesto.

Não tinha andado mais de uma dúzia de passos quando a ouvi gritar “Keppet!” outra vez.

Olhei para trás para ver as duas mulheres engalfinhadas numa luta. A mais velha agarrava os

pulsos da mais nova, enquanto a mais nova se debatia e dava pontapés para se livrar dela. Em

volta, os outros mercadores se agitavam, alarmados, e retiravam rapidamente as suas

mercadorias da zona de perigo. Talvez tivesse voltado atrás para presenciar a disputa, se os

meus olhos não tivessem encontrado nesse momento um rosto mais familiar.

– Sangra-Nariz! – exclamei.

Ela se virou para olhar para mim e por um instante pensei que talvez tivesse me enganado.

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