27.02.2021 Views

O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ideia de me tornar escriba – era todo o conceito de Penacarriço me querer como aprendiz,

para segui-lo nas suas andanças e aprender os segredos da sua arte. Vários anos tinham se

passado desde o selar do meu acordo com o velho rei. Além das noites passadas com Breu e

das tardes roubadas com Moli e Quim, nunca tinha imaginado que alguém sequer me

considerasse uma companhia aceitável, quanto mais um bom candidato a aprendiz. A proposta

de Penacarriço me deixou sem palavras. Ele deve ter notado a minha confusão, pois mostrou o

seu cordial sorriso – meio jovem, meio velho.

– Bem, pense nisso, garoto. Ser escriba é um bom ofício, e que outras perspectivas você

tem? Cá entre nós, penso que algum tempo longe de Torre do Cervo poderia fazer bem a você.

– Longe de Torre do Cervo? – repeti, maravilhado.

Era como se alguém abrisse uma cortina. Nunca tinha considerado aquela ideia. De repente,

as estradas que partiam de Torre do Cervo luziam na minha mente, e os mapas usados que eu

tinha sido forçado a estudar tornavam-se lugares aonde eu poderia ir. Aquela ideia me deixou

pasmo.

– Sim – disse Penacarriço suavemente. – Deixar Torre do Cervo. À medida que você for

envelhecendo, a sombra de Cavalaria irá se tornar mais fraca. Não te protegerá para sempre.

Seria melhor que adquirisse a sua independência, com uma vida e uma vocação próprias para

servirem aos seus interesses, antes que a proteção dele se desvaneça por completo. Mas não

precisa me responder agora. Pense nisso. Fale sobre o assunto com Bronco, talvez.

Ele me deu papel e me mandou de volta ao meu lugar. Eu pensei nas palavras dele, mas não

foi a Bronco que as levei. Nas primeiras horas de um novo dia, Breu e eu estávamos curvados,

cabeça contra cabeça, e eu apanhava os fragmentos vermelhos de uma vasilha partida que

Sorrateiro tinha deixado cair, enquanto Breu tentava recuperar as finas sementes negras que

tinham se espalhado por todos os lados. Sorrateiro se pendurava no topo de uma tapeçaria

meio curvada e emitia um som melódico em pedido de desculpas, mas eu podia sentir o seu

divertimento.

– Vieram diretamente de Calibar, estas sementes, sua tripa de casaco de pele! – repreendeuo

Breu.

– Calibar – disse eu, e aproveitei a deixa –, um dia de viagem para além da nossa fronteira

com Orla da Areia.

– Exatamente, meu garoto – balbuciou Breu em tom de aprovação.

– Alguma vez já esteve lá?

– Eu? Oh, não. Comentava apenas que as sementes vinham de muito longe.

– Tive de mandar buscá-las em Timbre de Abeto. Lá tem um grande mercado, que atrai

comércio de todos os Seis Ducados e também de muitos dos nossos vizinhos.

– Oh. Timbre de Abeto. Alguma vez já esteve lá?

Breu ficou pensando.

– Uma vez ou duas, quando era mais jovem. Lembro-me especialmente do barulho e do

calor. O interior, longe da costa, é assim, bem seco, bem quente. Fiquei contente ao voltar

para Torre do Cervo.

– Tem algum lugar aonde foi que tenha gostado mais do que Torre do Cervo?

Breu endireitou-se devagar, a mão pálida, em concha, cheia de finas sementes negras.

– Por que é que você simplesmente não me pergunta o que quer, em vez de ficar aí dando

voltas?

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!