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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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E então, com mais serenidade:

– Não tenho coragem de fazer isso. Não serei usado outra vez. Se desejava testar o meu

caráter, você conseguiu.

E então:

– Não venha me falar de sangue e família. Lembre-se do que sou para você! Não é com a

lealdade dele que ela está preocupada, nem com a minha.

As vozes raivosas se separaram, fundiram-se, tornaram-se uma discussão diferente, mais

aguda. Forcei para abrir minhas pálpebras. O quarto tinha se transformado na cena de uma

pequena batalha. Acordei no meio de uma intempestiva discussão entre Bronco e Dona

Despachada sobre de quem era a jurisdição. Os cheiros de emplastro de mostarda e de

camomila pairavam sobre mim, tão fortes que eu queria me forçar a vomitar. Bronco mantevese

impassível entre ela e a cama. Seus braços estavam cruzados sobre o peito e Raposa estava

sentada aos seus pés. As palavras de Dona Despachada rangiam na minha cabeça como

cascalho. “Na torre”; “esses lençóis limpos”; “sei sobre garotos”; “esse cão fedorento”. Não

me lembro de Bronco dizer uma palavra. Manteve-se simplesmente ali, tão firme que eu podia

senti-lo com os olhos fechados.

Mais tarde, ele desapareceu, mas Raposa estava na cama, não nos meus pés, mas ao meu

lado, arfando de um jeito carregado, mas se recusando a me trocar pelo chão fresco. Abri os

olhos outra vez, mais tarde ainda, e era início de crepúsculo. Bronco tinha retirado a minha

almofada, abanado-a um pouco e a enfiava desajeitadamente debaixo da minha cabeça, com o

lado mais fresco para cima. Então se sentou pesadamente na cama.

Limpou a garganta:

– Fitz, você não tem nenhum problema que eu já tenha visto antes. Pelo menos, qualquer que

seja esse problema, não está nas tripas, nem no sangue. Se você fosse mais velho, suspeitaria

que tivesse problemas com mulheres. Você está agindo como um soldado numa bebedeira de

três dias, mas sem o vinho. Garoto, o que é que está acontecendo com você?

Olhou para mim com uma preocupação sincera. Era o mesmo olhar que lançava quando

receava que uma égua fosse abortar, ou quando caçadores traziam de volta cães que os javalis

tinham atacado. A sua consternação me tocou e, sem querer, sondei sua mente. Como sempre,

a barreira estava lá, mas Raposa gemeu levemente e encostou o focinho no meu rosto. Tentei

exprimir o que estava na minha alma sem trair Breu.

– Estou tão sozinho, agora – eu me ouvi dizer, e até para mim soou como uma reclamação

sem importância.

– Sozinho? As sobrancelhas de Bronco se juntaram. – Fitz, eu estou aqui. Como pode dizer

que está sozinho?

E ali acabou a conversa, com ambos olhando um para o outro e sem realmente nos

compreendermos. Mais tarde, ele trouxe comida para mim, mas não insistiu para que eu

comesse, e deixou Raposa me fazendo companhia durante a noite. Uma parte de mim tentava

imaginar como é que ela reagiria se a porta se abrisse, mas outra parte de mim sabia que eu

não precisava me preocupar com isso. Aquela porta nunca se abriria outra vez.

A manhã veio de novo, e Raposa me afocinhou, gemendo que queria sair. Acabado demais

para me preocupar caso Bronco me pegasse, sondei a mente dela. Estava esfomeada, com sede

e com a bexiga quase estourando, e de repente o desconforto dela também se tornou meu. Vesti

uma túnica e levei-a escada abaixo rumo à parte de fora e, em seguida, de volta à cozinha para

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