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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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progredindo sob o olhar aprovador de Breu.

Logo ele começou a me usar para pequenas tarefas na torre. Nunca me dizia, antes do

tempo, se eram testes às minhas habilidades ou verdadeiras missões que desejava ver

cumpridas. Para mim não tinha nenhuma diferença: executava cada uma delas com

determinação e devoção a Breu e a tudo o que ele me ordenava. Na primavera desse ano,

preparei as taças de vinho de uma delegação visitante de mercadores de Vilamonte para que

ficassem muito mais bêbados do que pretendiam. Mais tarde, nesse mesmo mês, escondi um

boneco de uma trupe de teatro de marionetes, para que tivessem de apresentar o Incidente das

Taças Correspondentes, um breve conto popular, em vez do longo drama histórico que haviam

planejado para aquela noite. No Festival do Solstício, adicionei uma certa erva à chaleira que

continha o chá da tarde de uma criada, de modo que ela e três amigas suas fossem acometidas

por diarreia e não pudessem servir à mesa naquela noite. No outono, amarrei uma linha em

volta do calcanhar do cavalo de um nobre visitante, para que o animal ficasse

temporariamente manco, convencendo o nobre a permanecer em Torre do Cervo por dois dias

a mais do que havia planejado. Nunca sabia das razões por trás das tarefas que Breu me dava.

Naquela idade, concentrava os meus pensamentos em como fazer uma coisa e não no porquê

dela. E isso, também, era algo que creio ter sido ensinado intencionalmente para mim:

obedecer sem questionar a razão por que a ordem foi dada.

Houve uma tarefa que me deliciou. Mesmo na ocasião, sabia que a missão era mais do que

um capricho de Breu. Ele me chamou no final da noite, um pouco antes da madrugada.

– Dom Falcorreia e a sua dama estão aqui de visita, desde duas semanas atrás. Você os

conhece de vista; ele tem um bigode muito longo e ela vive ajeitando o cabelo, mesmo à mesa.

Sabe de quem estou falando?

Franzi a sobrancelha. Muitos nobres estavam reunidos em Torre do Cervo para formar um

conselho com o intuito de discutir o aumento de invasões dos Ilhéus. Pelo que eu tinha

percebido, os Ducados Costeiros queriam mais navios de guerra, mas os Ducados do Interior

opunham-se à partilha dos impostos para aquilo que viam como um problema puramente

costeiro. Dom Falcorreia e a Dama Dália eram do interior. Falcorreia e os seus bigodes

pareciam ter um temperamento instável e estar constantemente em comoção. A Dama Dália,

em contrapartida, parecia não se interessar muito pelo conselho, e passava a maior parte do

tempo explorando Torre do Cervo.

– Ela sempre usa flores no cabelo? Que vivem caindo?

– Essa mesma – respondeu Breu enfaticamente. – Bem. Você a conhece. Agora, esta é a

missão, e não tenho tempo de planejá-la em mais detalhes com você. Num dado momento

durante o dia de hoje, ela vai enviar um mensageiro ao quarto do Príncipe Majestoso. O

mensageiro irá entregar qualquer coisa – um bilhete, uma flor, um objeto qualquer. Você

deverá retirar esse objeto do quarto de Majestoso antes que ele o veja. Entendeu?

Eu concordei e abri a boca para dizer algo, mas Breu se levantou subitamente e quase me

expulsou do quarto.

– Não temos tempo, já está quase amanhecendo! – anunciou.

Eu dei um jeito de estar no quarto de Majestoso, escondido, quando a mensageira chegou.

Pela maneira como a mocinha entrou no quarto, convenci-me de que não era a sua primeira

missão. Colocou um pequeno rolo de pergaminho e um botão de flor na almofada de

Majestoso e esgueirou-se para fora do quarto. No instante seguinte, ambos os objetos estavam

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