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conversa com a filha do dono da casa, que haviam esperançosamente colocado ao lado do
Príncipe Herdeiro. Ela lhe perguntou o que achava das esmeraldas que ela trazia no pescoço,
e ele lhe fez um elogio. “Estava me perguntando, senhor, se gosta de joias, pois não está
usando nenhuma esta noite”, disse ela num tom provocante. E ele respondeu, com seriedade,
que as joias dele luziam tão brilhantes quanto as dela, e muito maiores. “Oh, e onde guarda
essas joias, pois adoraria vê-las.” E ele lhe respondeu que teria o maior gosto em mostrá-las a
ela mais tarde, naquela mesma noite, quando estivesse mais escuro. Ela corou, esperando
algum tipo de convite secreto. Mais tarde, de fato ele a convidou a acompanhá-lo até a
muralha, mas levou também com eles metade dos convidados do jantar. Lá, ele apontou as
luzes das torres de vigia na costa, brilhando claramente na escuridão, e disse a ela que
considerava aquelas as suas melhores e mais queridas joias, e que tinha gastado o dinheiro
dos impostos pagos pelo pai dela para mantê-las brilhando assim. E então mostrou aos
convidados as luzes tremeluzentes dos guardas daquele homem nobre, dispostas ao longo das
fortificações do castelo, e disse-lhes que, quando olhassem para o Duque, deviam ver aquelas
luzes brilhantes como joias em sua testa. Foi um belo elogio ao Duque e à Duquesa, e os
outros nobres prestaram muita atenção àquele gesto. Os Ilhéus tiveram muito poucas invasões
bem-sucedidas naquele verão. Era assim que Cavalaria reinava. Pelo exemplo e pelo encanto
de suas palavras. Assim deveria fazer qualquer verdadeiro príncipe.
– Eu não sou um verdadeiro príncipe. Sou um bastardo. – Foi estranho ouvir da minha
própria boca aquela palavra que ouvia com tanta frequência e dizia tão raramente.
Bronco suspirou.
– Seja o seu sangue, garoto, e ignore o que os outros pensam sobre você.
– Às vezes fico cansado de ter de fazer sempre as coisas mais difíceis.
– Eu também.
Absorvi isso em silêncio por um tempo, enquanto esfregava o ombro de Fuligem. Bronco,
ainda ajoelhado ao lado do potro, falou de repente:
– Não te peço mais do que a mim mesmo. Sabe que é verdade.
– Eu sei disso – respondi, surpreendido que ele falasse daquilo outra vez.
– Só quero fazer o melhor por você.
Aquilo era uma ideia totalmente nova para mim. Depois de um momento, perguntei:
– Porque se você pudesse fazer com que Cavalaria sentisse orgulho de mim, do que fez
comigo, talvez ele voltasse?
O som rítmico das mãos de Bronco esfregando bálsamo na perna do potro diminuiu de
velocidade e então parou, abruptamente. Mas ele continuou de cócoras ao lado do cavalo e
falou calmamente através da parede da baia.
– Não. Não penso isso. Não acho que nada possa trazê-lo de volta. E, ainda que viesse – e
então Bronco começou a falar mais lentamente –, ainda que viesse, não seria o homem que
costumava ser. Antes, quero dizer.
– É tudo culpa minha, que ele tenha ido embora, não é?
As palavras das mulheres enquanto costuravam ecoaram na minha cabeça. Se não fosse
pelo garoto, ele ainda seria o sucessor do rei.
Bronco fez uma longa pausa.
– Não acho que seja culpa de algum homem nascer... – suspirou, e as palavras pareceram
vir à sua boca com mais relutância. – E é fato que não tem como um bebê deixar de ser