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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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conversa com a filha do dono da casa, que haviam esperançosamente colocado ao lado do

Príncipe Herdeiro. Ela lhe perguntou o que achava das esmeraldas que ela trazia no pescoço,

e ele lhe fez um elogio. “Estava me perguntando, senhor, se gosta de joias, pois não está

usando nenhuma esta noite”, disse ela num tom provocante. E ele respondeu, com seriedade,

que as joias dele luziam tão brilhantes quanto as dela, e muito maiores. “Oh, e onde guarda

essas joias, pois adoraria vê-las.” E ele lhe respondeu que teria o maior gosto em mostrá-las a

ela mais tarde, naquela mesma noite, quando estivesse mais escuro. Ela corou, esperando

algum tipo de convite secreto. Mais tarde, de fato ele a convidou a acompanhá-lo até a

muralha, mas levou também com eles metade dos convidados do jantar. Lá, ele apontou as

luzes das torres de vigia na costa, brilhando claramente na escuridão, e disse a ela que

considerava aquelas as suas melhores e mais queridas joias, e que tinha gastado o dinheiro

dos impostos pagos pelo pai dela para mantê-las brilhando assim. E então mostrou aos

convidados as luzes tremeluzentes dos guardas daquele homem nobre, dispostas ao longo das

fortificações do castelo, e disse-lhes que, quando olhassem para o Duque, deviam ver aquelas

luzes brilhantes como joias em sua testa. Foi um belo elogio ao Duque e à Duquesa, e os

outros nobres prestaram muita atenção àquele gesto. Os Ilhéus tiveram muito poucas invasões

bem-sucedidas naquele verão. Era assim que Cavalaria reinava. Pelo exemplo e pelo encanto

de suas palavras. Assim deveria fazer qualquer verdadeiro príncipe.

– Eu não sou um verdadeiro príncipe. Sou um bastardo. – Foi estranho ouvir da minha

própria boca aquela palavra que ouvia com tanta frequência e dizia tão raramente.

Bronco suspirou.

– Seja o seu sangue, garoto, e ignore o que os outros pensam sobre você.

– Às vezes fico cansado de ter de fazer sempre as coisas mais difíceis.

– Eu também.

Absorvi isso em silêncio por um tempo, enquanto esfregava o ombro de Fuligem. Bronco,

ainda ajoelhado ao lado do potro, falou de repente:

– Não te peço mais do que a mim mesmo. Sabe que é verdade.

– Eu sei disso – respondi, surpreendido que ele falasse daquilo outra vez.

– Só quero fazer o melhor por você.

Aquilo era uma ideia totalmente nova para mim. Depois de um momento, perguntei:

– Porque se você pudesse fazer com que Cavalaria sentisse orgulho de mim, do que fez

comigo, talvez ele voltasse?

O som rítmico das mãos de Bronco esfregando bálsamo na perna do potro diminuiu de

velocidade e então parou, abruptamente. Mas ele continuou de cócoras ao lado do cavalo e

falou calmamente através da parede da baia.

– Não. Não penso isso. Não acho que nada possa trazê-lo de volta. E, ainda que viesse – e

então Bronco começou a falar mais lentamente –, ainda que viesse, não seria o homem que

costumava ser. Antes, quero dizer.

– É tudo culpa minha, que ele tenha ido embora, não é?

As palavras das mulheres enquanto costuravam ecoaram na minha cabeça. Se não fosse

pelo garoto, ele ainda seria o sucessor do rei.

Bronco fez uma longa pausa.

– Não acho que seja culpa de algum homem nascer... – suspirou, e as palavras pareceram

vir à sua boca com mais relutância. – E é fato que não tem como um bebê deixar de ser

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