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vez a camisola, e ele me acompanhou pelos degraus abaixo. Segurou a luz brilhante da
lamparina ao pé da minha cama, enquanto eu subia nela, e aconchegou os cobertores sobre
mim como ninguém tinha feito desde que eu tinha deixado os aposentos de Bronco. Penso que
adormeci antes que ele deixasse a beira da cama.
Brante foi enviado para me acordar, de tão atrasado que eu estava. Despertei, como se
estivesse embriagado, e senti uma forte dor latejante na cabeça. Contudo, logo que ele partiu,
saltei da cama e corri até o canto do quarto. Ao empurrar a parede, as minhas mãos
encontraram apenas pedra fria, e nenhuma fenda na pedra ou na argamassa revelava a
existência da porta secreta que tinha estado ali na noite anterior. Nem por um instante pensei
que Breu tivesse sido um sonho. De qualquer forma, o simples bracelete de cobre no meu
pulso provava a sua existência.
Vesti minhas roupas apressadamente e passei pela cozinha para pegar um pedaço de pão e
queijo que ainda estava comendo quando cheguei às baias. Bronco ficou irritado com o meu
atraso e achou defeitos em tudo o que tentei fazer, fosse montar a cavalo ou cuidar das baias.
Lembro-me bem de como me repreendeu:
– Não pense que, porque você tem um quarto no topo da torre e um brasão no gibão, pode
se tornar um malandro que perambula por aí, ronca na cama até quando quer e só se levanta
para ajeitar o cabelo. Não vou tolerar isso. Bastardo você pode ser, mas é o bastardo de
Cavalaria, e vou fazer de você um homem de quem ele se orgulhe.
Fiquei imóvel e, com a escova de pentear os cavalos ainda nas mãos, perguntei:
– Está se referindo a Majestoso, não é?
A pergunta inesperada o surpreendeu.
– O quê?
– Quando fala de malandros que passam toda a manhã na cama e não fazem nada senão se
preocupar com o cabelo e com as roupas, está falando de Majestoso.
Bronco abriu a boca e fechou-a logo em seguida. As maçãs do rosto coradas pelo vento
tornaram-se ainda mais vermelhas. Por fim, resmungou:
– Nem eu nem você estamos em posição de criticar qualquer um dos príncipes. E te digo
isso apenas como uma regra geral, que dormir de manhã não fica bem a um homem, e ainda
pior a um garoto.
– E nunca a um príncipe – disse isso e parei para perguntar a mim mesmo de onde é que eu
tinha tirado aquele pensamento.
– E nunca a um príncipe – Bronco concordou, sério.
Ele estava ocupado na baia, tratando a perna machucada de um potro. O animal estremeceu
de repente, e ouvi Bronco grunhir com o esforço de segurá-lo.
– O seu pai nunca dormia até mais tarde do que o ponto médio do sol só porque tinha
bebido na noite anterior. Claro que ele tinha uma resistência ao vinho como nunca vi antes,
mas também tinha disciplina com isso. Não tinha um criado designado para acordá-lo:
levantava sozinho da cama todos os dias e esperava que os seus homens seguissem o exemplo.
Nem sempre isso o tornava popular, mas os soldados o respeitavam. Homens gostam disso
num líder, que exija de si mesmo o que espera deles. E vou te dizer outra coisa: o seu pai não
gastava dinheiro se enfeitando como um pavão. Quando era mais jovem, antes de se casar com
Dama Paciência, estava jantando uma noite numa dessas torres menores. Eu estava sentado
não muito longe dele, o que era uma grande honra para mim, e eu ouvi um pouco da sua