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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– Bem, o que você pretende fazer, então?

Respirei fundo.

– O rei deveria me dar um nome. Ou você. –Tomei coragem. – Ou meu pai. Você não acha?

Bronco franziu as sobrancelhas.

– Você tem umas ideias estranhas. Pense nisso por um tempo. Você vai encontrar um nome

que sirva.

– Fitz – disse eu com sarcasmo, e vi Bronco cerrar os dentes.

– Vamos logo remendar este couro – sugeriu calmamente. Nós o levamos para a mesa de

trabalho e começamos a batê-lo.

– Bastardos não são assim tão raros – observei. – E na cidade os pais lhes dão nomes.

– Na cidade, bastardos não são raros mesmo – concordou Bronco depois de um momento. –

Soldados e marinheiros se envolvem com muitas mulheres. São os modos vulgares do povo

vulgar. Mas não da realeza. Ou de quem quer que tenha um resquício de orgulho. O que você

teria pensado de mim, quando era mais novo, se eu tivesse andado com mulheres à noite, ou as

tivesse trazido para o quarto? Como veria as mulheres agora? Ou os homens? Tudo bem uma

pessoa se apaixonar, Fitz, e ninguém vai negar a uma moça ou a um rapaz um beijo ou dois.

Mas eu vi como fazem em Vilamonte. Os mercadores trazem moças bonitas ou jovens

vigorosas para o mercado como galinhas ou batatas. E as crianças que elas acabam dando à

luz podem até ter nomes, mas não muito mais do que isso. E mesmo quando se casam, isso não

significa que vão parar com... os hábitos. Se alguma vez encontrar a mulher certa, vou querer

que ela saiba que não vou sair à procura de outra. E vou querer saber que todos os meus filhos

serão meus.

Bronco estava quase exaltado. Olhei para ele com tristeza.

– Então o que aconteceu com o meu pai?

Ele pareceu repentinamente cansado.

– Não sei, garoto. Não sei. Na época ele era bastante jovem, com uns vinte anos de idade

apenas, e estava longe de casa, carregando um fardo pesado... sei que tudo isso não é motivo

nem desculpa suficiente, mas é tudo o que saberemos um dia dessa história.

E ficou nisso.

A minha vida se desenrolava de acordo com a rotina estabelecida. Passava as noites no

estábulo, na companhia de Bronco, ou, mais raramente, no Grande Salão, quando recebia

algum menestrel viajante ou espetáculo de marionetes. Muito de vez em quando, eu conseguia

escapulir para uma noite lá embaixo, na cidade, mas isso significava pagar no dia seguinte

pelo sono perdido. Minhas tardes eram inevitavelmente passadas com algum tutor ou instrutor.

Acabei percebendo que aquelas eram as minhas lições de verão e que no inverno – conforme

Bronco havia me dito – eu seria iniciado a outro tipo de aprendizagem, relacionada com penas

e letras. Eu era mantido mais ocupado do que jamais havia sido na minha jovem vida. Porém,

apesar do meu horário tão cheio, passava a maior parte do tempo sozinho.

Solidão.

Ela me encontrava todas as noites, quando eu procurava em vão um cantinho pequeno e

acolhedor na minha grande cama. Antes, quando eu dormia no andar de cima do estábulo, nos

aposentos de Bronco, as noites eram confusas, os sonhos repletos de urzes coloridas, da

satisfação quente e cansada dos animais que se mexiam durante o sono, batendo os cascos, no

andar debaixo de mim. Cavalos e cães sonham, como bem sabe qualquer um que alguma vez

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