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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– A família real vive nesta ala – informou-me, como quem não quer nada. – O rei tem um

quarto tão grande quanto o estábulo, lá no final deste corredor.

Assenti, acreditando cegamente em tudo o que me dizia, embora mais tarde tenha

descoberto que um rapaz de recados como Brante jamais teria entrado na ala real, privilégio

este reservado a lacaios mais importantes. Conduziu-me por outro lance de escadas e fez mais

uma pausa.

– Os visitantes são alojados aqui – disse ele, gesticulando com o candelabro, de modo que

a corrente de ar causada pelo movimento agitou as chamas. – Os visitantes importantes, é

claro.

E subimos mais um lance de escadas, os degraus estreitando-se perceptivelmente em

relação aos dois lances anteriores. No patamar seguinte fizemos mais uma pausa, e olhei com

temor para o lance de escadas acima, ainda mais estreitos e íngremes. Brante, porém, não me

conduziu nessa direção. Em vez disso, seguimos nesta nova ala, passamos por três portas, e

então ele destrancou uma porta e a abriu com um empurrão de ombro. Esta deslizou

pesadamente e sem suavidade.

– O quarto não foi usado por uns tempos – observou, animado. – Mas agora é seu e você é

bem-vindo aqui.

Com isso, colocou o candelabro sobre um baú, tirou uma vela e foi embora. Fechou a

pesada porta atrás dele, deixando-me na penumbra de um quarto grande e desconhecido.

Por alguma razão, contive o instinto de sair correndo atrás dele ou abrir a porta. Em vez

disso, peguei o candelabro e acendi as velas dos candeeiros que ficavam nas paredes. Havia

uma lareira com uma fagulha lastimável em brasa. Aticei-a um pouco, mais pela luz do que

pelo calor, e comecei a explorar o meu novo aposento.

Era um quarto simples e quadrado, com uma única janela. As paredes de pedra, da mesma

pedra que o chão sob os meus pés, eram suavizadas por uma tapeçaria pendurada. Ergui a vela

para examiná-la, mas não consegui iluminá-la o suficiente. Pude enxergar uma espécie de

criatura reluzente e alada, e um personagem majestoso suplicando diante dela. Disseram-me

depois que era uma representação do Rei Sábio tornando-se amigo de um Antigo. Naquele

momento, aquilo me pareceu ameaçador. Afastei-me.

Alguém tinha empreendido uma tentativa superficial de refrescar o quarto. Havia ervas e

juncos limpos espalhados pelo chão, e a cama de penas tinha um aspecto afofado e de recémarrumado.

Os dois cobertores colocados em cima dela eram de boa lã. A cortina da cama

tinha sido puxado para trás, e o baú e o banco que constituíam o resto da mobília estavam sem

poeira. Aos meus olhos inexperientes, parecia ser, sem dúvida, um quarto luxuoso. Uma cama

de verdade, com cobertas e cortina penduradas, e um banco com uma almofada e um baú para

guardar coisas eram muito mais mobília do que eu conseguia me lembrar de ter tido alguma

vez na vida. Havia também a lareira, à qual eu audaciosamente acrescentei outro pedaço de

lenha, e a janela, com um assento de carvalho diante dela, fechada agora contra o ar da noite,

mas provavelmente com vista para o mar.

O baú era simples, emoldurado com encaixes de cobre. Por fora era escuro, mas quando o

abri, vi que o interior era claro e perfumado. Dentro do baú achei o meu limitado guardaroupa,

trazido do estábulo. Duas camisolas tinham sido adicionadas e um cobertor de lã estava

enrolado num canto. E era tudo. Tirei uma camisola e fechei o baú.

Pus a camisola sobre a cama e me deixei cair em cima dela. Era cedo para pensar em

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