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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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sabe.

Não foi preciso muito tempo para ela chegar à conclusão de que eu não sabia praticamente

nada e que era intimidado com facilidade. Após não muitas pancadas e golpes com o seu

próprio bastão marrom, ela facilmente tomou o meu, num movimento rápido que o lançou

rodopiando para longe das minhas mãos doloridas.

– Hum – disse ela, sem rispidez nem simpatia.

O mesmo tipo de som que uma jardineira soltaria por causa de um canteiro de batatas que

estivesse com um pouco de fungo por cima. Tentei sondar a mente dela e encontrei a mesma

espécie de quietude que tinha achado na minha égua. Ela não tinha nenhuma das proteções de

Bronco em relação a mim. Acho que foi a primeira vez que percebi que algumas pessoas,

assim como alguns animais, ficam completamente inconscientes do meu contato com elas.

Podia ter continuado a sondá-la, aventurando-me mais nos confins da sua mente, mas estava

tão aliviado por não encontrar nenhuma hostilidade que tive medo de agir de modo

inconveniente. Por isso, continuei em pé, acanhado e imóvel durante a sua inspeção.

– Como se chama, garoto? – perguntou de repente. Outra vez.

– Fitz.

Ela franziu as sobrancelhas diante daquela palavra suave. Endireitei-me e falei mais alto.

– Fitz é como Bronco me chama.

Ela recuou um pouco.

– É a cara dele. Chama uma cadela de cadela, um bastardo de bastardo; assim é o Bronco.

Bem... acho que consigo entender os motivos dele. Se você é o Fitz, então Fitz é como eu te

chamarei também. Agora, eu tenho que te mostrar por que a vara que escolheu é muito

comprida para você, e muito grossa. Depois, você vai escolher outra.

E assim ela fez, e assim eu fiz, e ela me conduziu lentamente por um exercício que me

pareceu incrivelmente complexo naquele momento, mas que, já no fim da semana, não era

mais difícil do que fazer uma trança na crina de um cavalo. Terminamos exatamente quando os

outros alunos dela chegaram. Eram quatro, todos mais ou menos da minha idade, mas todos

mais experientes do que eu. Criou-se uma situação embaraçosa, já que agora havia um número

ímpar de alunos, e nenhum dos antigos estava particularmente interessado em ter o recémchegado

como parceiro de treino.

Não sei como sobrevivi a esse dia, embora a memória dos detalhes se esvaía numa

abençoada névoa. Lembro-me de como eu estava todo dolorido quando ela finalmente nos

dispensou; de como os outros saíram correndo pelo caminho de volta à torre enquanto eu segui

desanimado atrás deles, repreendendo-me por ter chamado a atenção do rei. Foi uma longa

subida até a torre, e o salão estava barulhento e cheio de gente. Estava cansado demais para

comer muito. Guisado com pão – eu acho – foi tudo o que comi, e eu já tinha deixado a mesa,

mancando em direção à porta, com os meus pensamentos concentrados apenas no calor e no

silêncio dos estábulos, quando Brante me abordou outra vez.

– Os seus aposentos estão prontos – disse.

Lancei um olhar desesperado para Bronco, mas ele estava ocupado numa conversa com o

homem ao lado dele e nem percebeu a minha súplica. E assim, mais uma vez, segui Brante,

desta vez para cima, por uma larga escadaria de pedra, em direção a uma parte da torre que eu

nunca havia explorado. Fizemos uma pausa num patamar da escada, e ele pegou um

candelabro da mesa e acendeu as velas.

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