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tempestade. Comecei a pensar se ele iria me bater e se esperava que eu revidasse ou fugisse.
Já tinha quase decidido fugir quando uma figura de grande porte, vestida de cinza da cabeça
aos pés, apareceu atrás de Brante e segurou com firmeza a nuca dele.
– Ouvi dizer que o rei falou que ele devia receber treino, sim, e um cavalo para aprender a
montar. E isso é suficiente para mim e devia ser mais do que suficiente para você, Brante. E,
pelo que ouvi, foi dito a você que o trouxesse até aqui e, em seguida, se reportasse ao Mestre
Tulmo, que tem serviço para você. Não foi isso que você ouviu?
– Sim, senhora. – a combatividade de Brante transformou-se subitamente em consentimento
atrapalhado.
– E já que você está “ouvindo” todas essas fofocas tão importantes, devo lembrá-lo de que
nenhum homem sábio diz tudo o que sabe. E para quem traz consigo tantas historinhas, pouco
lhe resta na cabeça. Você entende o que eu quero dizer, Brante?
– Acho que sim, senhora.
– Acha que sim? Bem, então vou ser mais explícita. Pare de ser um fofoqueiro e cuide das
suas obrigações. Seja aplicado e mostre boa vontade, e talvez o povo comece a dizer que você
é minha “mascote”. Assim saberei que você está ocupado demais para fofocar.
– Sim, senhora.
– Você, garoto. – Brante já estava correndo pelo caminho quando ela se virou para mim. –
Siga-me.
A velha não esperou para ver se eu lhe obedecia ou não. Simplesmente partiu num passo
firme e rápido através dos campos abertos de treinamento, forçando-me a correr atrás dela
para conseguir acompanhá-la. A terra batida do campo era dura, e eu sentia o sol forte nos
meus ombros. Fiquei quase imediatamente encharcado de suor, mas a mulher parecia não se
sentir desconfortável no seu passo rápido.
Ela estava completamente vestida de cinza: uma túnica cinza, longa e escura, calças de
malha em um cinza mais claro e, em cima de tudo isso, um avental cinza de couro que quase
chegava aos joelhos. Ela era uma espécie de jardineira, foi o que imaginei, embora achasse
estranho que ela calçasse botas cinza e macias de couro.
– Fui trazido aqui para ter aulas... com Hode – consegui dizer, ofegante.
Ela assentiu bem rápido. Chegamos à sombra da armaria e os meus olhos ficaram aliviados,
gratos por fugirem da claridade dos campos abertos.
– Devo ter aulas sobre armaduras e armas – disse-lhe, caso ela tivesse compreendido mal
as minhas primeiras palavras.
Ela assentiu outra vez e abriu uma porta que dava para uma estrutura semelhante a um
celeiro, que era a armaria exterior. Aqui, eu já sabia, eram guardadas as armas de treino. As
de ferro e aço, de boa qualidade, eram mantidas dentro da própria torre. No interior da
armaria havia uma meia-luz suave, um leve frescor e um cheiro de madeira, suor e junco que
tinha acabado de ser espalhado pelo chão. Ela passou direto, e eu a segui até um suporte cheio
de varas.
– Escolha um – disse-me, e essas foram as primeiras palavras que ela tinha pronunciado
desde que me havia instruído a segui-la.
– Não seria melhor esperar por Hode? – perguntei timidamente.
– Eu sou Hode – respondeu-me com impaciência. – Agora escolha um bastão, garoto. Quero
ter algum tempo a sós com você, antes que os outros cheguem. Para ver quem você é e o que