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treino de armas no pátio, hoje à tarde. Isso se Bronco não precisar mais de você, é claro.
Bronco apareceu subitamente ao meu lado e surpreendeu-me ao ajoelhar-se diante de mim.
Arrumou meu gibão e ajeitou o meu cabelo enquanto dizia:
– Por enquanto, terminei. Bem, não fique tão espantado, Fitz. Por acaso você pensou que o
rei não era um homem de palavra? Limpe a boca e siga seu rumo. Hode trata os alunos com
mais rigor do que eu; atrasos não são tolerados no pátio das armas. Dê um jeito de ir embora
logo com Brante.
Obedeci às ordens dele, com o coração apertado. Enquanto seguia o rapaz para fora do
salão, tentava imaginar um mestre mais rigoroso do que Bronco. Era uma imagem assustadora.
Uma vez fora do salão, o rapaz rapidamente se livrou das maneiras finas.
– Como você se chama? – perguntou, enquanto me conduzia pelo trilho de saibro, em
direção à armaria e ao pátio de treino em frente a ela.
Eu encolhi os ombros e olhei de relance ao nosso redor, fingindo um interesse repentino
pelos arbustos que margeavam o caminho. Brante bufou, de propósito e em tom meio jocoso.
– Bem, as pessoas têm de te chamar de alguma coisa. Como é que o velho manco do Bronco
te chama?
O desdém descarado do rapaz por Bronco me assustou tanto que respondi sem pensar:
– Fitz. Ele me chama de Fitz.
– Fitz? – soltou um risinho meio abafado. – É mesmo a cara dele. É bem direto o velho
coxo.
– Um javali atacou a perna dele – expliquei.
Esse rapaz falava como se a perna manca de Bronco fosse um recurso idiota que ele usava
para aparecer. Por alguma razão, eu me senti ofendido pelo deboche.
– Eu sei! – disse ele com desdém. – Rasgou-a até o osso. Um javali grande e velho ia
acabar com a raça de Cavalaria, mas Bronco se colocou no caminho dele. O bicho pegou
Bronco em vez de Cavalaria, e meia dúzia dos mastins, foi o que ouvi dizer.
Entramos pela abertura que havia num muro coberto de heras, e o pátio de treino apareceu
repentinamente diante dos nossos olhos.
– Cavalaria tinha investido contra o javali pensando que só precisava dar um golpe para
acabar com ele, quando o bicho saltou e avançou nele. Também partiu a lança do príncipe ao
atacá-lo, foi o que ouvi dizer.
Eu seguia o rapaz, refazendo seus passos e imerso nas suas palavras, quando, de repente,
ele se virou para mim. Surpreendeu-me tanto que quase caí, dando vários passos
desordenados para trás. O rapaz, mais velho que eu, riu da minha cara.
– Parece que este foi o ano para o Bronco pegar para si todas as desgraças do Cavalaria,
não é? É o que ouço os homens dizerem. Que esse Bronco pegou a morte do Cavalaria e a
transformou numa perna coxa para si mesmo, que pegou o bastardo do Cavalaria, fazendo dele
a sua mascote. Mas o que eu gostaria de saber é, como é que de repente você vai receber
treinamento em armas? E um cavalo, também, segundo ouvi dizer?
Havia mais do que apenas inveja no seu tom de voz. Descobri mais tarde que muitos
homens veem sempre a boa sorte dos outros como uma desfeita contra si próprio. Eu senti sua
hostilidade crescendo, como a de um cão que tivesse me visto entrar no seu território sem
avisar; mas no caso de um cão, eu podia ter tocado sua mente e o assegurado das minhas
intenções inofensivas. Em Brante havia apenas a hostilidade, como o início de uma