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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Por mais que tivesse se tornado opressivo viver com Bronco, de repente percebi que aquilo

era preferível ao desconhecido. Imaginei um quarto grande e frio, com paredes de pedra e

sombras se escondendo nos cantos.

– Bem, você vai ter um – anunciou Bronco sem piedade. – E já está mais que na hora de

isso acontecer. Apesar de não ser um filho bem-nascido, você é filho de Cavalaria, e deixá-lo

morando aqui embaixo, no estábulo, como um cachorrinho vagabundo, bem, isso não é certo.

– Eu não me importo – arrisquei a dizer, em desespero de causa.

Bronco levantou os olhos e encarou-me secamente.

– Ora, ora. Estamos definitivamente tagarelas hoje, não é?

Baixei os meus olhos.

– Você mora aqui – observei, amuado – e não é um cachorrinho vagabundo.

– E também não sou o bastardo de um príncipe – disse ele, de supetão. – Você vai morar na

torre de agora em diante, Fitz, e pronto.

Arrisquei-me a olhar para ele. Estava falando com os dedos outra vez.

– Antes fosse eu um cachorrinho vagabundo – aventurei-me a dizer. E então todos os meus

medos despertaram minha voz. – Você não deixaria isso acontecer com um cachorrinho

vagabundo, mudarem tudo de uma vez. Quando deram aquele filhote caçador ao Senhor

Vilassevera, você mandou junto a sua velha camisa com ele para que tivesse alguma coisa que

cheirasse à antiga casa, até se habituar à nova morada.

– Bem – disse ele –, eu não... Venha cá, Fitz. Venha cá, garoto.

E, assim como um cachorrinho, fui até ele, o único mestre que eu conhecia, e ele me deu

batidinhas de leve nas costas e afagou o meu cabelo, mais ou menos como teria feito com um

cão.

– Não tenha medo. Não precisa ter medo de nada. E, de qualquer maneira – disse, e eu senti

que ele estava amolecendo – eles apenas disseram que você iria ter um quarto na torre.

Ninguém disse que você vai ter de dormir lá todas as noites. De vez em quando, quando as

coisas estiverem muito quietas por lá, você sabe o caminho até aqui. Ei, Fitz? Isso parece bom

para você?

– Acho que sim – murmurei.

Durante os quinze dias que se seguiram, as mudanças desabaram sobre a minha cabeça,

rápidas e furiosas. Bronco me fez levantar de madrugada, e fui banhado e esfregado, o cabelo

cortado na frente, para não cair sobre os meus olhos, e o resto preso atrás, num rabo de cavalo

igual aos que eu tinha visto na torre, sendo usados por homens mais velhos. Ele me mandou

vestir as melhores roupas que eu tinha, mas soltou um muxoxo ao perceber como elas estavam

pequenas para mim. Ele encolheu os ombros e disse que teriam de servir.

Fomos então para o estábulo, onde me mostrou a minha nova égua. O pelo dela era cinza,

com uns vestígios de pintas. A crina, cauda, nariz e pernas tinham uma tonalidade escura,

como se ela tivesse passado no meio de uma nuvem de fuligem. Este também era o nome dela.

Era um animal plácido, de boa constituição física e bem tratado. Uma cavalgada mais

tranquila que aquela seria difícil de imaginar. Como eu era um garoto, tinha esperado ao

menos um macho castrado e esperto. Em vez disso, o meu cavalo de montaria era a Fuligem.

Tentei esconder o desapontamento, mas Bronco deve ter percebido.

– Não acha que ela é grande coisa, não é mesmo? Bem, que cavalo já teve antes, Fitz, que te

faça torcer o nariz a um animal bem-disposto e saudável como a Fuligem? Ela está prenha

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