27.02.2021 Views

O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

De repente, Majestoso se irritou.

– A minha mãe, a rainha, não vai concordar com você, nem vai ficar contente. A minha

mãe...

– Não concorda comigo, nem fica contente comigo há muitos anos. Já quase nem percebo

isso mais, Majestoso. Ela vai ficar brava, fazer escândalo e ameaçar outra vez voltar para

Vara, para ser Duquesa lá, e você será Duque depois dela. E, se estiver mesmo furiosa, ela

ainda vai ameaçar que, caso isso aconteça, Lavra e Vara farão uma rebelião e se tornarão um

reino independente, tendo ela como rainha.

– E eu como rei depois dela! – Majestoso acrescentou em tom de desafio.

Sagaz concordou para si mesmo.

– Sim, eu já imaginava que ela estivesse plantando essa traição sórdida na sua cabeça.

Ouça-me, garoto. Ela pode até xingar e atirar louças nos criados, mas nunca fará mais do que

isso. Porque sabe que é melhor ser rainha de um reino pacífico do que ser duquesa de um

ducado em rebelião. E Vara não tem nenhuma razão para se rebelar contra mim, a não ser as

que sua mãe inventa na cabeça dela. As ambições dela sempre ultrapassaram as habilidades

que ela tem. – Fez uma pausa e olhou Majestoso diretamente nos olhos. – Numa família real,

esse é um dos defeitos mais lamentáveis que se pode ter.

Eu podia sentir as vibrações de raiva que Majestoso se forçava a reprimir enquanto olhava

para o chão.

– Venha, siga-me – disse o rei, e Majestoso o seguiu, obediente como um cachorro

qualquer, mas o olhar de despedida que lançou para mim foi venenoso.

Fiquei parado vendo o velho rei deixar o salão. Senti uma súbita sensação de perda.

Homem estranho. Embora eu fosse bastardo, ele poderia ter se declarado meu avô, e teria

apenas de pedir aquilo que resolveu comprar. Na porta, o Bobo pálido parou. Por um instante,

olhou para mim e fez um gesto incompreensível com as mãos magras. Talvez um insulto, talvez

uma bênção, talvez o simples abanar das mãos de um bobo. Então sorriu, mostrou a língua

para mim, virou-se e correu atrás do rei.

Apesar das promessas do rei, enchi os bolsos do gibão com pedaços de bolo. Os cachorros

e eu compartilhamos as iguarias à sombra, atrás do estábulo. Foi um café da manhã maior do

que qualquer um de nós estava habituado a ter, e o meu estômago resmungou de tristeza por

horas depois de termos terminado a refeição. Os cachorrinhos se enroscaram um no outro e

pegaram no sono, mas eu hesitei entre o receio e a expectativa. Quase desejei que nada

acontecesse depois daquilo, que o rei se esquecesse das suas palavras. Mas não.

Quando a noite caiu, eu finalmente me recolhi, subindo os degraus e entrando no quarto de

Bronco. Tinha passado o dia avaliando que consequências teria para mim a conversa daquela

manhã. Poderia ter me poupado do trabalho. Porque, quando entrei, Bronco deixou de lado o

freio do arreio que estava remendando e focou toda a atenção em mim. Ele ficou me estudando

em silêncio por algum tempo, e eu lhe devolvi o olhar fixo. Alguma coisa estava diferente, e

eu fiquei assustado. Desde que tinha dado um fim no Narigudo, eu acreditava que Bronco

também tinha o poder de vida e morte sobre mim – que um bastardo podia ser descartado com

a mesma facilidade que um cãozinho. Isso não tinha me impedido de desenvolver um

sentimento de proximidade em relação a ele; uma pessoa não precisa amar para depender de

alguém. Essa sensação de poder confiar em Bronco era a única terra firme que eu tinha na

vida, e agora eu sentia que ela tremia debaixo de mim.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!