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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Ele caiu subitamente, como um pássaro apedrejado durante o voo, e sentou-se por um

momento no chão. Inclinei-me e apertei Narigudo contra mim. Bronco chacoalhou lentamente a

cabeça, como se estivesse tirando gotas de chuva do cabelo. Ele ficou de pé, agigantando-se

diante de nós dois.

– Está no sangue dele – eu o ouvi resmungar para si mesmo. – No sangue maldito da mãe e

isso não me admira. Mas o rapaz tem de ser ensinado. – e então, ele olhou nos meus olhos e

me deu um aviso. – Fitz. Nunca mais faça isso comigo. Nunca. Agora me dê esse cachorro.

Avançou outra vez na nossa direção e, quando senti a ira que ele escondia, não pude me

conter. Eu o repeli outra vez. Mas desta vez a minha defesa encontrou um bloqueio que me

empurrou de volta, o que me fez tropeçar e cair, quase desmaiado, a minha mente envolta em

escuridão. Bronco inclinou-se sobre mim.

– Eu te avisei – disse suavemente, e a sua voz era como o rosnar de um lobo. Então, pela

última vez, senti os seus dedos agarrarem o cangote de Narigudo. Ergueu o cachorro e levouo,

sem ser rude, para a porta. A tranca que eu não tinha conseguido desprender foi

rapidamente aberta por ele, e logo em seguida ouvi o som pesado das suas botas pelas escadas

abaixo.

No instante seguinte eu estava recuperado e em pé, atirando-me contra a porta. Mas Bronco

a havia fechado não sei como, pois lutei em vão contra a tranca. O contato com Narigudo foi

se perdendo à medida que ele era levado para longe de mim, deixando em seu lugar uma

solidão desesperadora. Choraminguei e uivei, cravando as unhas na porta, procurando pelo

meu vínculo com ele. Houve um súbito lampejo de dor ardente e Narigudo desapareceu.

Quando os seus sentidos caninos me desertaram completamente, gritei e chorei como uma

criança de seis anos grita e chora, e soquei em vão as tábuas de madeira grossa.

Horas pareciam ter se passado até que Bronco voltasse. Ouvi a sua passada e ergui a

cabeça de onde jazia, arfante e exausto diante da porta. Ele a abriu e me pegou habilmente

pelas costas da camisa quando tentei fugir porta afora. Atirou-me de volta para o quarto, bateu

a porta com força e trancou-a outra vez. Eu me joguei contra ela sem dizer uma palavra, e um

choramingo se desprendeu da minha garganta. Bronco sentou-se cansadamente.

– Nem pense nisso, garoto – ele me precaveu, como se pudesse ouvir os meus planos

mirabolantes para a próxima vez que me deixasse sair. – Ele se foi. O cachorro se foi, e é uma

perda dos diabos, pois era de bom sangue. A linhagem dele era quase tão antiga quanto a sua.

Mas prefiro desperdiçar um cão a desperdiçar um homem.

Eu não me mexi, e então ele acrescentou quase gentilmente:

– Livre-se das saudades dele. Dói menos assim.

Mas não foi isso o que fiz, e naquele momento pude ouvir na sua voz que ele não esperava

realmente que eu fizesse aquilo. Suspirou e moveu-se com lentidão enquanto se preparava

para deitar. Não voltou a falar comigo, apenas apagou a lâmpada e acomodou-se na cama.

Mas não dormiu, e ainda faltavam várias horas para a madrugada quando se levantou, ergueume

do chão e colocou-me no lugar quente que o seu corpo havia deixado entre os cobertores.

Então saiu outra vez e não voltou por várias horas.

Quanto a mim, fiquei desolado e com febre por vários dias. Bronco, creio eu, espalhou que

eu tinha uma doença qualquer de criança, e fui deixado em paz. Passaram-se dias antes de

permitir que eu saísse outra vez, e, mesmo assim, não pude ir sozinho.

Depois disso, Bronco foi bastante cauteloso para garantir que eu não tivesse uma nova

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