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– A antiga Manha – começou lentamente. Seu rosto tornou-se sombrio e ele olhou para
baixo, para as mãos, como se se lembrasse de um velho pecado. – é o poder do sangue animal,
da mesma forma que o Talento vem da linhagem dos reis. Começa como uma bênção, dando a
você as línguas dos animais. Mas depois se apodera de você e te puxa para baixo, faz de você
um animal como os outros. Até que finalmente não há sequer um resquício de humanidade em
você, e você corre e late e prova sangue, como se a matilha fosse tudo o que você alguma vez
na vida tivesse conhecido. Até que nenhum homem possa olhar para você e pensar que um dia
foi um homem.
O tom da voz dele baixava à medida que falava, e ele não olhava para mim, mas tinha se
virado para o fogo e olhava fixamente as chamas que começavam a se extinguir.
– Há quem diga que um homem então toma a forma de um animal, mas que mata com a
paixão de um homem e não com a simples fome de um animal. Mata pela matança... É isso o
que você quer, Fitz? Pegar o sangue de reis que você tem e afogá-lo no sangue selvagem de
animais caçadores? Ser uma fera no meio de feras, simplesmente em nome do conhecimento
que isso traz para você? Pior ainda, pense no que vem antes: o cheiro de sangue fresco
afetando o seu humor, a vista da presa anuviando seus pensamentos.
A voz dele tornou-se ainda mais suave, e eu ouvi o nojo que ele sentia quando me
perguntou:
– Quer acordar com febre e encharcado de suor porque em algum lugar há uma cadela no
cio e o seu companheiro a fareja? É esse o saber que quer levar para a cama da sua dama?
Encolhi-me ao lado dele.
– Não sei – respondi com uma voz frágil.
Ele virou o rosto para mim, indignado:
– Não sabe? – ele resmungou. – Eu te digo aonde é que isso vai te levar, e você diz que não
sabe?
Minha língua ficou seca, e Narigudo encolheu contra os meus pés.
– Mas eu não sei – respondi em protesto. – Como eu posso saber o que vou fazer até que o
tenha feito? Como posso dizer?
– Bem, se você não pode dizer, eu posso! – ele rugiu, e foi então que eu percebi o quanto
ele tinha controlado o fogo do seu temperamento e também o quanto tinha bebido naquela
noite. – O cachorro vai, e você fica. Você fica aqui, aos meus cuidados, onde eu posso ficar
de olho em você. Se Cavalaria não me manterá ao seu lado, é o mínimo que posso fazer. Vou
garantir que o filho dele cresça para ser um homem, e não um lobo. Farei mesmo que mate nós
dois!
Ele saltou do banco para agarrar Narigudo pelo cangote. Pelo menos, era essa a sua
intenção. Mas o cachorro e eu nos desviamos dele. Juntos nos precipitamos para a porta, mas
a tranca estava fechada e, antes que eu pudesse desprendê-la, Bronco estava em cima de nós.
Chutou Narigudo para o lado e me pegou pelo ombro, empurrando-me para longe da porta.
– Venha aqui, cachorro – ordenou, mas Narigudo fugiu para o meu lado.
Bronco ficou parado diante da porta, arfando e nos encarando, e eu captei a subcorrente
raivosa dos seus pensamentos, a fúria que o incitava a nos esmagar, resolvendo de vez o
problema. Havia uma camada de controle acima daquilo tudo, mas esse breve vislumbre foi o
suficiente para me aterrorizar. E quando ele subitamente investiu na nossa direção, eu o repeli
com toda a força do meu medo.