27.02.2021 Views

O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

de Moli.

Quando ele chegou, já era noite. Ouvimos os passos na escada, e não precisei dos sentidos

mais aguçados de Narigudo para saber que Bronco tinha bebido. Encolhemo-nos quando ele

entrou no quarto a meia-luz. A sua respiração estava pesada, e ele levou mais tempo do que de

costume para acender todas as velas a partir da vela única que eu tinha acendido. Em seguida,

deixou-se cair num banco e olhou para nós dois. Narigudo ganiu e deitou-se de lado, numa

súplica de filhote. Desejei fazer o mesmo, mas me contentei em olhar para ele temerosamente.

Passado um momento, ele falou:

– Fitz. O que é que aconteceu com você? O que é que aconteceu com nós dois? Correndo

pelas ruas com ladrões vagabundos, você, que tem o sangue dos reis correndo nas veias. Em

matilha, como um animal.

Permaneci calado.

– E eu sou tão culpado quanto você, eu imagino. Venha cá, então. Venha cá, garoto.

Eu me aventurei um passo ou dois em direção a ele. Eu não queria me aproximar demais.

Bronco franziu a sobrancelha ao ver que eu titubeava.

– Você está aleijado, garoto?

Abanei a cabeça.

– Então venha cá.

Hesitei, e Narigudo ganiu numa agonia de indecisão.

Bronco olhou para ele de relance, surpreendido. Eu podia ver a mente dele trabalhando em

meio à névoa induzida pelo vinho. Seus olhos moveram-se do cachorro para mim e de volta ao

cachorro, e uma expressão de nojo tomou conta do seu rosto. Abanou a cabeça. Lentamente,

ergueu-se e caminhou para longe da mesa e do cachorro, acariciando a perna ferida. Num

canto do quarto havia uma pequena prateleira que continha uma variedade de ferramentas e

objetos empoeirados. Lentamente, Bronco esticou-se para pegar um objeto e trazê-lo para

baixo. Era feito de madeira e couro e estava endurecido pela falta de uso. Balançou-o, e a tira

curta de couro estalou contra a perna dele.

– Sabe o que é isto, garoto? – perguntou com delicadeza, numa voz gentil.

Eu abanei a minha cabeça em silêncio.

– Chicote para cães.

Olhei para ele, atônito. Não havia nada na minha experiência ou na de Narigudo que me

dissesse como reagir àquilo. Bronco deve ter notado a minha confusão. Abriu um largo

sorriso, e sua voz continuou amigável, mas detectei que aquela atitude escondia algo, como se

estivesse à espera de alguma coisa.

– É uma ferramenta, Fitz. Um instrumento de ensino. Quando você tem um cãozinho que não

presta atenção, quando diz a um cachorro “Venha cá” e o cachorro se recusa a vir, bem,

algumas chibatadas com isto e o cão aprende a escutar e a obedecer. Bastam apenas alguns

cortes bem fundos para um cachorro aprender a prestar atenção.

Falava casualmente enquanto baixava o chicote e deixava a tira curta de couro dançar

suavemente pelo chão. Nem Narigudo nem eu conseguíamos desgrudar os olhos daquilo e,

quando ele subitamente moveu o objeto na direção de Narigudo, o cachorro soltou um ganido

de terror e deu um salto para trás, correndo para se esconder atrás de mim.

Bronco abaixou-se devagar, cobrindo os olhos enquanto se inclinava sobre um banco ao

lado da lareira.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!