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água quente estava relaxando os meus músculos já flácidos. Penso que teria me afogado
mesmo que a água batesse apenas nos meus joelhos.
Perdi a conta da quantidade de vezes que vim à superfície para arfar e respirar. A pedra
polida das paredes escapava das minhas mãos paralíticas e as costelas me apunhalavam de
dor cada vez que eu tentava inspirar profundamente. A minha força se esvaía e a fraqueza me
inundava. Tão quente, tão fundo. Afogado como um cãozinho, pensei, enquanto sentia a
escuridão se fechando. Garoto?, alguém perguntou, mas estava tudo escuro.
Tanta água, tão quente e tão funda. Já não conseguia encontrar o fundo, e ainda menos os
lados. Eu me debati fracamente contra a água, mas não havia resistência. Não havia em cima,
nem embaixo. Não valia a pena lutar para continuar vivo dentro deste corpo. Nada restava
para ser protegido; portanto, deixe cair os muros, e veja se há um último serviço que possa
prestar ao seu rei. Os muros do meu mundo tombaram, e disparei como uma flecha finalmente
lançada. Galeno tinha razão. Não há distância para o Talento. Não há distância nenhuma.
Torre do Cervo era já ali. Sagaz!, gritei em desespero. Mas o meu rei estava concentrado em
outras coisas. Estava fechado e com os seus muros erguidos para mim, e não havia maneira de
entrar. Não havia auxílio ali.
O meu corpo estava falhando, o meu fio de ligação a ele era muito tênue. Uma última
oportunidade. Veracidade, Veracidade!, gritei. Encontrei-o, tentei estabelecer um vínculo com
ele, mas o meu espírito não tinha onde se agarrar. Ele estava no outro lado, aberto para outro,
fechado para mim. Veracidade!, gemi, afogando-me em desespero. E, de repente, foi como se
mãos fortes agarrassem as minhas, enquanto eu tentava subir por uma falésia escorregadia.
Agarrado, seguro e puxado quando poderia ter escorregado e caído.
Cavalaria! Não, não pode ser, é o garoto! Fitz?
Você imagina coisas, meu príncipe. Não tem ninguém aqui. Preste atenção no que
estamos fazendo agora. Galeno, calmo e insidioso como veneno, empurrando-me para o lado.
Não podia resistir, ele era muito forte.
Fitz? Veracidade, inseguro agora que eu me tornava mais fraco.
Sem saber de onde, encontrei força. Algo cedia diante de mim, e eu era forte. Agarrei-me a
Veracidade como um falcão ao seu pulso. Estava ali com ele. Vi pelos olhos de Veracidade: a
sala do trono que tinha acabado de ser arrumada, o Livro dos Acontecimentos na grande mesa
diante dele, aberto para receber o registro do casamento. Em volta dele, trajando os melhores
adornos e as joias mais caras, os poucos dignitários que tinham sido convidados para assistir
a Veracidade testemunhando os votos da noiva através dos olhos de Augusto. E Galeno, que
supostamente deveria estar oferecendo a sua força como homem do rei, estava colocado ao
lado e ligeiramente atrás de Veracidade, esperando para drená-lo completamente. E Sagaz,
com a coroa e o manto sobre o trono, mantinha-se totalmente na ignorância, o seu Talento
queimado e entorpecido havia muitos anos por uso impróprio, e ele orgulhoso demais para
admitir isso.
Como um eco, vi através dos olhos de Augusto que Kettricken estava pálida como uma vela
de cera sobre um estrado, diante do seu povo. Estava dizendo a eles, simples e gentilmente,
que, na noite passada, Rurisk tinha finalmente sucumbido à ferida de flecha que o tinha
acertado nos Campos de Gelo. Esperava agradar à memória dele pronunciando os seus votos,
de acordo com o que ele tinha ajudado a realizar, ao Príncipe Herdeiro dos Seis Ducados.
Virou a cara para Majestoso.