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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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la ali atada e, quando a maré veio, uma parte inteira da doca se soltou, danificando dois

esquifes. Durante dias morremos de medo que alguém descobrisse que nós éramos os

culpados. E, uma vez, o dono de uma taberna puxou as orelhas de Quim e acusou-nos de

roubá-lo. A nossa vingança foi um arenque fedido que colocamos embaixo dos suportes do

tampo de uma das suas mesas. O peixe apodreceu, fedeu e atraiu moscas durante vários dias

antes que ele o encontrasse.

Aprendi várias habilidades durante as minhas andanças: comprar peixe, remendar redes,

construir barcos e ficar à toa. Aprendi ainda mais sobre a natureza humana. Tornei-me um

rápido julgador de personalidades, identificando quem efetivamente pagava a moeda

prometida por uma mensagem entregue, e quem apenas ria da minha cara quando eu voltava

para receber o pagamento. Sabia a qual padeiro podia mendigar e de que lojas era mais fácil

roubar. E Narigudo estava sempre ao meu lado, tão vinculado a mim agora que a minha mente

raramente se separava por completo da dele. Eu usava os seus olhos, nariz e boca como se

fossem meus e nunca passou pela minha cabeça que isso fosse sequer um pouco estranho.

Assim se foi a melhor parte do verão. Porém, num belo dia em que o sol cavalgava num céu

mais azul do que o mar, a minha sorte grande chegou ao fim. Moli, Quim e eu tínhamos

surrupiado uma fileira inteira de linguiça de fígado e íamos fugindo pela rua abaixo com o

legítimo dono atrás de nós. Narigudo estava conosco, como sempre. As outras crianças

acabaram aceitando-o como parte de mim. Penso que nunca passou pela cabeça deles

suspeitar da nossa união de mentes. Nós éramos o Novato e o Narigudo e, provavelmente, eles

pensaram que era apenas por meio de um engenhoso truque qualquer que Narigudo sabia, antes

de eu atirar, para onde devia correr para apanhar sua parte da recompensa. Havia, portanto,

quatro de nós correndo pela rua congestionada, passando as linguiças da mão encardida para a

boca úmida e de volta à mão, enquanto atrás de nós o dono gritava e nos perseguia em vão.

Então Bronco saiu de uma loja.

Eu ia correndo na direção dele. Nós nos reconhecemos num instante de consternação mútua.

A expressão sombria que surgiu no seu rosto me deixou sem nenhuma dúvida sobre a minha

conduta. Fuja, decidi num fôlego, e esquivei-me das mãos que se estendiam para mim, apenas

para descobrir, num súbito engano, que de alguma forma eu tinha corrido diretamente para os

braços dele.

Não gosto de falar do que aconteceu depois disso. Apanhei, não apenas de Bronco, mas do

dono das linguiças, que estava furioso. Todos os meus cúmplices, com exceção de Narigudo,

evaporaram pelos cantos e recantos da rua. Narigudo ficou rosnando para Bronco, e também

apanhou e foi repreendido. Observei com agonia Bronco tirar moedas da bolsa para pagar o

homem das linguiças. Ele me segurou firme pelas costas da camisa, de tal forma que quase me

ergueu no ar. Quando o homem das linguiças partiu e a pequena multidão que tinha se reunido

para ver a minha humilhação se dispersou, ele finalmente me libertou. Tentei interpretar o

olhar de repugnância que ele lançou sobre mim. Com mais uma palmada com as costas da mão

na parte de trás da minha cabeça, ordenou-me:

– Para casa. Agora.

Assim fomos, e mais depressa do que tínhamos ido qualquer outra vez. Encontramos a nossa

cama de cobertores diante da lareira e esperamos ansiosamente. Esperamos durante toda a

longa tarde e o início da noite. Ficamos ambos com fome, mas sabíamos que era melhor não

sair dali. Tinha alguma coisa no rosto de Bronco que era mais assustadora que a fúria do pai

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