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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– Talvez para você – disse ele, irritado. – Gostaria de saber o que ele quer.

– Negociar. Não pode ser outra coisa. E se quer negociar, talvez sejamos capazes de ganhar

alguma coisa.

– Fala como se Majestoso seguisse as mesmas regras de bom senso que o resto das pessoas.

Mas nunca o vi fazer isso. E sempre detestei as intrigas da corte – queixou-se Bronco. –

Prefiro limpar o estábulo – e me puxou para que eu ficasse de pé.

Se alguma vez eu tive a curiosidade de saber como a raiz-morta fazia a sua vítima se sentir,

essa curiosidade estava agora plenamente satisfeita. Não pensei que morreria por causa dos

seus efeitos, mas não sabia como deixaria a minha vida. As minhas pernas tremiam, e a força

das minhas mãos era incerta. Podia sentir espasmos aleatórios pelo corpo. Nem a respiração,

nem o batimento cardíaco eram previsíveis. Desejava estar imóvel, para que pudesse ouvir o

meu corpo e entender o que tinha sido feito com ele. Mas Bronco guiava pacientemente os

meus passos, e Narigudo se arrastava atrás de nós.

Nunca tinha ido aos banhos de vapor, mas Bronco sim. Um botão de tulipa separado

rodeava uma fonte quente borbulhante, abrandada para ser usada em banhos. Um Chyurda

estava plantado à porta; e eu o reconheci como o portador da tocha na noite anterior. Se achou

a minha reaparição estranha, não demonstrou. Afastou-se do caminho como se estivesse à

nossa espera, e Bronco me carregou pelos degraus acima, em direção à entrada.

Nuvens de vapor enevoavam o ar, transportando consigo um odor mineral. Passamos por

um ou dois bancos de pedra; Bronco andava cautelosamente no chão liso de ladrilhos à

medida que nos aproximávamos da fonte de vapor. A água irrompia de uma fonte central, entre

paredes de tijolos construídas para a conterem. Dali era distribuída por meio de valas para

outros banhos menores, e o calor de cada banho era regulado pela largura da vala e pela

profundidade do tanque. O vapor e o barulho da água caindo dominavam o ar. Não me agradou

estar ali; tinha de fazer um esforço para simplesmente respirar. Meus olhos se acostumaram à

penumbra, e vi Majestoso de molho num dos banhos maiores. Ergueu os olhos quando

percebeu a nossa aproximação.

– Ah – disse, como se sentisse satisfeito. – Augusto me informou que Bronco te traria. Bem.

Suponho que sabe que a Princesa te perdoou do assassinato do irmão dela. E, pelo menos

neste lugar, ao fazer isso, ela te protegeu da justiça. Acho que é um verdadeiro desperdício de

tempo, mas os costumes locais têm de ser respeitados. Diz ela que te considera como parte da

família, agora, e, por isso, parece que eu também tenho de te tratar como família. Ela se revela

incapaz de compreender que, visto não ter nascido de uma união legítima, não cabe a você

nenhum direito de parentesco. Mas enfim. Não quer mandar o Bronco embora e se juntar a

mim no banho? Talvez te faça bem. Você parece muito desconfortável, pendurado como uma

camisa num varal de secar roupa – falava num tom simpático, afável, como se não percebesse

o meu ódio.

– O que deseja me dizer, Majestoso? – mantive a voz inexpressiva.

– Por que não manda o Bronco embora? – perguntou mais uma vez.

– Não sou idiota.

– Isso é discutível, mas tudo bem. Suponho que eu vou ter de mandá-lo embora, então.

O vapor e o barulho das águas tinham escondido bem a aproximação do Chyurda. Ele era

mais alto do que Bronco, e o seu porrete já estava em movimento quando Bronco se virou. Se

não estivesse suportando o meu peso, talvez tivesse sido capaz de evitar a pancada. Quando

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