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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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conversando com ela desde a noite passada, mas apenas há pouco tempo a convenci. Ela

invocou o direito de sangue para perdoar um parente por um ato contra outro parente. Pela

nossa lei, se um parente perdoar o outro, ninguém pode fazer nada a respeito do assunto.

Majestoso tentou dissuadi-la, mas isso apenas a deixou irritada. “Aqui, enquanto estiver no

meu palácio, ainda posso invocar a lei do povo da montanha”, ela lhe disse. O rei Eyod

concordou. Não porque não sofra com a morte de Rurisk, mas porque a força e sabedoria da

lei de Jhaampe devem ser respeitadas por todos. Portanto, você tem de voltar.

Refleti sobre isso.

– E você, você me perdoou?

– Não – disse ela, resfolegando. – Não te perdoo pelo assassinato do meu sobrinho. Mas

não posso te perdoar pelo que você não fez. Não acredito que beberia o vinho que envenenou.

Nem sequer um pouquinho. Aqueles entre nós que sabem mais dos perigos dos venenos são os

que menos os provam. Teria apenas fingido beber e nunca teria dito uma só palavra sobre

venenos. Não. Isso foi feito por alguém que acredita ser muito esperto e que acredita que os

outros são muito estúpidos.

Sem ver, senti que Bronco baixava a sua guarda. Mas eu ainda estava desconfiado.

– Por que Kettricken não pode simplesmente me perdoar e me deixar ir embora? Por que eu

tenho de voltar?

– Não temos tempo para isso! – vociferou Jonqui, e vi nela o mais próximo de um Chyurda

com raiva que eu tinha visto até então. – Eu deveria passar meses e anos te ensinando tudo o

que sei sobre equilíbrio? Por um empurrão, um puxão; por um inspirar, um expirar? Você acha

que ninguém pode sentir como o poder rodopia e oscila neste exato momento? Uma princesa

precisa suportar que a vendam como uma vaca. Mas a minha sobrinha não é a peça de um jogo

para ser ganha num lançamento de dados. Quem quer que tenha matado o meu sobrinho,

claramente desejou que você também morresse. Devo deixá-lo ganhar com essa jogada? Acho

que não. Não sei quem eu quero que ganhe; até onde eu sei, não deixarei nenhum jogador ser

eliminado.

– Essa é uma lógica que eu consigo compreender – disse Bronco em tom de aprovação.

Ele se curvou e me levantou de repente. O mundo tremeu de um jeito alarmante. Jonqui pôs

o ombro debaixo do meu outro braço. Ambos começaram a andar, e os meus pés foram

balançando como os de um fantoche sobre o chão entre eles. Narigudo se levantou com

esforço e nos seguiu. E assim retornamos ao palácio de Jhaampe.

Bronco e Jonqui me carregaram no meio das pessoas reunidas no terraço e no palácio até

chegar ao quarto. Suscitei muito pouco interesse. Era apenas um estrangeiro que tinha tomado

muito vinho e inalado muito fumo na noite anterior. As pessoas estavam ocupadas demais à

procura de bons lugares para ver o estrado para se preocuparem comigo. Não havia um clima

de luto, o que me fez deduzir que a notícia da morte de Rurisk ainda não tinha sido

comunicada. Quando finalmente entramos no meu quarto, o rosto plácido de Jonqui se

escureceu.

– Eu não fiz isso! Limitei-me a tirar uma camisola, para que Ruta tivesse algo para farejar.

Com “isso” ela se referia ao estado do meu quarto, desarrumado. Alguém tinha feito aquilo

de forma exaustiva, mas não muito discreta. Jonqui imediatamente começou a colocar as

coisas no lugar e, após um momento, Bronco a ajudou. Fiquei sentado numa cadeira tentando

compreender a situação. Narigudo foi se enrolar num canto. Sem pensar, sondei sua mente

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