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– Distraí-lo com brincadeiras e fumo, rir com ele enquanto morre! Levantou os olhos
faiscantes para Garrano. – Eu exijo a morte dele. Diga a Majestoso que venha aqui, agora!
Fui até a porta, mas Garrano foi mais rápido. Claro. Nada de fumo para Garrano esta noite.
Ele era mais rápido e mais musculoso do que eu, e tinha os pensamentos mais claros. Os seus
braços fecharam-se em volta de mim e ele me derrubou no chão. O rosto aproximou-se do meu
quando me deu um murro na barriga. E reconheci aquele hálito, aquele cheiro de suor.
Ferreirinho o tinha cheirado antes de morrer. Mas desta vez a faca estava na minha manga,
muito afiada e tratada com o veneno mais rápido que Breu conhecia. Depois de fincar nele, ele
conseguiu ainda me acertar duas vezes, dois murros em cheio antes de cair para trás,
moribundo. Adeus, Garrano. Enquanto ele caía, lembrei-me subitamente de um rapaz do
estábulo sardento dizendo: “Venha, há bons meninos”. As coisas poderiam ter sido tão
diferentes. Eu conhecia este homem; matá-lo era matar parte da minha própria vida.
Bronco ia ficar muito chateado comigo.
Todos esses pensamentos não me tomaram mais do que uma fração de segundo. A mão
esticada de Garrano ainda não tinha tocado no chão quando eu me movi para a porta.
Kettricken foi ainda mais rápida. Creio que usou um jarro de bronze para água. Eu o vi
como uma súbita explosão de luz branca.
Quando recuperei os sentidos, tudo me doía. A dor mais imediata vinha dos pulsos, pois as
cordas que os prendiam atrás das costas eram insuportavelmente apertadas. Estava sendo
carregado. Mais ou menos. Nem Bulho nem Severino pareciam preocupar-se muito com que
partes de mim pendiam e iam raspando e se esfolando pelo chão. Majestoso estava ali,
empunhando uma tocha, e um Chyurda que eu não conhecia guiava o caminho, empunhando
outra. Também não sabia onde eu estava, apenas que era em algum lugar ao ar livre.
– Não teria nenhum outro lugar onde possamos colocá-lo? Nenhum lugar mais seguro? –
perguntava Majestoso. Seguiu-se uma resposta murmurada e Majestoso disse: – Não, você tem
razão. Não é nosso propósito causar um grande alvoroço agora. Amanhã não tarda. Embora
não creia que ele esteja vivo até lá.
Uma porta foi aberta, e fui atirado de cabeça para um chão de terra batida escassamente
almofadado por palha. Inspirei pó e palha. Não consegui tossir. Majestoso fez um gesto com a
tocha.
– Vá até a Princesa – instruiu Severino. – Diga-lhe que irei falar com ela muito em breve.
Verifique se há alguma coisa que possamos fazer para que o príncipe se sinta mais
confortável. Você, Bulho, vá chamar Augusto aos seus aposentos. Necessitaremos do Talento
para que o Rei Sagaz possa tomar conhecimento de que andou ajudando um escorpião.
Necessitarei da sua autorização antes que o bastardo morra. Se ele viver tempo suficiente para
ser condenado. Vá, agora. Vá.
E partiram, com o Chyurda iluminando o caminho à frente deles. Majestoso ficou me
olhando de cima. Esperou que os sons dos passos deles soassem distantes para me dar um
pontapé violento nas costelas. Gritei sem palavras, pois tinha a boca e a garganta paralisadas.
– Parece que nós já estivemos nessa situação antes, não foi? Você chafurdando na palha, e
eu olhando para você, e perguntando-me exatamente que infortúnio tinha te colocado no meu
caminho. Estranho, tantas coisas que terminam da mesma forma como começam.
– Curioso como a justiça vem em círculos, também – continuou ele. – Pense em como você
foi derrotado por veneno e traição. Precisamente como a minha mãe foi. Ah, você ficou