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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Subindo como um gato, eu me acomodei no apoio do chão do quarto e esperei. Esperei até

que, entre o fumo que fazia a minha cabeça girar, meu próprio cansaço e o efeito residual das

ervas de Kettricken, eu me perguntei se não estaria sonhando com tudo aquilo. Perguntei-me se

a minha armadilha desajeitada me serviria de alguma coisa. Por fim, considerei que Majestoso

havia me dito que tinha pedido especificamente a Dama Timo. Mas, em vez disso, Sagaz me

enviou. Lembrei-me de como Breu tinha ficado perplexo com isso. E lembrei-me das palavras

que ele me disse. Teria o meu rei me entregado para Majestoso? E, se fosse esse o caso, que

dívida eu tinha com qualquer um deles? Em dado momento, vi Bulho sair e, depois do que me

pareceu ser um longo período, voltar com Garrano.

Podia ouvir muito pouco através do chão, mas o suficiente para reconhecer a voz de

Majestoso. Os meus planos noturnos estavam sendo comunicados a Garrano. Quando tive

certeza disso, serpenteei para fora do esconderijo e me retirei para o meu quarto, onde me

certifiquei, entre as minhas posses, de certos artigos especializados. Lembrei a mim mesmo,

firmemente, de que era um homem do rei. Assim tinha dito a Veracidade. Deixei o quarto e

caminhei suavemente através do palácio.

No Grande Salão, as pessoas comuns dormiam em colchões no chão, dispostos em círculos

concêntricos em torno do estrado, para reservar os melhores lugares para a cerimônia dos

votos no dia seguinte. Passei no meio deles e não se moveram. Tanta confiança, tão mal

depositada.

Os aposentos da família real eram no fundo do palácio, no lugar mais distante da entrada

principal. Não havia guardas. Atravessei a porta que levava ao quarto do rei, passando em

frente à porta de Rurisk, e em direção à de Kettricken. A porta dela era decorada com beijaflores

e madressilvas. Pensei no quanto o Bobo teria gostado daqueles ornamentos. Bati de

leve e esperei. Passaram-se momentos lentos. Bati outra vez.

Ouvi o movimento de pés descalços na madeira, e o painel pintado se abriu. O cabelo de

Kettricken tinha sido trançado havia pouco tempo, mas mechas bem finas já tinham se soltado

em volta do rosto. Seu longo roupão branco acentuava os tons do cabelo loiro, de forma que

parecia tão pálida quanto o Bobo.

– Precisa de alguma coisa? – perguntou-me com sono.

– Apenas da resposta a uma pergunta.

O fumo ainda ondulava através dos meus pensamentos. Eu queria sorrir, ser espirituoso e

esperto diante dela. Beleza pálida, pensei. Afastei o impulso da mente. Ela estava à espera.

– Se eu matasse o seu irmão esta noite – disse cuidadosamente –, o que você faria?

Ela nem sequer recuou.

– Eu te mataria, é claro. Pelo menos, exigiria a sua morte, justiça. Sou jurada à sua família

agora, eu própria não poderia derramar o seu sangue.

– Mas continuaria com o casamento? Ainda se casaria com Veracidade?

– Não quer entrar?

– Não tenho tempo. Você se casaria com Veracidade?

– Eu me prometi aos Seis Ducados para ser rainha. Eu me prometi ao povo. Amanhã, irei

me prometer ao Príncipe Herdeiro. Não a um homem chamado Veracidade. Mas, mesmo que

fosse de outra maneira, pergunte a si mesmo: qual das promessas me compromete mais? Já

estou vinculada. Não é só a minha palavra, mas a do meu pai. E a do meu irmão. Não ia querer

casar com o homem que ordenou a morte do meu irmão. Mas não é ao homem que eu me

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