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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Virei-me lentamente, surpreso com o veneno na voz de Garrano. Olhei rapidamente dele

para Bronco, mas Bronco não falou nada. Encarei Bronco diretamente.

– Então caminharei ao seu lado, se não se importar, pois temos um assunto importante para

tratar – as minhas palavras foram deliberadamente formais.

Bronco me encarou por mais um momento.

– Traga a égua da Princesa – disse por fim – e essa potranca da baia. Eu levo os cinzentos.

Garrano, cuide dos outros para mim. Não vou demorar muito.

E assim segurei a cabeça da égua e a corda que prendia a potranca, e segui Bronco,

enquanto ele conduzia os cavalos através da multidão, em direção ao lado de fora.

– Há um cercado nesta direção – ele disse, e nada mais.

Andamos um pouco em silêncio. A multidão diminuiu rapidamente assim que estávamos

longe do palácio. Os cascos dos cavalos batiam na terra com um ruído monótono e agradável.

Chegamos ao cercado, em frente a um pequeno celeiro com uma sala de arreios. Por um

momento ou dois, parecia quase normal trabalhar ao lado de Bronco outra vez. Tirei a sela da

égua e limpei o seu suor nervoso, enquanto ele despejava grãos num comedouro. Ele se

colocou ao meu lado enquanto eu finalizava o trabalho.

– É uma beldade – eu disse, admirado. – É da criação de Dom Florestal?

– Sim – a palavra serviu para cortar a minha tentativa de conversa. – Você queria falar

comigo.

Inspirei fundo e disse simplesmente.

– Acabei de ver Narigudo. Ele está bem. Mais velho, mas teve uma vida feliz. Todos esses

anos, Bronco, sempre acreditei que você o tivesse matado naquela noite. Que tivesse

estourado os miolos dele, cortado a garganta, estrangulado – imaginei a morte dele numa dúzia

de maneiras diferentes, milhares de vezes. Todos esses anos.

Olhou para mim, incrédulo:

– Você achou que eu iria matar um cão por causa de algo que você fez?

– Sabia apenas que tinha desaparecido. Não consegui imaginar mais nada. Pensei que era

uma punição para mim.

Por um longo tempo, ele ficou imóvel. Quando voltou a olhar para mim, pude ver o seu

sofrimento.

– Como você deve ter me odiado.

– E temido.

– Todos esses anos? E nunca aprendeu nada melhor sobre mim, nunca pensou: ele não faria

uma coisa dessas?

Abanei lentamente a cabeça.

– Ah, Fitz – ele me disse com tristeza. Um dos cavalos veio tocar nele com o focinho e ele

distraidamente fez um afago no animal. – Pensei que você fosse teimoso e intratável. Você

pensou que tinha sido tratado de uma forma horrivelmente injusta. Não é de espantar que

sempre tenha havido tanta discórdia entre nós.

– Não se pode desfazer o passado – eu disse tranquilamente. – Tenho sentido a sua falta,

você sabe. Tenho sentido muito a sua falta, apesar de todas as nossas divergências.

Eu o vi pensando sobre o assunto e, por um momento ou dois, pensei que ele iria sorrir, dar

um tapinha no meu ombro e dizer para eu ir buscar os outros cavalos. Mas o seu rosto se

tornou imóvel e, em seguida, severo.

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