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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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saíssemos para um passeio pelos seus canis.

– Deixe-me te mostrar o que a adição de um pouco de sangue dos Seis Ducados há poucos

anos fez aos meus cães – ele propôs.

Deixamos o palácio e caminhamos para baixo por um curto caminho até chegar a uma longa

construção de madeira. O ar limpo desanuviou a minha mente e me deu ânimo. Dentro do

canil, ele me mostrou um cercado onde uma cadela tomava conta de uma ninhada de crias

ruivas. Eram criaturinhas saudáveis, de pelo lustroso, dando mordidinhas e tropeçando na

palha. Vieram prontamente até nós, sem demonstrar nenhum receio.

– Estes são da linhagem de Torre do Cervo, e o seu faro é tão bom que são capazes de

continuar seguindo um rastro mesmo durante uma tempestade – contou-me orgulhoso.

Mostrou-me também outras raças, incluindo um cão minúsculo com pernas que pareciam

feitas de arame e que, ele me jurou, era capaz de subir numa árvore atrás da presa.

Saímos dos canis e estávamos debaixo do sol, onde um cão mais velho dormia

preguiçosamente sobre um monte de palha.

– Continue dormindo, meu velho. Você fez filhos suficientes para nunca mais precisar caçar

outra vez, a menos que queira fazer isso – disse-lhe Rurisk, num tom cheio de simpatia.

Ao som da voz do amo, o velho cão de caça se levantou com esforço até se sustentar em pé

e veio se encostar afetuosamente em Rurisk. Olhou para mim, e era Narigudo.

Olhei para ele espantado, e os seus olhos de minério de cobre me devolveram o olhar.

Sondei suavemente sua mente, e por um momento recebi apenas perplexidade. E, então, uma

torrente de calor, de afeição compartilhada e recordada. Não havia dúvidas de que agora ele

era o cão de Rurisk; a intensidade do vínculo que um dia existiu entre nós tinha desaparecido.

Mas ele ainda me oferecia um enorme carinho e memórias calorosas do tempo em que éramos

filhotes juntos. Ajoelhei-me no chão e passei a mão no seu pelo ruivo, que tinha se tornado

crespo com os anos, e encarei os olhos que começavam a se mostrar enevoados pela idade.

Por um instante, com o toque físico, o vínculo foi como tinha sido. Percebi que ele estava

gostando de cochilar ao sol, mas que poderia ser persuadido a ir caçar com muito pouco

esforço. Especialmente se Rurisk viesse conosco. Dei uma pancadinha nas costas dele e me

afastei. Olhei para cima e encontrei Rurisk me olhando com estranheza.

– Conheci-o quando era apenas um filhote – disse-lhe.

– Bronco o enviou para mim, sob os cuidados de um escriba errante, há muitos anos –

disse-me Rurisk. – Ele trouxe muita alegria para mim, como companhia e na caça.

– Você cuidou bem dele – eu disse.

Deixamos o lugar e voltamos a passo lento para o palácio, mas, quando Rurisk se separou

de mim, fui logo falar com Bronco. Quando me aproximei, ele tinha acabado de receber

permissão para levar os cavalos lá fora, ao ar livre, pois mesmo o mais tranquilo dos animais

começa a se tornar impaciente num espaço fechado, rodeado de tanta gente estranha. Pude ver

o seu dilema; enquanto levava alguns dos cavalos, teria de deixar os outros sem supervisão.

Olhou-me com relutância à medida que me aproximava.

– Se me permitir, posso te ajudar a levá-los – ofereci.

O rosto de Bronco se manteve impávido e educado, mas antes que pudesse abrir a boca

para falar, uma voz atrás de mim disse.

– Estou aqui para fazer isso, senhor. Você poderia sujar as mangas, ou se cansar demais

trabalhando com os animais.

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