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Ela me lançou um olhar de soslaio, lutando para controlar o sorriso que nascia no seu rosto,
como se aquilo que eu lhe contava fosse uma dulcíssima bajulação em que uma princesa não
pode acreditar.
– Ele é mais alto do que eu, mas apenas um pouco. Tem o cabelo muito escuro, como a
barba, quando a deixa crescer. Os olhos são ainda mais negros, mas, quando está
entusiasmado, eles brilham. É verdade que agora há traços grisalhos no seu cabelo, o que não
teria encontrado há um ano. É verdade, também, que o trabalho o tem mantido longe do sol e
do vento, de forma que os seus ombros já não rasgam as costuras das camisas como antes.
Mas o meu tio ainda é um homem muito robusto, e acredito que, quando o perigo dos Navios
Vermelhos tiver sido expulso das nossas costas, voltará a cavalgar, bradar e caçar com o seu
cão outra vez.
– Você me dá ânimo – murmurou, e endireitou-se como se tivesse admitido uma fraqueza.
Olhando séria para mim, perguntou: – Por que Majestoso não fala nesses termos do irmão?
Pensei que ia encontrar um velho, de mãos trêmulas, tão sobrecarregado com as suas
obrigações que não veria numa esposa mais do que uma obrigação adicional.
– Talvez ele... – comecei e não conseguia pensar numa forma diplomática de dizer que
Majestoso era frequentemente enganador se aquilo favorecesse os seus objetivos. Por mais
que tentasse, não conseguia fazer ideia de qual seria o seu objetivo em fazer Kettricken ter
pavor de Veracidade.
– Talvez ele também tenha... sido... pouco cortês a respeito de outras coisas – Kettricken
subitamente fez uma suposição em voz alta. Algo parecia alarmá-la. Inspirou e tornou-se mais
franca. – Houve uma noite, nos meus aposentos, quando tínhamos acabado de jantar e
Majestoso tinha bebido talvez um pouco demais. Ele contou casos sobre você, dizendo que
você tinha sido uma criança mimada e rabugenta, muito ambiciosa, levando em conta o seu
baixo nascimento, mas que, desde que o rei tinha feito de você o seu envenenador, parecia ter
ficado satisfeito com a sua sina. Disse que esse ofício era adequado para você, pois, mesmo
criança, gostava de ouvir às escondidas, de espionar o castelo e de se dedicar a outras
atividades furtivas. Ora, não te conto isso para criar problemas, mas apenas para que você
saiba a primeira coisa que pensei a seu respeito. No dia seguinte, Majestoso implorou-me que
acreditasse que o que tinha partilhado comigo eram disparates provocados pelo vinho, e não
fatos verdadeiros. Mas uma coisa que ele me disse nessa noite era terrível demais para ser
posta completamente de lado. Disse que, se o rei enviasse você ou a Dama Timo, seria para
envenenar o meu irmão, para que eu pudesse ser a única herdeira do Reino da Montanha.
– Você está falando muito depressa – critiquei-a com gentileza e esperei que o meu sorriso
não parecesse tão atordoado e fraco quanto eu me sentia. – Não compreendi tudo o que você
disse.
Lutava desesperadamente para encontrar algo a dizer. Mesmo um mentiroso tão notável
quanto eu achava desconfortável uma confrontação tão direta.
– Peço desculpas. Mas você fala a nossa língua tão bem, quase como um nativo. Quase
como se a estivesse relembrando e não a aprendendo pela primeira vez. Vou dizer tudo mais
devagar. Há algumas semanas, não, foi há mais de um mês, Majestoso veio aos meus
aposentos. Tinha pedido que jantássemos a sós, para que pudéssemos nos conhecer melhor e...
– Kettricken! – Era Rurisk, chamando do fundo do caminho, vindo à nossa procura. –
Majestoso está pedindo que você venha conhecer os senhores e damas que vieram de tão