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Kettricken ao notar o meu interesse. – Este caminho leva aos jardins sombrios. São os meus
favoritos. Mas talvez queira ver o herbário primeiro?
– Agrada-me ver todo e qualquer jardim, senhora – respondi e era verdade.
Lá fora, longe da multidão, teria mais oportunidade de organizar os meus pensamentos e
refletir sobre o que devia fazer na posição insustentável em que tinha sido colocado. Estava
me ocorrendo, tardiamente, que Rurisk não tinha mostrado nenhum dos sinais de ferimentos ou
doença que Majestoso tinha apontado. Precisava me afastar da situação e reavaliá-la. Havia
mais, muito mais coisa acontecendo, do que aquilo para o que eu tinha me preparado.
Com esforço, afastei os pensamentos do meu próprio dilema e concentrei-me no que a
Princesa estava me dizendo. Ela pronunciou as suas palavras claramente, e descobri que a
língua deles era muito mais fácil de acompanhar longe do ruído de fundo do Grande Salão. Ela
parecia saber muito sobre jardins e deu-me a entender que não era um passatempo, mas o
conhecimento que se esperava dela como princesa.
À medida que andávamos e conversávamos, tinha de me lembrar constantemente de que era
uma princesa, e prometida em casamento a Veracidade. Nunca tinha encontrado uma mulher
assim antes. Havia nela uma dignidade tranquila, muito diferente da constante consciência da
sua alta posição, que eu normalmente encontrava nas mulheres de melhor nascimento que o
meu. Mas ela não hesitava em sorrir, ou ficar entusiasmada, ou curvar-se para cavar no solo
em volta de uma planta para me mostrar um tipo particular de raiz que estava descrevendo.
Limpou uma raiz de terra e em seguida cortou, com a faca que trazia à cintura, um pedacinho
do cerne do tubérculo para me permitir provar o gosto forte. Mostrou-me certas ervas de
sabores pungentes usadas para temperar carne e insistiu que eu provasse uma folha de cada
uma de três variedades porque, embora aquelas plantas fossem muito semelhantes, os sabores
eram bem diferentes. De certa maneira, ela era como Paciência, mas sem as excentricidades.
Também era como Moli, mas sem a dureza que Moli tinha sido forçada a desenvolver para
sobreviver. Como Moli, ela conversava comigo de um modo franco e direto, como se
estivéssemos no mesmo nível. Dei por mim pensando que Veracidade talvez viesse a gostar
dessa mulher mais do que esperava.
E, contudo, outra parte de mim se preocupava com o que Veracidade pensaria da noiva. Ele
não era de andar atrás de rabos de saia, mas os seus gostos no que diz respeito a mulheres
eram óbvios para quem quer que tivesse passado algum tempo com ele. E aquelas a quem ele
sorria eram normalmente as pequenas, roliças e morenas, frequentemente com cabelo
encaracolado, com risos de garota e mãos suaves e minúsculas. O que acharia ele dessa
mulher alta e pálida, que se vestia de um jeito tão simples como uma criada e que declarava
apreciar muito cuidar dos próprios jardins? À medida que a conversa prosseguia, descobri
que ela conversava sobre falcoaria e reprodução de cavalos com o mesmo conhecimento de
qualquer homem do estábulo. E quando lhe perguntei o que fazia como entretenimento, ela me
falou da sua pequena forja e ferramentas para trabalhar metal, e levantou o cabelo para me
mostrar os brincos que ela tinha feito para si mesma. As pétalas de prata finamente elaboradas
de uma flor abraçavam uma gema minúscula que parecia uma gota de orvalho. Tinha dito uma
vez a Moli que Veracidade merecia uma mulher competente e ativa, mas agora ficava
pensando se ela o encantaria o suficiente. Tinha certeza de que a respeitaria. Mas seria
respeito o suficiente entre um rei e a sua rainha?
Resolvi não me preocupar com os problemas alheios, mas, em vez disso, cumprir o que