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se lavado e se servido de vinho e bolo, pediram-nos que os seguíssemos para dentro do
palácio.
O interior do palácio era tão estranho quanto o resto de Jhaampe. Um grande pilar central
sustentava a estrutura principal, e uma observação mais minuciosa me revelou que se tratava
do imenso tronco de uma árvore, com as saliências criadas pelas raízes ainda evidentes por
baixo das pedras do pavimento em volta da base. Os suportes das paredes graciosamente
curvas eram igualmente árvores e, dias depois, vim a saber que o palácio tinha demorado
quase cem anos para “crescer”. A árvore central tinha sido selecionada, o terreno roçado, e
então o círculo das árvores que serviriam de suporte foi plantado, cuidado e moldado durante
o crescimento, com o auxílio de cordas e podas, de forma que todas se inclinassem para a
árvore que ficava no centro. Em dado momento, todos os outros ramos haviam sido cortados e
as copas das árvores trançadas umas às outras para formar uma coroa. Então, as paredes
foram criadas, primeiro com uma camada de tecido cuidadosamente entrelaçado que em
seguida foi envernizado até endurecer, e então revestido com camadas e camadas de tecido
rústico feito de casca de árvore. Esse tecido de casca foi, em seguida, coberto com um tipo
peculiar de barro existente na região, e depois revestido com uma camada brilhante de tinta
resinosa. Nunca cheguei a descobrir se todos os edifícios da cidade tinham sido criados dessa
forma laboriosa, mas o processo de “crescimento” do palácio tinha permitido aos criadores
dar a ele uma graciosidade orgânica que a pedra nunca poderia imitar.
O imenso interior era aberto, não muito diferente do grande salão de Torre do Cervo, com
um número comparável de lareiras. Havia mesas e áreas obviamente reservadas para
cozinhar, tecer, fiar e fazer conservas, e todas as outras necessidades de uma grande casa. Os
aposentos privados pareciam não ser mais do que alcovas separadas por cortinas, ou
pequenas tendas dispostas ao longo da parede exterior. Havia também alguns apartamentos,
em níveis mais elevados, acessíveis por meio de uma rede de escadarias de madeira, que
lembravam tendas armadas sobre plataformas de estacas. Os alicerces de sustentação desses
apartamentos eram feitos de troncos de árvore naturais. Percebi, com certo desalento, que
teria bem pouca privacidade para qualquer trabalho “discreto” que necessitasse realizar.
Logo fui encaminhado à tenda que serviria de aposento para mim. Dentro, encontrei o baú
de cedro e o saco à minha espera, juntamente com mais água quente perfumada e um prato de
frutas. Troquei de roupa rapidamente, tirando as vestes empoeiradas que tinha usado durante a
viagem e vestindo uma túnica bordada com mangas abertas e perneiras verdes combinando, as
quais Dona Despachada tinha determinado como apropriadas. Pensei outra vez no veado
ameaçador bordado na túnica e, em seguida, afastei-o da mente. Talvez Veracidade tivesse
pensado que essa insígnia alterada fosse menos humilhante do que aquela que proclamava tão
claramente a minha ilegitimidade. De qualquer maneira, serviria. Ouvi o som de sinos e
pequenos tambores do grande salão central e deixei meus aposentos apressadamente para
descobrir o que estava acontecendo.
Sobre um estrado instalado diante do grande tronco e decorado com flores e grinaldas de
sempre-vivas, Augusto e Majestoso se perfilavam diante de um homem idoso flanqueado por
dois servos em túnicas brancas simples. Uma multidão tinha se aglomerado num grande
círculo em volta do estrado, e eu me juntei rapidamente a ela. Uma das minhas carregadoras
da liteira, agora vestida com roupas cor-de-rosa e adornada com uma coroa de hera, apareceu
logo a meu lado. Ela sorriu para mim.