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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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se lavado e se servido de vinho e bolo, pediram-nos que os seguíssemos para dentro do

palácio.

O interior do palácio era tão estranho quanto o resto de Jhaampe. Um grande pilar central

sustentava a estrutura principal, e uma observação mais minuciosa me revelou que se tratava

do imenso tronco de uma árvore, com as saliências criadas pelas raízes ainda evidentes por

baixo das pedras do pavimento em volta da base. Os suportes das paredes graciosamente

curvas eram igualmente árvores e, dias depois, vim a saber que o palácio tinha demorado

quase cem anos para “crescer”. A árvore central tinha sido selecionada, o terreno roçado, e

então o círculo das árvores que serviriam de suporte foi plantado, cuidado e moldado durante

o crescimento, com o auxílio de cordas e podas, de forma que todas se inclinassem para a

árvore que ficava no centro. Em dado momento, todos os outros ramos haviam sido cortados e

as copas das árvores trançadas umas às outras para formar uma coroa. Então, as paredes

foram criadas, primeiro com uma camada de tecido cuidadosamente entrelaçado que em

seguida foi envernizado até endurecer, e então revestido com camadas e camadas de tecido

rústico feito de casca de árvore. Esse tecido de casca foi, em seguida, coberto com um tipo

peculiar de barro existente na região, e depois revestido com uma camada brilhante de tinta

resinosa. Nunca cheguei a descobrir se todos os edifícios da cidade tinham sido criados dessa

forma laboriosa, mas o processo de “crescimento” do palácio tinha permitido aos criadores

dar a ele uma graciosidade orgânica que a pedra nunca poderia imitar.

O imenso interior era aberto, não muito diferente do grande salão de Torre do Cervo, com

um número comparável de lareiras. Havia mesas e áreas obviamente reservadas para

cozinhar, tecer, fiar e fazer conservas, e todas as outras necessidades de uma grande casa. Os

aposentos privados pareciam não ser mais do que alcovas separadas por cortinas, ou

pequenas tendas dispostas ao longo da parede exterior. Havia também alguns apartamentos,

em níveis mais elevados, acessíveis por meio de uma rede de escadarias de madeira, que

lembravam tendas armadas sobre plataformas de estacas. Os alicerces de sustentação desses

apartamentos eram feitos de troncos de árvore naturais. Percebi, com certo desalento, que

teria bem pouca privacidade para qualquer trabalho “discreto” que necessitasse realizar.

Logo fui encaminhado à tenda que serviria de aposento para mim. Dentro, encontrei o baú

de cedro e o saco à minha espera, juntamente com mais água quente perfumada e um prato de

frutas. Troquei de roupa rapidamente, tirando as vestes empoeiradas que tinha usado durante a

viagem e vestindo uma túnica bordada com mangas abertas e perneiras verdes combinando, as

quais Dona Despachada tinha determinado como apropriadas. Pensei outra vez no veado

ameaçador bordado na túnica e, em seguida, afastei-o da mente. Talvez Veracidade tivesse

pensado que essa insígnia alterada fosse menos humilhante do que aquela que proclamava tão

claramente a minha ilegitimidade. De qualquer maneira, serviria. Ouvi o som de sinos e

pequenos tambores do grande salão central e deixei meus aposentos apressadamente para

descobrir o que estava acontecendo.

Sobre um estrado instalado diante do grande tronco e decorado com flores e grinaldas de

sempre-vivas, Augusto e Majestoso se perfilavam diante de um homem idoso flanqueado por

dois servos em túnicas brancas simples. Uma multidão tinha se aglomerado num grande

círculo em volta do estrado, e eu me juntei rapidamente a ela. Uma das minhas carregadoras

da liteira, agora vestida com roupas cor-de-rosa e adornada com uma coroa de hera, apareceu

logo a meu lado. Ela sorriu para mim.

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