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que nos faziam com educada insistência; portanto, dei o meu baú a um rapaz obviamente mais
novo do que eu e subi em uma liteira carregada por mulheres suficientemente velhas para
serem minhas avós. Fiquei corado ao ver o espanto das pessoas que olhavam para nós nas
ruas, e como paravam para falar rapidamente uns com os outros à medida que passávamos. Vi
outras poucas liteiras, e as que vi estavam ocupadas por gente obviamente velha e enferma.
Cerrei os dentes e tentei não pensar no que Veracidade teria achado dessa demonstração de
ignorância. Tentei olhar simpaticamente para as pessoas por quem passava e deixar que a
minha apreciação pelos graciosos jardins e edifícios transparecesse no meu rosto.
Devo ter sido bem-sucedido, porque a liteira começou a se mover mais devagar, para
permitir que eu visse as coisas por mais tempo, e as mulheres apontavam para tudo o que
pensassem que pudesse ter passado despercebido aos meus olhos. Falaram comigo em
Chyurda e ficaram fascinadas ao descobrir que eu possuía um conhecimento rudimentar da
língua. Breu tinha me ensinado o pouco que sabia, mas não tinha me preparado para a forte
musicalidade da língua, e depressa se tornou claro para mim que a entonação da palavra era
tão importante quanto a pronúncia. Por sorte, tinha um bom ouvido para as línguas, por isso
me lancei corajosamente numa conversa desastrada com as minhas carregadoras, pensando
que, quando chegasse o momento de eu falar com os nobres do palácio, já não soaria tanto
como um forasteiro idiota. Uma mulher assumiu a função de fazer comentários sobre todos os
locais por onde passávamos. Seu nome era Jonqui, e quando eu lhe disse que o meu era
FitzCavalaria, ela o repetiu em voz baixa para si mesma várias vezes, como se o tentasse
decorar.
Com grande esforço, consegui persuadir as carregadoras a pararem uma vez e a me
deixarem examinar um dos jardins em particular. Não eram as flores de cores vivas que
chamaram a minha atenção, mas o que parecia ser uma espécie de salgueiro que crescia em
espirais e caracóis, e não reto, como eu estava acostumado a ver. Passei os dedos pela casca
macia de um dos ramos e tive certeza de que podia cortar uma muda e fazê-la brotar, mas não
ousei partir um pedaço, o que poderia ter sido considerado grosseiro. Uma velha chegou perto
de mim, sorriu e percorreu com a mão as pontas de um canteiro de ervas rasteiras com folhas
minúsculas. A fragrância que se levantou das folhas agitadas era impressionante e ela deu uma
gargalhada ao perceber o deleite no meu rosto. Gostaria de ter passado mais tempo ali, mas as
carregadoras insistiram enfaticamente que devíamos nos apressar para alcançar os outros
antes que chegassem ao palácio. Deduzi que ia ter uma cerimônia oficial de boas-vindas, à
qual não podia faltar.
A procissão seguiu por uma rua sinuosa de casas com varandas, sempre subindo, até que as
liteiras foram pousadas à entrada de um palácio que consistia em um agrupamento de
estruturas vistosas em forma de botão. Os edifícios principais eram de cor púrpura com pontas
brancas, o que me fazia lembrar dos lupinos à beira da estrada e as flores de ervilha-da-praia
que cresciam em Torre do Cervo. Fiquei parado ao lado da minha liteira, fitando o palácio,
mas, quando me virei para dizer às carregadoras o quanto ele me agradava, elas já tinham ido
embora. Reapareceram minutos depois, vestidas em amarelo-açafrão e azul-celeste, cor de
pêssego e cor-de-rosa, assim como as outras carregadoras, e caminharam conosco,
oferecendo-nos bacias de água perfumada e toalhas de tecido suave para limpar o pó e o
cansaço dos nossos rostos e pescoços. Garotos e jovens em túnicas azuis com cintos
trouxeram vinho de amoras e pequenos bolos de mel. Quando todos os convidados já tinham