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sombra. Dentro da cidade, há espaços reservados para jardins, com flores e árvores
esculpidas, mais habilidosamente tratados do que tudo o que eu alguma vez tinha visto em
Torre do Cervo. Os visitantes deixam as suas criações nesses jardins, e estas podem tomar a
forma de esculturas em pedra ou madeira entalhada, ou criaturas feitas de cerâmica e pintadas
em cores vivas. De certa forma, o local me lembrou o quarto do Bobo, pois em ambos havia
cores e formas expostas com o intuito único de agradar aos olhos.
Os nossos guias nos levaram até uma pastagem fora da cidade e nos disseram que tinha sido
reservada para nós. Após algum tempo, tornou-se evidente que esperavam que deixássemos
ali nossos cavalos e mulas e que prosseguíssemos a pé. Augusto, o líder nominal da caravana,
não lidou com o assunto de forma muito diplomática. Eu me encolhi envergonhado quando ele,
quase com raiva, explicou que tínhamos trazido conosco muito mais do que era possível
carregar sem animais, e que muitos de nós estávamos cansados demais da viagem para que nos
agradasse a ideia de subir o monte a pé. Mordi o lábio e me forcei a ficar quieto e em
silêncio, presenciando a confusão educada dos nossos anfitriões. Com certeza, Majestoso
estava a par desses costumes; por que ele não nos avisou antes, para que não começássemos a
visita exibindo um comportamento grosseiro e inflexível?
Mas as pessoas hospitaleiras que estavam nos assistindo adaptaram-se rapidamente aos
nossos estranhos modos. Pediram-nos que descansássemos e imploraram que fôssemos
pacientes com eles. Por algum tempo ficamos todos em pé por ali, tentando em vão parecer
confortáveis. Bulho e Severino juntaram-se a Mano e a mim. Mano ainda tinha um gole ou dois
de vinho num odre e repartiu conosco, enquanto Bulho, de má vontade, retribuiu, oferecendonos
um pouco de carne defumada em tiras. Conversamos, mas confesso que prestei pouca
atenção à conversa. Desejava ter coragem de ir até Augusto e pedir a ele que se mostrasse
mais aberto aos costumes daquele povo. Nós éramos convidados, e já era suficientemente
ruim que o noivo não tivesse vindo pessoalmente buscar a noiva. Observei à distância
Augusto consultar alguns nobres mais idosos que tinham vindo conosco, mas, pelos
movimentos das mãos e cabeças, deduzi que se limitavam a concordar com ele.
Momentos depois, uma enxurrada de jovens Chyurda, robustos e de ambos os sexos,
apareceu na estrada. Tinham sido chamados para nos ajudar a transportar a nossa carga até a
cidade, e trouxeram tendas de algum lugar para os serventes que ficariam ali tratando dos
cavalos e das mulas. Lamentei bastante que Mano pertencesse ao grupo que seria deixado para
trás. Confiei Fuligem aos cuidados dele. Coloquei no ombro o baú de cedro que continha as
ervas e joguei o meu saco de objetos pessoais em cima do outro ombro. Enquanto me juntava à
procissão daqueles que se dirigiam à cidade, senti o cheiro de carne assando e tubérculos
cozinhando, e vi que os nossos anfitriões armavam um pavilhão com as laterais abertas e
montavam mesas no interior dele. Pensei que Mano não estaria malservido, e quase desejei
não ter mais nada para fazer além de cuidar de animais e explorar essa cidade tão animada.
Não tínhamos andado muito, subindo pela rua sinuosa que levava à cidade, quando fomos
interceptados por uma verdadeira manada de liteiras carregadas por mulheres Chyurda de
estatura elevada. Fomos convidados com muita seriedade a subir nessas liteiras e a sermos
transportados até a cidade, e recebemos muitos pedidos de desculpas pelo fato de a viagem ter
nos desgastado tanto. Augusto, Severino, os nobres mais velhos e a maior parte das damas no
grupo aceitaram essa oferta com muita rapidez e agrado, mas, para mim, era uma humilhação
ser levado para a cidade numa liteira; no entanto, teria sido ainda mais rude recusar a oferta