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numa disputa com um menino grande de doze anos, mas não mostrou medo dos seus punhos, e
os insultos da sua língua afiada rapidamente fez todo mundo ficar rindo dele. Aceitou a vitória
calmamente e deixou-me maravilhado com a sua dureza. Mas os hematomas que exibia na cara
e nos braços magros tinham várias nuances, em tons de roxo, azul e amarelo, enquanto uma
crosta de sangue seco debaixo de uma orelha fazia jus ao seu nome. Mesmo assim, Sangra-
Nariz era cheia de vida, e a sua voz era mais estridente do que o barulho das gaivotas que
rodopiavam em cima de nós. No final da tarde, estávamos eu, Quim e Sangra-Nariz numa
margem rochosa para lá das armações dos pescadores que remendavam as redes, com Sangra-
Nariz me ensinando a procurar nas rochas por moluscos bem agarrados, que ela desgrudava
como uma perita com o auxílio de um pedaço de pau afiado. Estava me mostrando como usar a
unha para arrancar os interiores mastigáveis para fora das conchas, quando outra menina nos
chamou com um grito.
A capa azul e limpa que ondulava em volta dela e os sapatos de couro nos seus pés a
diferenciavam dos meus companheiros. Não veio juntar-se à nossa busca, mas apenas se
aproximou o suficiente para chamar:
– Moli, Moli, ele está te procurando por todo lado! Acordou quase sóbrio há uma hora e
começou a te chamar por nomes feios assim que descobriu que você tinha desaparecido e que
o fogo estava apagado.
Um olhar de desafio misturado com medo percorreu o rosto de Sangra-Nariz.
– Vá embora, Quita, mas leve os meus agradecimentos com você. Eu vou me lembrar de
você da próxima vez que as marés descobrirem as tocas dos caranguejos.
Quita baixou a cabeça num breve sinal de compreensão, virou-se imediatamente e foi
embora pelo caminho por onde tinha vindo.
– Você está com algum problema? – perguntei a Sangra-Nariz, que ainda não tinha voltado a
revirar as pedras à procura de berbigões.
– Problema? – bufou de desdém. – Depende. Se o meu pai conseguir se manter sóbrio
tempo suficiente para me encontrar, posso estar sim em maus lençóis. Mas é mais do que
provável que hoje à noite ele esteja bêbado o suficiente para que nada do que ele atire contra
mim me acerte. É mais do que provável! – repetiu firmemente quando Quim abriu a boca para
contestar. E, com isso, ela voltou à praia rochosa e à nossa busca por berbigões.
Estávamos agachados sobre uma criatura cinzenta cheia de patas que tínhamos encontrado
encalhada numa poça deixada pela maré, quando a batida de uma bota pesada nas rochas
cheias de crustáceos nos fez erguer a cabeça. Com um grito, Quim saiu correndo pela praia,
sem olhar para trás. Narigudo e eu demos um salto, recuando, e Narigudo atirou-se para cima
de mim, os dentes bravamente arreganhados enquanto a cauda fazia cócegas à sua barriguinha
covarde. Moli Sangra-Nariz não foi tão rápida para reagir ou conformou-se ao que iria
acontecer. Um homem desajeitado acertou uma pancada no lado da sua cabeça. Era um homem
magrinho, de nariz vermelho, esquelético, tanto que o seu punho era como um nó no final do
braço ossudo, mas o golpe ainda assim foi suficiente para fazer Moli se estatelar no chão.
Crustáceos cortaram os joelhos dela, avermelhados pelo vento e, enquanto ela engatinhava
para o lado a fim de evitar o chute desajeitado que ele lhe apontava, estremeci ao ver os
novos cortes encherem-se de areia salgada.
– Cabrita infiel! Não te disse para ficar em casa e tomar conta da mistura? E aqui venho te
encontrar batendo perna na praia, com o sebo endurecendo na panela. Na torre vão querer