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veneno, rápido e mortífero e tão insípido quanto água, que poderia empregar, caso
descobrisse uma forma de garantir que ele o tomaria num futuro suficientemente distante.
Nenhum desses pensamentos me conduzia ao sono e, apesar disso, o ar fresco e o exercício de
cavalgar o dia inteiro eram normalmente suficientes para isso, e eu com frequência acordava
ansioso por mais um dia de viagem.
Quando finalmente avistamos o Lago Azul, foi como se visse um milagre a distância.
Tinham se passado anos desde a última vez em que havia estado tanto tempo longe do mar, e
me surpreendeu o prazer com que avistei a grande extensão de água. Todos os animais na
caravana encheram os meus pensamentos com o aroma limpo da água. A paisagem tornava-se
mais verde e menos agreste à medida que nos aproximávamos do grande lago, e foi difícil
fazer com que os cavalos não pastassem demais nessa noite.
Hordas de barcos à vela exerciam o seu ofício mercante no Lago Azul. Tinham velas
coloridas de forma que indicavam não só o que vendiam mas também para que família
velejavam. Os povoados ao longo do Lago Azul eram alicerçados em palafitas construídas
sobre as águas. Fomos bem recebidos lá, e nos banqueteamos com peixe de água-doce, o qual
tinha um sabor estranho para o meu paladar habituado ao sabor do mar. Senti-me um grande
viajante, e Mano e eu ficamos quase transbordantes de orgulho quando algumas moças de
olhos verdes de uma família de mercadores de grãos vieram ficar conosco à nossa fogueira,
uma noite, todas aos risinhos. Traziam com elas pequenos tambores, de cores vivas, cada um
afinado para um tom diferente, e tocaram e cantaram para nós até que as mães vieram à
procura delas, e ralharam com elas, levando-as de volta para casa. É uma experiência que
sobe à cabeça de um rapaz, e o príncipe Rurisk nem passou pela minha cabeça nessa noite.
Seguimos para oeste e norte, atravessando o Lago Azul em barcaças de fundo raso nas quais
senti pouca confiança. Do outro lado do lago, subitamente nos encontramos no meio de um
território florestal, e os dias quentes de Vara se transformaram numa memória saudosa. O
caminho nos levou através de imensas florestas de cedro, salpicadas aqui e ali de
aglomerados de bétulas de papel branco e pinceladas em áreas queimadas com amieiro e
salgueiro. Cascos dos nossos cavalos bateram na terra negra da trilha da floresta, e os odores
doces do outono estavam por toda a parte. Vimos pássaros desconhecidos, e uma vez
vislumbramos um grande veado de uma cor e tipo que nunca tinha visto antes nem voltaria a
ver alguma vez na vida. O pasto da noite para os cavalos não era bom e ficamos satisfeitos
com grãos que havíamos comprado do povo do lago. Acendemos fogueiras à noite, e Mano e
eu dividimos a tenda.
O nosso caminho subia agora por um monte. Seguimos a trilha serpenteada entre as encostas
mais inclinadas, mas estávamos já, sem dúvida, subindo as montanhas. Uma tarde, nós nos
encontramos com uma delegação de Jhaampe, enviada para nos saudar e guiar. Depois disso,
parecia que viajávamos mais depressa, e a cada noite éramos entretidos por músicos, poetas e
malabaristas, e nos banqueteávamos com os seus petiscos. Todos os esforços possíveis eram
realizados em nossa honra e para nos fazer sentir bem-vindos. Mas eram diferentes de nós a
ponto de eu os achar estranhos e quase amedrontadores. Com frequência eu era forçado a me
lembrar tanto do que Bronco quanto do que Breu haviam me ensinado sobre boas maneiras,
enquanto o pobre Mano evitava qualquer contato com esses novos companheiros de viagem.
A maior parte deles eram Chyurda e, fisicamente, como eu tinha esperado que fossem: gente
alta, pálida, de cabelos e olhos claros, alguns com cabelos tão ruivos quanto uma raposa.