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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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veneno, rápido e mortífero e tão insípido quanto água, que poderia empregar, caso

descobrisse uma forma de garantir que ele o tomaria num futuro suficientemente distante.

Nenhum desses pensamentos me conduzia ao sono e, apesar disso, o ar fresco e o exercício de

cavalgar o dia inteiro eram normalmente suficientes para isso, e eu com frequência acordava

ansioso por mais um dia de viagem.

Quando finalmente avistamos o Lago Azul, foi como se visse um milagre a distância.

Tinham se passado anos desde a última vez em que havia estado tanto tempo longe do mar, e

me surpreendeu o prazer com que avistei a grande extensão de água. Todos os animais na

caravana encheram os meus pensamentos com o aroma limpo da água. A paisagem tornava-se

mais verde e menos agreste à medida que nos aproximávamos do grande lago, e foi difícil

fazer com que os cavalos não pastassem demais nessa noite.

Hordas de barcos à vela exerciam o seu ofício mercante no Lago Azul. Tinham velas

coloridas de forma que indicavam não só o que vendiam mas também para que família

velejavam. Os povoados ao longo do Lago Azul eram alicerçados em palafitas construídas

sobre as águas. Fomos bem recebidos lá, e nos banqueteamos com peixe de água-doce, o qual

tinha um sabor estranho para o meu paladar habituado ao sabor do mar. Senti-me um grande

viajante, e Mano e eu ficamos quase transbordantes de orgulho quando algumas moças de

olhos verdes de uma família de mercadores de grãos vieram ficar conosco à nossa fogueira,

uma noite, todas aos risinhos. Traziam com elas pequenos tambores, de cores vivas, cada um

afinado para um tom diferente, e tocaram e cantaram para nós até que as mães vieram à

procura delas, e ralharam com elas, levando-as de volta para casa. É uma experiência que

sobe à cabeça de um rapaz, e o príncipe Rurisk nem passou pela minha cabeça nessa noite.

Seguimos para oeste e norte, atravessando o Lago Azul em barcaças de fundo raso nas quais

senti pouca confiança. Do outro lado do lago, subitamente nos encontramos no meio de um

território florestal, e os dias quentes de Vara se transformaram numa memória saudosa. O

caminho nos levou através de imensas florestas de cedro, salpicadas aqui e ali de

aglomerados de bétulas de papel branco e pinceladas em áreas queimadas com amieiro e

salgueiro. Cascos dos nossos cavalos bateram na terra negra da trilha da floresta, e os odores

doces do outono estavam por toda a parte. Vimos pássaros desconhecidos, e uma vez

vislumbramos um grande veado de uma cor e tipo que nunca tinha visto antes nem voltaria a

ver alguma vez na vida. O pasto da noite para os cavalos não era bom e ficamos satisfeitos

com grãos que havíamos comprado do povo do lago. Acendemos fogueiras à noite, e Mano e

eu dividimos a tenda.

O nosso caminho subia agora por um monte. Seguimos a trilha serpenteada entre as encostas

mais inclinadas, mas estávamos já, sem dúvida, subindo as montanhas. Uma tarde, nós nos

encontramos com uma delegação de Jhaampe, enviada para nos saudar e guiar. Depois disso,

parecia que viajávamos mais depressa, e a cada noite éramos entretidos por músicos, poetas e

malabaristas, e nos banqueteávamos com os seus petiscos. Todos os esforços possíveis eram

realizados em nossa honra e para nos fazer sentir bem-vindos. Mas eram diferentes de nós a

ponto de eu os achar estranhos e quase amedrontadores. Com frequência eu era forçado a me

lembrar tanto do que Bronco quanto do que Breu haviam me ensinado sobre boas maneiras,

enquanto o pobre Mano evitava qualquer contato com esses novos companheiros de viagem.

A maior parte deles eram Chyurda e, fisicamente, como eu tinha esperado que fossem: gente

alta, pálida, de cabelos e olhos claros, alguns com cabelos tão ruivos quanto uma raposa.

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