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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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os pergaminhos e tábuas. Houve uma noite em que acordei com um alto relincho de Fuligem e

pensei que o baú de cedro tivesse sido ligeiramente movido de onde eu o havia colocado. Mas

uma rápida verificação do seu conteúdo provou que tudo estava em ordem e, quando

mencionei a ocorrência a Mano, ele apenas me perguntou se eu estava pegando a doença de

Bulho.

Os lugarejos e rebanhos por que passávamos nos abasteciam frequentemente com comidas

frescas e eram muitíssimo generosos na oferta, de forma que sofremos poucas privações

durante a jornada. Por outro lado, a água não era tão abundante em Vara como desejávamos,

mas, de qualquer forma, todos os dias encontrávamos alguma fonte ou poço poeirento e,

portanto, nem isso foi tão ruim quanto poderia ter sido.

Vi Bronco muito pouco. Levantava-se mais cedo do que o resto de nós e precedia a

caravana, de forma que os animais a seu cargo pudessem obter o melhor pasto e a água mais

limpa. Sabia que ele ia querer os cavalos em perfeitas condições quando chegássemos a

Jhaampe. Augusto, também, era quase invisível. Embora fosse tecnicamente o responsável

pela expedição, deixava a gestão a cargo do capitão da sua guarda de honra. Eu não conseguia

saber se ele fazia isso por ser sensato ou preguiçoso. De qualquer forma, mantinha-se a maior

parte do tempo afastado e solitário, embora deixasse Severino assisti-lo, partilhando com ele

a tenda e as refeições.

Da minha parte, era quase como retornar a uma espécie de infância. As minhas

responsabilidades eram muito limitadas. Mano era um companheiro simpático e precisava de

muito pouco encorajamento para me presentear com uma narrativa do seu vasto repertório de

relatos e fofocas. Às vezes, passava-se quase um dia inteiro antes de eu me lembrar de que, no

fim dessa viagem, teria de matar um príncipe.

Tais pensamentos vinham normalmente à minha cabeça quando acordava no meio da noite.

O céu noturno sobre Vara parecia muito mais carregado de estrelas que sobre Torre do Cervo,

e eu as fitava e mentalmente treinava maneiras de eliminar Rurisk. Havia outro baú,

minúsculo, guardado cuidadosamente dentro do saco que trazia as minhas roupas e bens

pessoais. Tinha-o preparado com muita atenção e ansiedade, pois essa missão teria de ser

executada com perfeição. Teria de ser executada com limpeza, sem provocar sequer a sombra

de uma suspeita. Além disso, era essencial que as coisas acontecessem na ordem certa. O

príncipe não deveria morrer enquanto estivéssemos em Jhaampe. Nada poderia projetar a

menor sombra sobre as núpcias. Nem deveria morrer antes que as cerimônias em Torre do

Cervo acontecessem e que o casamento fosse consumado, pois isso poderia ser visto como um

mau agouro para o casal. Não seria uma morte fácil de planejar.

Às vezes, perguntava a mim mesmo por que é que essa tarefa tinha sido confiada a mim e

não a Breu. Seria algum tipo de teste, um teste em que o fracasso significaria a minha pena de

morte? Era Breu muito velho para esse desafio, ou muito valioso para ser arriscado nisso?

Seria a prioridade de Breu simplesmente zelar pela saúde de Veracidade? Quando conseguia

forçar a minha mente a evitar essas questões, ficava me perguntando se eu deveria usar um pó

que irritasse os pulmões danificados de Rurisk de forma que a tosse piorasse até matá-lo.

Talvez pudesse polvilhar os seus travesseiros e cama com o veneno. Ou talvez pudesse lhe

oferecer um remédio para dor, um que lentamente o viciasse e que o atraísse para um sono de

morte? Tinha um tônico que fluidificava o sangue. Se os pulmões dele já sangravam

cronicamente, talvez fosse suficiente para despachá-lo de vez. Trazia também comigo um

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