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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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a fila irregular se formasse, e que o colocar e o atar de correias a fardos de última hora

terminassem. Então, quase abruptamente, os estandartes foram erguidos, uma trombeta foi

tocada, e a fila de cavalos, animais de carga carregados e gente começou a se mover. Olhei

uma vez para cima e vi que Veracidade tinha vindo para fora, tinha se colocado no topo da

torre e observado a nossa partida. Acenei para ele, mas duvido que me reconhecesse no meio

de tantos. E então estávamos fora dos portões, seguindo pelo caminho montanhoso que nos

levaria para longe de Torre do Cervo e para oeste.

O nosso caminho nos levaria pelas margens do rio Cervo, que percorreríamos nos extensos

baixios perto do local onde as fronteiras dos Ducados de Cervo e Vara se tocavam. Daí,

atravessaríamos as largas planícies de Vara, sob um calor escaldante que nunca tinha

experimentado antes, até chegarmos ao Lago Azul. Do Lago Azul, seguiríamos um rio que se

chamava simplesmente Frio, cujas fontes eram no Reino da Montanha. No Vau do Frio

começava a estrada de mercadores, que seguia entre as montanhas e através das florestas,

sempre subindo, até o Desfiladeiro das Tempestades, e daí rumo às densas florestas verdes

dos Ermos Chuvosos. Não iríamos tão longe, mas pararíamos em Jhaampe, que era o povoado

mais parecido com uma cidade que o Reino da Montanha possuía.

Em certos aspectos, aquela foi uma viagem com muito pouco de extraordinário, se forem

descontados todos os incidentes que inevitavelmente acontecem durante essas jornadas.

Depois dos primeiros três dias, estabeleceu-se uma rotina notavelmente monótona, variada

apenas pelas paisagens diferentes por que passávamos. Cada pequena aldeia ou lugarejo ao

longo da estrada aparecia para nos saudar e atrasar, oferecendo-nos os seus melhores votos

oficiais e felicitações para as festividades de núpcias do Príncipe Herdeiro.

Depois de chegarmos às extensas planícies de Vara, esses lugarejos tornaram-se bastante

raros e longínquos. As chácaras prósperas e cidades mercantis de Vara ficavam longe, a norte

do nosso caminho, ao longo do rio Vim. Atravessamos as planícies de Vara, onde a população

era constituída sobretudo de pastores nômades, que formavam aldeias apenas quando se

instalavam ao longo das rotas de mercadores, nos meses de inverno, o qual chamavam de

“estação verde”. Passamos por rebanhos de ovelhas, cabras, cavalos ou, mais raramente,

suínos perigosos e esguios que eles chamavam de haragares, mas o nosso contato com as

pessoas da região era normalmente limitado à visão de suas tendas cônicas ao longe ou de

algum pastor levantado na sela, segurando alto o seu cajado em um gesto de saudação.

Mano e eu retomamos a nossa familiaridade. Partilhávamos as refeições e a pequena

fogueira que utilizávamos para cozinhar à noite, e ele me deliciava com narrativas das

preocupações de Severino: pó que se juntava nas vestes de seda, insetos que se enfiavam nos

colarinhos de pele, veludo que ia se puindo em pedaços pela longa jornada. Mais sombrias

eram as suas queixas sobre Bulho. Eu próprio não tinha memórias agradáveis daquele homem,

e Mano o achava um companheiro de viagem opressivo, pois parecia suspeitar constantemente

que Mano tentava roubar os embrulhos de pertences de Majestoso. Uma noite, Bulho acabou

vindo à nossa fogueira, onde, com muito trabalho, nos deu um aviso vago e indireto contra

qualquer um que pudesse ser parte de uma conspiração para roubar o seu senhor.

O bom tempo continuou e, embora suássemos bastante de dia, as noites eram muito amenas.

Eu dormia em cima do cobertor e raramente me dava ao trabalho de procurar qualquer outro

abrigo. Todas as noites, checava os conteúdos da minha arca e tentava evitar, o melhor

possível, que as raízes ficassem completamente desidratadas e que o movimento desgastasse

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