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– Sim.
– Você faz um favor para mim, garoto?
– Claro – disse, surpreso com a sua voz rouca.
– Fale bem de mim para a princesa. E atenção: fale a verdade. Não peço que você minta.
Mas fale bem de mim. Sempre achei que você gostava de mim.
– Sim – disse para as suas costas que se afastavam. – Sim, senhor. – Mas ele não se virou
nem respondeu, e eu me senti um pouco da mesma forma quando o Bobo me deixou.
O terraço estava um alvoroço de pessoas e animais. Não havia carroças desta vez; as
estradas que levavam às montanhas eram notoriamente ruins e tinha ficado decidido que os
animais de carga seriam suficientes, em nome da rapidez. Não era aceitável que o séquito real
chegasse tarde para o casamento; era suficientemente ruim que o noivo não estivesse presente.
Os rebanhos tinham sido enviados à frente, dias antes. Era esperado que a nossa viagem
demorasse duas semanas, e tinham sido reservadas três semanas para ela. Tratei de prender o
baú de cedro a um animal de carga e, em seguida, parei ao lado de Fuligem e esperei. Mesmo
no terraço pavimentado, o pó pairava espesso no ar quente de verão. Apesar de todo o
cuidadoso planejamento despendido, a caravana ainda assim parecia caótica. Vi de relance
Severino, o criado preferido de Majestoso. Majestoso o tinha enviado de volta a Torre do
Cervo havia um mês, com instruções específicas a respeito de certas vestes que desejava que
fossem confeccionadas para seu uso. Severino seguia Mano, agitado e discutindo alguma coisa
e, fosse lá o que fosse, Mano não parecia muito paciente. Quando Dona Despachada me deu as
últimas instruções sobre como cuidar das minhas novas vestes, disse que Severino levava
tantas vestes, chapéus e acessórios novos para Majestoso que tinham sido reservados para ele
três animais de carga para carregar tudo. Imaginei que o tratamento desses três animais tivesse
sido conferido a Mano, pois Severino era um excelente camareiro, mas tinha medo de animais
grandes. Bulho, o homem para todos os serviços de Majestoso, seguia-os, firme, malhumorado
e impaciente. Sobre um dos grandes ombros carregava mais uma arca, e era talvez o
transporte desse item adicional que deixava Severino nervoso. Logo eu os perdi no meio da
multidão. Surpreendeu-me descobrir Bronco verificando as guias dos cavalos de reprodução e
da égua de presente para a Princesa. Com certeza, quem estivesse encarregado deles poderia
fazer isso, pensei. E então, quando o vi montar, percebi que ele também era parte da
procissão. Olhei em volta para ver quem o acompanhava, mas não vi nenhum dos rapazes do
estábulo que conhecia, com exceção de Mano. Garrano já estava em Jhaampe, com Majestoso.
Portanto, Bronco tinha assumido ele mesmo essa tarefa. O que não me surpreendia.
Augusto estava ali, montado numa elegante égua cinzenta, esperando com uma
impassibilidade que era quase inumana. O tempo que tinha passado no círculo já o tinha
mudado. Tempos atrás, era um jovem cheinho, sossegado, mas simpático. Tinha o mesmo
cabelo negro e farto de Veracidade, e ouvi dizer que se parecia muito com o primo, quando
este era garoto. Imaginei então que, à medida que os seus deveres no uso do Talento
aumentassem, provavelmente se pareceria ainda mais com Veracidade. Estaria presente no
casamento como uma espécie de janela para Veracidade, enquanto Majestoso pronunciasse os
votos em nome do irmão. A voz de Majestoso, os olhos de Augusto, devaneei. E eu ia como o
quê? O seu punhal?
Montei Fuligem, para ficar longe das pessoas que trocavam despedidas e instruções de
última hora. Pedi a Eda que nos puséssemos a caminho. Pareceu levar uma eternidade até que