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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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viagens e...

– Normalmente, quando está viajando, não corre o risco de ser envenenado.

– Há alguma coisa que você gostaria de me dizer?

Tentei fazer o meu tom de voz soar leve e brincalhão. Sentia falta das habituais caras

irônicas e zombarias do Bobo nesta conversa.

– Apenas que seria sábio da sua parte comer alimentos leves, ou não comer, em hipótese

alguma, nenhuma comida que você mesmo não tenha preparado.

– Em todos os banquetes e festas que vão acontecer lá?

– Não. Apenas naqueles que você queira sobreviver – virou as costas para ir embora.

– Peço desculpas – disse apressadamente. – Não tinha intenção de me intrometer. Fui te

procurar, e estava tão quente, e a porta não estava trancada, por isso entrei. Não tinha intenção

de bisbilhotar.

As costas dele continuaram viradas para mim enquanto perguntou:

– E você achou divertido o que viu?

– Eu... – não consegui pensar em nada para dizer, de um jeito que eu garantisse a ele que o

que eu tinha visto ficaria apenas na minha cabeça.

Ele deu dois passos para a frente e estava já encostando a porta. Eu deixei escapar:

– Eu desejei que houvesse um lugar que fosse tanto eu como aquele lugar é você. Um lugar

que eu também pudesse manter em segredo.

A porta parou à distância de uma mão de se fechar.

– Preste atenção a este conselho e talvez sobreviva à viagem. Quando considerar a

motivação de um homem, lembre-se de que não deve julgar o trigo dele com a sua medida.

Afinal, pode ser que ele não use o mesmo padrão que você.

A porta se fechou e o Bobo foi embora. Mas suas últimas palavras tinham sido enigmáticas

e frustrantes o suficiente para me deixarem pensando que talvez ele tivesse perdoado a minha

invasão.

Enfiei a purga-do-mar no gibão, não a querendo, mas receoso de deixá-la. Olhei o quarto

em volta de relance, mas como sempre era um lugar vazio e prático. Dona Despachada tinha

cuidado da minha bagagem, não confiando a mim a responsabilidade de arrumar as roupas

novas. Eu tinha notado que o cervo marcado da minha insígnia tinha sido substituído por um

cervo com seus cornos baixados.

– Veracidade ordenou que ficasse assim – foi o que ela me disse quando lhe perguntei sobre

o assunto. – Gosto mais do que do cervo marcado. Você não?

– Acho que sim – respondi, e a conversa parou ali. Um nome e uma insígnia. Balancei a

cabeça para mim mesmo, peguei o baú de ervas e rolos de pergaminho e desci para me juntar

à caravana.

Enquanto ia descendo os degraus, encontrei Veracidade, que vinha subindo. A princípio,

quase não o reconheci, pois subia as escadas como um velho ranzinza. Fiquei de lado para

deixá-lo passar e o reconheci quando me olhou de relance. É uma coisa estranha ver um

homem, uma vez tão próximo, daquela maneira, encontrado por acaso como um estranho.

Notei como as roupas estavam desalinhadas sobre ele e como o cabelo negro e farto de que eu

me lembrava tinha agora traços grisalhos. Esboçou um sorriso ausente e, então, como se

tivesse lhe ocorrido de repente, me parou.

– Vai partir para o Reino da Montanha? Para a cerimônia do casamento?

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