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– Você. Eu. Até mesmo Veracidade, se ele achasse isso necessário para a sobrevivência do
reino – então ele se virou para me olhar. – Nunca se esqueça disso – disse.
Na noite antes de a comitiva do casamento partir de Torre do Cervo, Renda veio bater à
minha porta. Era tarde e, quando me disse que Paciência desejava me ver, perguntei
tolamente:
– Agora?
– Bem, você parte amanhã – observou Renda, e eu a segui obedientemente, como se isso
fizesse sentido.
Encontrei Paciência sentada numa cadeira almofadada, com uma túnica extravagantemente
bordada sobre as vestes de dormir.
O cabelo dela batia nos ombros e, enquanto eu me sentava onde me indicou, Renda
recomeçou a escová-lo.
– Fiquei esperando que você viesse me pedir desculpas – observou Paciência.
Abri imediatamente a boca para fazer isso, mas ela fez um gesto irritado com a mão para
que eu me calasse.
– Mas, ao discutir o assunto com Renda esta noite, descobri que já tinha te desculpado.
Rapazes, entendi, têm simplesmente uma certa dose de rudeza que necessitam expressar.
Entendi que você não tinha intenção de me ofender com a sua atitude; portanto, não há motivo
para você me pedir desculpas.
– Mesmo assim, sinto que lhe devo desculpas – protestei. – Apenas não consegui decidir
como deveria dizer...
– Agora é tarde demais para me pedir desculpas, visto que já te perdoei – disse ela
bruscamente. – Além disso, não há tempo. Tenho certeza de que você já devia estar dormindo
a esta hora. Mas como esta é a sua primeira verdadeira incursão na vida da corte, queria te
dar uma coisa antes de você partir.
Abri a boca e fechei-a logo outra vez. Se ela queria considerar essa a minha primeira
verdadeira incursão na vida da corte, não ia discutir isso com ela.
– Sente-se aqui – disse imperiosamente, e apontou para um lugar a seus pés.
Fui e me sentei obedientemente. Pela primeira vez, notei a pequena caixa que estava em
cima do colo dela. Era de madeira escura, com um veado entalhado na tampa, em baixorelevo.
Quando a abriu, senti um perfume de madeira aromática. Tirou de dentro dela um
brinco e segurou-o perto da minha orelha.
– Pequeno demais – murmurou. – Qual é o propósito de usar joias quando ninguém pode vêlas?
Segurou e descartou vários outros, com comentários semelhantes. Finalmente pegou um que
era como um pedaço de rede prateada com uma pedra azul presa nele. Fez uma careta ao olhar
para ele e assentiu com a cabeça relutantemente.
– Aquele homem tem gosto. Independentemente de todo o resto de que precisa, tem bom
gosto.
Segurou o brinco próximo da minha orelha outra vez e, sem nenhum aviso, enfiou o brinco
no meu lóbulo.
Soltei um berro e levei a mão à orelha, mas ela a afastou com um tapa.
– Não seja uma criancinha. Vai doer por um minuto apenas. – Havia uma espécie de fecho
que o prendia atrás da orelha, e ela dobrou a minha orelha com os dedos, sem misericórdia,